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domingo, 2 de janeiro de 2011

Origem do Patriarcado - A IDEOLOGIA DAS DIFERENÇAS ENTRE OS SEXOS 4

Questões materiais sobre uso do corpo humano
e o papel dos homens de co-produtores
De um modo geral, o processo de desenvolvimento anatômico humano foi determinado por nosso trabalho com a madeira, as pedras e os ossos. Mas a grande transformação social organizada da realidade material humana, só ocorreu mesmo após a Revolução Neolítica.
Resumidamente, o modo de produção sexual estava dividido entre as mulheres que desenvolviam a agricultura e os homens que pastoravam os animais.
Toda via entendermos que o cerne da questão aqui não é a biologia dos corpos, mas o planejamento e organização do projeto social humano capaz de promover a transcendência das condições de completa submissão ao simples estado natural.
Assim, não foi a biologia de nossos corpos o fator que determinou quais atividades transformadoras seriam desenvolvidas pelos diferentes sexos, mas foram os diferentes sexos que se organizaram em volta de atividades capazes de promover nossa transformação. Não é a biologia quem define as ações sociais, mas foram as ações sociais que, por necessidade ou conveniência, definiram de que modo usar nossa biologia.
Ao trabalhar e se organizar, construindo o mundo para si, a humanidade conseguiu construir a si mesma, com todos os conflitos e contradições que significam sermos o que somos hoje. O que não nos impede, e nem impediu, de novas transcendências.

O trabalho que mudou a consciência humana
Nas regiões desérticas da Palestina, por exemplo, em épocas de seca, os pastores de animais eram obrigados a subir as diversas cadeias de montanhas rochosas, em busca de alimentar o gado e, assim, garantir parte da sobrevivência das tribos seminômades.
Com os sucessivos partos que a natureza exigia das mulheres, a agricultura se constituía, racionalmente, como o trabalho a ser desenvolvido pelas fêmeas de nossa espécie, pois nela não ocorriam os mesmo deslocamentos geográficos exigidos no pastoreio.
É fato que a maternidade sempre existiu. É fato que o trabalho agrícola nunca foi mais ou menos pesado que o pastoreio. Como também é fato que as mulheres poderiam sim subir montanhas, da mesma maneira que fugiam grávidas de seus predadores naturais, em épocas mais primitivas. Se o pastoreio fosse feminino, os seres da época estariam negando seu potencial humano de desenvolvimento, racionalidade, adaptação e transcendência.

A intensa reprodução animal
Sabemos que os animais se reproduzem com muito mais velocidade que nós, e por isso é que são o que são: apenas animais. Por tal foi se tornando cada vez mais necessário que mais pessoas cuidassem do gado.
Porém graças ao equilíbrio alimentar, ocorreu o crescimento populacional, não por reprodução intensiva humana, mas pela diminuição da alta mortalidade natural. Isso gerou um problema de habitação e as novas populações passaram a ocupar os terrenos ao redor das tribos.
Como o fenômeno da reprodução não ocorre nas plantações do mesmo modo que com os animais e o alimento que se produz para uma tribo, não pode jamais alimentar toda uma vila, foi necessário ampliar as terras cultiváveis.
Uma reorganização na divisão dos bens produzidos ocorreu. Logo, a endogamia (relações sexuais entre membros da mesma comunidade) foi substituída e as terras deixaram de pertencer a toda a comunidade, sendo direcionadas para as linhagens parentais maternas.


O papel dos homens de co-reprodutores animais
Só devido a primeira divisão sexual do trabalho que, ao serem afastados uns dos outros por jornadas tempo maiores, tanto mulheres quanto homens perceberam a diminuição da freqüência da gravidez. E isso foi um grande avanço de conhecimento sobre seus corpos.
Devido “o tempo livre” que existia no andamento do pastoreio, foi possível aos homens observar os animais copulando nos pastos. E desta observação “ociosa” surgiu à percepção e a consciência do papel co-reprodutivo masculino e, logicamente, com tal ciência, ajudou a quebrar o paradigma que induzia ao culto da fertilidade feminina, pois tal conhecimento não mudou apenas os homens, mas mudou também a consciência das mulheres.
Dada a dinâmica de interdependência social humana, os resultados de milhares de anos de trabalho e a descoberta do funcionamento biologia reprodutiva, mudanças nas relações pessoais e coletiva ocorram, dando a origem da família sindiásmica, ou seja, protopatriarcal.
As relações consanguíneas de linha materna passam por uma transformação e agora ao lado da mãe, existia o pai biológico. Cresce a importância da propriedade familiar e a exigência da monogamia é instituída como forma de garantir os recursos alimentares dentro do núcleo social restrito biológico. Eis a passagem do matriarcado para o patriarcado.
O papel social paterno
Foi nas localidades onde a água e a produção de alimentos era mais escassa, onde existiam muito mais condições geográficas impedindo que as tribos pudessem garantir sua sobrevivência, onde vales férteis surgiam em menor número e em meio a longos desertos, onde a geografia não operava com tanto empecilho para o distanciamento das tribos que a dominação de territórios tornou-se uma necessidade ainda mais imediata para os povos.
A concentração privada dos meios de produção dentro das famílias sindiásmicas produziu a animalização do corpo feminino. Induzidas a posição de objeto de simples reprodução, como toda coisa, nós mulheres fomos tornadas um bem material (re)produtivo.
Esta condição seria “confirmada” com as guerras de dominação territorial, pois se antes os sobreviventes de disputas eram introduzidos nos seios das comunidades e adotados como “irmãos”, relacionando-se sexualmente como os membros da comunidade, para poderem elaborar os trabalhos que garantiam a sobrevivência de toda a tribo, agora introduzir qualquer “macho estranho” no seio familiar significava um perigo para o crescente reconhecimento do poder masculino.
Por estarem cientes do seu papel de co-reprodutores, os machos, com apoio da comunidade, afastam as mulheres do espaço público, agora ocupadas pelos escravos.
Em Atenas, por exemplo, onde o culto ao masculino permitia a relação sexual entre “iguais” (homens), um dos parâmetros que temos sobre a debilidade física se encontra na obra Econômico, de Xenofonte (IV a.C.).

No livro o autor fala a Sócrates como o marido Iscomaco instruiu sua esposa para cuidar do lar, mostrando-lhe os motivos do casamento e as tarefas do marido e da mulher, para também descrever os motivos pelos quais os trabalhos designados para as mulheres seriam “degradantes” (para ler, click nas fotos ao lado).
No serviço doméstico, muitos trabalhos pesados eram realizados por mulheres escravas, sob a vigilância e orientação da senhora da casa, como esmagar e moer os grãos, cozinhar o pão, fiar, tecer, bordar. Alguns desses escravos participavam da vida familiar mais de perto, como as amas.
Assim, o parto passa a ser função das esposas dos donos de gado e terras, a fim de perpetuarem não apenas a espécie, mas o patriarcado como um todo.
Dominar pessoas significará então a libertação masculina dos árduos serviços transformadores da natureza, não por simples psicologia de dominação, mas por possibilitar uma exploração humana maior capaz de gerar cada vez mais produção e acúmulo de poder, ou seja, de poder patriarcal.
É exatamente aí que se instituí a doutrina do Famullus (ou seja, o pátrio poder). Direito que designa ao homem dominante por guerras o poder de morte sobre qualquer membro que componha seu Famullus (núcleo social formado pelo dono das terras e do gado, pela mulher/esposa, filhos e escravos).
O fato é que a transformação da guerra em trabalho masculino resultou em um aprofundamento das contradições de gênero e numa nova divisão social do trabalho. Que tomou proporções de exclusão sexual das mulheres. Então era o poder econômico quem determina o direito patriarcal sobre os corpos e o produto de seu trabalho. E a vigilância constante e a violência mantinham sobre controle os comportamentos dissidentes ao patriarcado.
Estabelecem-se aqui os padrões de comportamento que replicam ideologicamente quem são os dominantes e os dominados. E a principal oposição para determinar quem deve ser o outro é o modelo da fragilidade física surgida do afastamento da atividade agrícola e do desgaste da maternidade intensiva. A xenofobia, o racismo e a homofobia surgem a partir deste padrão, pois também buscam na diferença biológica e social as justificativas para a exploração alheia.

Os homens como segregadores e produtores de violência coesiva

Nas guerras de expansão estuprar mulheres passou a significava a confirmação da dominação dos territórios. E assim também confirmar o poder masculino, o poder do povo dominador, do acúmulo de propriedades privadas, o poder de um homem sobre outro, o poder sobre os escravos, ou seja, o poder nascido do patriarcado. A institucionalização do estupro como arma de guerra (que ocorria inclusive em sociedade onde ainda não havia repressão sobre a homossexualidade), ajudou a nortear ainda mais a proibição do comportamento sexual entre homens.
Sabemos que a violência institucional é um instrumento coesivo do Estado patriarcal. Que sempre foi/é política de diferentes governos promoverem esterilização, clitorectomia e apedrejamento em mulheres. Que o estupro é uma arma de guerra. Que a violência sexual é comum dentro das famílias nucleares patriarcais. Que o tráfico sexual atinge mulheres excluídas socialmente, etc.
Precisamos muitas vezes nos questionar o quê é ou não violência? Violência é ter todo um aparato de Estado que pode usar quando bem quer sua força em nome da ordem instutuida pelo proprio Estado? Sim. Violência é se defender das desigualdades sociais que em silêncio minguam milhares de vidas pregando uma insurreição feminista? Não. Violência é sofrer agressões do Estado e ter que pedir repação ao próprio violentador? Com certeza. Violento foi/é o modo como o patriarcado se mantém as custas de negros sequestrados pela escravidão que hoje moram sobre as grades ou sobre mocambos, ou o tráfico de brancas da Polônia e o estupro de nativas e negras que embranqueceram as etnias aculturando-as, ou saber que a miséria é um produto social que desperdiça alimentos, prende mães e pais pobres em garantia das propriedades privadas produtoras de trangênicos. Violênta é a escravidão de nosso corpo, no máximo reagir a isso é um impulso vivo de revolta ou legitima defesa.
Viva o Movimento Feminista!

Patrick Monteiro e Ana Clara Marques
(Grupo Revolucionário de Intervenção Feminista Maçãs Podres)

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