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Enfim assuntos sobre o passado e sobre nosso cotidiano relacionado à História do Brasil e do Mundo.








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quarta-feira, 30 de março de 2011

Debate expõe desigualdades de Salvador nestes 462 anos

Eliane Costa

Reunir dois grandes historiadores, Luís Henrique Dias Tavares e Ubiratan Castro de Araújo, para falar da construção de Salvador foi o ponto inicial de um ciclo de debates que a Fundação Maurício Grabois pretende fazer para discutir os problemas da cidade. O encontro realizado na noite desta segunda-feira (28/3), na Biblioteca Central dos Barris foi também uma homenagem aos 462 anos da capital baiana, que foi fundada em 29 de março de 1549 para ser a capital do Império Português na América.

Contar a história de Salvador não é tarefa fácil, já que muito deste período está envolvido na névoa da falta de registros precisos. A própria data de fundação da cidade foi determinada apenas em meados do século XX, após inúmeras discussões de estudiosos sobre o tema. “Depois de muitos debates, ficou definida que a data a ser comemorada seria o dia do desembarque de Thomé de Souza na Baía de Todos os Santos. A partir daí, a cidade começou a ser construída e não parou nunca mais”, informou o professor Ubiratan Castro de Araújo.

O historiador lembrou ainda que os portugueses não fundaram apenas uma cidade, mas um núcleo colonial auto-sustentável que seria a sede do Governo de Portugal no continente Americano. “Foi também o estabelecimento da ordem e da lei, que antes não existiam. Então podemos dizer, que a fundação de Salvador marca também a chegada do Governo Português ao Brasil. Neste aspecto, Salvador se assemelha a Brasília, cidade projetada para ser a capital do país”, declarou Araújo.

Cidade desigual

Para o professor Ubiratan Castro, que também é um estudioso das questões étnico-raciais, a desigualdade social que persiste até hoje começou a ser construída já nos primeiros anos de existência a cidade. “O Estado Português chegou de fora, se sobrepondo sobre a população local, criando uma diferença entre os aldeões e os nativos da terra, estabelecendo a exploração colonial. Hoje a cidade mudou muito, mas mantém muito de suas características. Salvador é uma cidade portuária, voltada para o comércio e extremamente desigual. O que era no momento da criação é hoje. Os gentios e a elite. Os portugueses formavam uma elite de cristãos. Os gentios não tinham direito á terra, não tinham direito a armas, não tinham direito à defesa, não tinham direito a nada”.

“Hoje você ainda tem o corte entre a elite e o povo, tem uma sobreposição de poderes. Embora a gente viva uma democracia, o processo hoje é de inclusão dos gentios lá do começo. Nós estamos no processo de descolonização do estado, para o estado deixar de ser um instrumento de defesa das elites, dos interesses financeiros para representar a população local. Esta é uma virada que nós ainda estamos lutando para acabar com aquele Estado colonial implantado por Thomé de Souza em 1549. E estas conquistas vêm da resistência e da pressão popular”, enfatizou Araújo.

O professor Luís Henrique Dias Tavares também ressaltou o crescimento a desigualdade presente na cidade desde a sua concepção. “Salvador teve um crescimento desigual. Um crescimento urbano sem um apoio maior para que isto se desse por inteiro e para todos. Por isso, muitos bairros de Salvador estão abandonados”, falou o historiador, reforçando a necessidade de ações do Estado para resolver a questão. Para ele, uma ação efetiva é a ocupação policial no bairro do Nordeste de Amaralina, mas que está longe de solucionar a questão, pois são necessárias políticas contínuas.

Discussão maior

“Este debate é ponto de partida para outras discussões que faremos adiante. Foi importante a colaboração dos professores Ubiratan Castro e Luís Henrique Dias Tavares, que contribuíram bastante sobre este aspecto que precisávamos debater, que é a questão da história de Salvador. Neste debate naturalmente apareceram questões relacionadas com o momento atual em que vivemos. E todas estas questões sobre os grandes problemas da cidade, nós debateremos em outros momentos”, disse Geraldo Galindo, presidente do PCdoB em Salvador.

Ricardo Moreno, da Fundação Maurício Grabois, também salienta a importância de aprofundar as discussões. “Nós queremos realizar um ciclo de debates sobre Salvador. Tentando fazer uma profunda reflexão sobre a deslocação da cidade, da sua identidade, suas contradições, suas lutas, suas classes. Então outros debates virão. Este foi sobre a formação histórica, mas queremos debater aspectos sobre estrutura da cidade, seus problemas. Ao longo do ano estaremos debatendo e publicando os resultados destes debates na Revista Dialética. Que é a nossa contribuição para o debate sobre os problemas de Salvador, já que ano que vem termos as eleições municipais”, acrescentou.

“Tivemos hoje uma verdadeira aula sobre a formação deste espaço segregado e uma verdadeira ilustração de como isso se forma e conseguimos concluir com a conclamação do professor Ubiratan Castro para nos rebelar-mos contra este espaço segregado e construirmos uma cidade mais igual, mais justa e mais humana. E isto faz parte de nossos planos”, concluiu Ricardo Moreno.

Durante o evento, que teve como debatedor o secretário Estadual do Trabalho Emprego, Renda e Esporte, Nilton Vasconcelos, a Fundação Maurício Grabois também homenageou os dois historiadores, através da entrega de uma placa em reconhecimento à contribuição dos professores Luis Henrique Dias Tavares e Ubiratan Castro de Araújo para a história da Bahia. Os deputados federais Alice Portugal e Daniel Almeida, as vereadoras Aladilce Souza e Olívia Santana, além de diversas lideranças sociais participaram da homenagem.

Veja as fotos do evento em nossa seção de imagens.

Fonte: Blog Pesquisando a História

FILME: CARAMURÚ - O GALEGO TUPINAMBÁ


Diogo Alvarez Correa, o Caramuru, chega às costas de Salvador, Bahia (atualmente o bairro do Rio Vermelho), em 1509, logo de sobreviver a um naufrágio, todos seus companheiros morrem em mãos dos Tupinambás. Abateu um pássaro com um tiro certeiro e foi logo chamado de Caramuru, o “homem de fogo”. Mas há outra versão: mulheres indígenas o teriam encontrado escondido nos rochedos e cuidaram dele salvando-lhe a vida. É que a palavra caramuru, em língua Tupi, também significa moréia, o peixe que se esconde nas rochas. Posteriormente Caramuru integra-se na vida dos indígenas e se torna um líder dos tupinambás tomando como esposa a filha do cacique Taparica: Paraguassú. Em 1549 foi colaborador fundamental do primeiro governador-geral do Brasil colonial, Thomé de Souza, na fundação da cidade de Salvador. Antes, em 1546, após ter se encontrado com Caramuru, o donatário da Capitania de Porto Seguro, Pero do Campo Tourinho, escreveu ao rei de Portugal: “...e ora sou informado por um Diogo Álvares, o Gallego, língua que lá era morador...” . Por causa dessa carta, historiadores espanhóis defendem a origem galega de Caramuru. A partir disto e através de depoimentos de estudiosos e personalidades interessadas no tema, o documentário passa em revista o período histórico da fundação da brasilidade assim como estabelece a origem de Caramuru.

Local: Cepaia/ UNEB (Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos)
Largo do Carmo, 4 - térreo
Centro Histórico (em frente à igreja da Ordem Terceira do Carmo)
Salvador- BA Tel.: 71 3241-0811/ 078

Para maiores informações acesse: www.lamestizaaudiovisual.blogspot.com
Fonte: Blog Pesquisando a História

Revista feminina Marie Claire entrevista as nove ministras do governo Dilma Rousseff.


Confira abaixo as entrevistas, em especial conheça as posições de cada uma sobre a legalização do aborto:

Marie Claire É a favor da legalização do aborto?

Miriam Belchior "Sou. Sou a favor de que as mulheres que tomam esta difícil decisão recebam tratamento adequado e não sejam criminalizadas por isso."

Ana Holanda "Sou."

Helena Chagas "Isso é uma questão de foro íntimo da mulher. Não se pode impor essa escolha a ninguém."

Ideli Salvatti "Sou a favor da vida. Não só dos fetos, mas também das mulheres que correm riscos ao fazer abortos em clínicas clandestinas."

Iriny Lopes "As mulheres têm de ter o direito de decidir e o estado deve ampará-las nesta decisão. Nenhuma mulher gosta de passar por uma situação dessas."

Izabella Teixeira "Acho que não faria, mas sou a favor de que sociedade tenha o direito de exercer opções. Sou completamente a favor que a mulher decida sobre qualquer assunto que lhe compete. Ninguém tem que carregar a culpa de ninguém."

Tereza Campello "A questão do aborto é uma questão que o estado brasileiro não pode se omitir. Decidi ser mãe e tive que batalhar bastante para poder engravidar. Não fiz tratamento. Engravidei com 43 anos. Se tivesse a oportunidade, seria mãe de novo."


Luiza Bairros "Essa coisa de opinião pessoal de ministro causa problema."

Maria do Rosário "É um tema que precisa ser trabalhado pela sociedade e as mulheres brasileiras precisam ser escutadas. O que é um tema de saúde pública foi transformado num tema eleitoral nos últimos tempos. Não foi justo o que tentou se fazer com a presidenta Dilma como mulher, colocá-la em uma situação difícil. Foi muito adequado quando ela respondeu que essas circunstâncias não devem ser tratadas como um caso de polícia, mas sim de saúde pública. Sou favor de que no Brasil se cumpra a legislação, que diz respeito à questão do estupro, da violência de um modo geral. Acho que nós devemos avançar na questão do risco de vida da mãe, assegurando a agilização desses procedimentos. Concordo também nos casos de anencefalia, que não tenhamos essa dor perpetuada para as mulheres durante a gravidez. Essa é a minha posição institucional. Minha posição pessoal é contrária de que as mulheres sejam penalizadas."

Leia as entrevistas na íntegra concedidas pelas ministras às repórteres Marina Caruso e Maria Laura Neves:

terça-feira, 29 de março de 2011

O que me espanta é ouvir as pessoas dizerem que no Brasil não há racismo.

A entrevista é longa, mas vale a pena lê-la para entender um pouco do Brasil e o meu, seu, nossos preconceitos arraigados.

O BRASIL PODE VIRAR UMA ÁFRICA DO SUL

Por Ivan Martins

Brasilianista afirma que exclusão dos negros das universidades e dos bons empregos cria um modelo de divisão de renda similar ao do apartheid

O sociólogo Edward Telles, professor da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, integra o simpático grupo dos brazialianists – aqueles acadêmicos americanos que fizeram do Brasil e dos brasileiros seu principal objeto de estudo. Racismo à Brasileira, seu livro que acaba de ser lançado pela editora Relume Dumará, tem porte para incluí-lo na relação dos brasilianistas mais respeitados. Telles faz nesse livro uma inédita comparação entre a situação racial no Brasil e nos Estados Unidos, baseada em recentes estatísticas demográficas. O resultado, além de uma livro imperdível, é um golpe devastador na auto-imagem do Brasil. Não só cai por terra o velho mito da democracia racial como revela-se um País que, nas palavras de Telles, caminha para um modelo sul-africano de concentração racial da renda. “Essa é a tendência. Se nada for feito é nessa direção que o Brasil avança”, diz ele. Aos 46 anos, de família mexicana, Telles conhece bem seu tema de estudo. Desembarcou pela primeira vez no Rio em 1989, fala bem o português e casou-se com uma gaúcha. Dias atrás, quando esteve em São Paulo para o lançamento do seu livro, concedeu a entrevista que segue:

DINHEIRO – Como é o racismo à brasileira?
EDWARD TELLES – Em todas as sociedades multirraciais você tem racismo e o Brasil não está isento disso. Mas enquanto nos EUA a segregação é feita de forma clara negros e brancos moram em bairros diferentes e não se casam entre si – no Brasil há outro tipo de racismo. Aqui há miscigenação, em oposição à segregação praticada nos EUA e na África do Sul. Mas a discriminação existe, o racismo existe, embora haja mais sociabilidade entre brancos e negros.
DINHEIRO – O racismo aqui é pior do que nos Estados Unidos?
TELLES – O racismo é diferente nos dois países, mas a desigualdade no Brasil é maior. Não se trata apenas de uma desigualdade de renda em geral, mas de uma forte desigualdade de renda racial. O que define isso é que praticamente não há negros na classe média brasileira, e muito menos na classe alta.
DINHEIRO – Os brasileiros se acostumaram a pensar que não existe discriminação racial no Brasil, mas somente discriminação de classe.
TELLES – Definitivamente não é somente uma questão de classe e de renda. Fiz análises de mobilidade social que mostram que negros e brancos nascidos em São Paulo na mesma classe social têm experiências econômicas diferentes. Os brancos de classes baixas têm muito mais mobilidade. Somente eles atingem posições profissionais de renda mais alta.
DINHEIRO – Por que isso acontece? Os jovens negros não têm as mesmas oportunidades de estudo ou não têm as mesmas oportunidades de trabalho?
TELLES – O problema principal está na escola. O acesso à universidade é o grande gargalo. Sem ela não se tem acesso às posições profissionais mais altas. Certamente há discriminação racial no trabalho, mas o problema central acontece antes. Os
negros não chegam ao mercado de trabalho mais qualificado porque não vão à universidade.
DINHEIRO – Existe indicação estatística de que o jovem negro ganha mobilidade social quando se educa?
TELLES – Em meu livro menciono um estudo comparando Brasil, EUA e África do Sul. Nele fica claro que no Brasil há uma relação mais forte entre educação e renda. A escolaridade dos negros na África do Sul é comparável à dos brancos, mas mesmo assim a renda dos negros é mais baixa. No Brasil a educação explica a maior parte da diferença de renda.
DINHEIRO – Os governos no Brasil sempre acreditaram que esse assunto não precisaria ser tratado de forma específica. Imaginava-se que ao atacar os problemas dos pobres também se resolveriam os problemas dos negros...
TELLES – Não é assim tão simples. Essas políticas gerais nunca são inteiramente eficientes. Sempre fica alguém de fora e quase sempre são os negros. Eu sou a favor da ação afirmativa, da reserva de vagas para jovens negros na universidade, como forma de abrir espaço para os negros no topo da pirâmide social.
DINHEIRO – O racismo atende algum interesse econômico?
TELLES – Acho que a classe média branca quer manter seus privilégios, que são o monopólio das vagas na universidade pública e os bons postos de trabalho no mercado profissional. As pessoas têm medo que as cotas possam ameaçar esse monopólio racial. Uma pesquisa de opinião mostra que o maior foco de resistência às políticas de ação afirmativa está na classe média branca. Mas há também a ideologia, que vem do século 19, que diz que os negros são inferiores. Ela não desapareceu, embora o argumento tenha mudado da biologia para a cultura – agora a cultura negra é inferior.
DINHEIRO – O sr. diz que nos EUA esse problema foi mitigado
pela ação do Estado.
TELLES – Nos Estados Unidos o Estado fez uma intervenção destinada a colocar negros na universidade. Com isso, a classe média de negros aumentou muito. Desde os anos 60 a classe média negra cresceu quatro vezes. Eu acredito que o acesso à universidade é a única coisa capaz de promover a mudança. A industrialização não muda nada e o crescimento econômico também não. Cabe ao Estado agir.
DINHEIRO – As ações afirmativas resolveram todos os problemas raciais nos Estados Unidos?
TELLES – Não exatamente. Embora você tenha uma classe média negra significativa e pessoas importantes como Condoleezza Rice e Colin Powell, há também uma grande classe baixa de negros que não se beneficia da ação afirmativa. Essas pessoas têm de ser ajudadas por políticas de Estado de combate à pobreza. De um modo geral, as políticas de ação afirmativa ajudam grupos minoritários a obter trabalhos de alta qualificação, do qual são tradicionalmente excluídos.
DINHEIRO – Como acontece a exclusão racial no trabalho?
TELLES – Às vezes a exclusão é feita pelo empregador na hora da entrevista. Mesmo não se achando racistas, os empregadores escolhem com base em estereótipos raciais. Mas em geral os brancos também têm mais acesso ao mercado de trabalho porque conhecem as pessoas certas, porque vêm de famílias que têm mais acesso. Às vezes os negros podem até se auto-excluir, por baixa auto-estima, que vem em parte pela ausência de negros representados em posições bem-sucedidas.
DINHEIRO – A multiplicação da classe média negra teve impacto econômico nos EUA?
TELLES – Um estudo econômico recente mostrou que os empregadores que usam a ação afirmativa têm mais sucesso, por que ela promove um ambiente de justiça nos locais de trabalho. Empresas que praticam a ação afirmativa procuram mais amplamente no mercado de trabalho para encontrar minorias e mulheres adequadas à suas necessidades e acabam utilizando critérios mais amplos de contratação. Esses empregadores acham pessoas com performance melhor do que empresas que usam canais tradicionais. A experiência mostra que contratar o filho do amigo nem sempre é melhor para os negócios.
DINHEIRO – Por que o sr. diz que crescimento não resolve o problema da discriminação?
TELLES – O milagre econômico brasileiro nos anos 70 fez a economia crescer muito, mas foi nesse período que mais cresceu a desigualdade racial. Os pobres ficaram um pouco menos pobres, mas quem realmente enriqueceu foram as classes médias e altas.
Veja o acesso à educação superior. Desde 1960 as universidades brasileiras se expandiram muito. Apenas 2% dos brancos tinham formação universitária em 1960 e quase nenhum negro. Em 1999 essa percentagem para brancos subiu para 12%, enquanto os negros foram de zero para 2%. Ainda que o número de negros na universidade tenha crescido, a brecha entre brancos e negros cresceu de forma bárbara.
DINHEIRO – As pessoas no Brasil temem que as políticas da ação afirmativa aumentem a segregação, levando a um cenário como o dos EUA.
TELLES – Mas as pessoas não são cegas à raça no Brasil! Raça é um elemento importante nas relações sociais. A forma de lidar com o outro já depende da aparência. A maneira como um trata o outro no Brasil é uma combinação de classe e raça. É por isso que as poucas pessoas negras na classe média continuam sendo discriminadas. Não é como se os brasileiros fossem totalmente inocentes nesse assunto e a ação afirmativa fosse romper o encanto. O encanto já foi rompido há muito tempo, contra os negros.
DINHEIRO – O Sr. conta em seu livro que a mestiçagem brasileira impediu que se implantassem aqui políticas legais de discriminação no início do século 20. A mesma mestiçagem não impediria, agora, que se implantem políticas de cotas? Com tanta mistura, como distinguir branco de negro?
TELLES – Esse é um problema que vocês terão de resolver. Nos EUA havia leis racistas que diziam quem era negro e quem não era. Essas regras foram usadas para promover os negros. No Brasil é mais difícil, mas isso não deveria ser impedimento para se tomar ações afirmativas. A sociedade brasileira tem de ser criativa porque obviamente não se pode copiar os Estados Unidos nesse caso.
DINHEIRO – Não existe a possibilidade de as políticas de cotas criarem no Brasil uma hostilidade racial que hoje não existe?
TELLES – Eu acho o contrário. Nos Estados Unidos a convivência de brancos e negros nas universidades, mesmo um pouco tensa, tem permitido conhecimento melhor um do outro. Acho que no Brasil, onde já existe convivência inter-racial, ela vai se estender à universidade, onde só há brancos.
DINHEIRO – Há anos o Brasil investe muito mais na educação superior do que na primária. Isso pode ser lido como uma ação racista do Estado brasileiro?
TELLES – Certamente essa diferença descarada em favor da universidade é, indiretamente, uma ação racista. Quem entra nas boas universidades públicas são os brancos. É difícil ver um negro aqui na USP, e olha o investimento público que ela recebe! Onde fica o investimento do Estado na educação dos negros?
DINHEIRO – Olhando pelo outro lado, qual seria o custo econômico e social de não fazer nada sobre esse assunto?
TELLES – Nas profissões técnicas avançadas, mesmo no Direito, há uma crescente desigualdade racial. Os brancos estão tomando as novas posições de forma desproporcional, porque elas necessitam de formação universitária. A mobilidade social para cima é muito maior para brancos.
DINHEIRO – E qual é a implicação de longo prazo dessa tendência?
TELLES – Isso implica que a classe média é cada vez mais branca enquanto os pobres são cada vez mais negros. Se você projeta a tendência para três ou quatro gerações à frente, vai haver mais desigualdade racial. Se não mudar nada, aos poucos o Brasil vai se aproximar da África do Sul. É a tendência. Talvez demore algum tempo, mas se nada for feito é nessa direção que vai o País.
DINHEIRO – Como americano, o Sr. se choca com algum aspecto particular das relações raciais no Brasil?
TELLES – O que me espanta é ouvir as pessoas dizerem que no Brasil não há racismo. Nem vale a pena discutir. Eu cheguei ao Brasil em 1989 e as pessoas me diziam que havia aqui uma democracia racial. As pessoas que eu via pedindo nas ruas eram negras, as pessoas que moravam nas favelas eram em sua maioria negras e toda a classe média era branca. Para mim era bastante óbvio que havia um problema, mas as pessoas não percebiam. Isso era chocante.
Ainda bem que está mudando.

O deputado do DEM, o racismo e seus equívocos conceituais.

Racismo é palavra impositiva carregada de significados, gentes, modos e ideologia.

Há séculos que o povo afro descendente vive condicionado a uma leitura estreita da identidade étnica, a partir dos estereótipos construídos e naturalizados pelas palavras composta de intenções malévolas.

As terras de Cabral, por excelência, não permitem a quebra da hegemonia eurocêntrica no centralismo do poder, como a querer abdicar de uma história incômoda, visando a desafricanização da sociedade brasileira.

O ministro Joaquim Barbosa incomoda muita gente e ter a história de Áfricas na pele, em um país extremamente racista como o Brasil, incomoda muito mais.

A condição que o ministro Joaquim Barbosa hoje ocupa na hierarquia política do país etnicista, possibilita, no imaginário social, a mobilidade do povo de pele preta para além dos navios negreiros.

É como um novo grito de independência. Sim, nós chegamos vamos ocupar o nosso lugar! São dias de fico. Como já bem o disse o imperador. Sim, nós podemos! Como reafirma o presidente negro.

O empresário e deputado federal Júlio Campos (DEM) ao se referir a um ministro do Supremo Tribunal Federal de “ilustre-magistrado-moreno-escuro”, além de corroborar com a veiculação de conotações racistas, mostra um flagrante desrespeito a um ministro do Supremo Tribunal Federal.

O DEM é o mesmo partido do deputado Demóstenes Torres (DEM-GO), que afirmou que o estupro das mulheres negras e indígenas na colonização das terras de Cabral “se deu de forma muito mais consensual”.

Casa Grande x Senzala?

“O racismo tem sempre a desculpa de não-é-isso-que-quis-dizer”, mas diz em fartas, contundentes e pontiagudas expressões com alvo certo.

Já pensou se o nobre deputado esquece o nome da presidenta?

A raiz do preconceito é o medo de perdermos espaços para o outro que consideramos desigual
O racismo é invejoso dos lugares de poder que o povo de pele preta ou parda vem sistematicamente e persistentemente ocupando. Mesmo que ainda sejamos só um.

O ministro Joaquim Barbosa ocupa lugares reservados freqüentemente a elite dita branca nas terras de Cabral, e continuadamente tem recebido recados cifrados ou nem tanto: Este não é o seu lugar!

Para a Sua Excelência “aquele-que-disse-por-não-lembrar-naquele-momento-o-nome –do-magistrado”, as amplas maiorias minorizadas, dentre elas a população de pele parda ou preta, resume-se a uma coletividade anônima fulanizada por essa invisibilidade.

Joaquim Barbosa arca com o peso de ter rompido com a colonização de espaços secularmente construídos para abrigar personagens determinados pela história.

Precisamos de mais gente para reger essa orquestra.

Teremos?

Arísia Barros

Fonte: http://www.cadaminuto.com.br/blog/raizes-da-africa

Para que Sociologia?

Pessoal, este é nosso primeiro passo, O legião Urbana na voz de Renato Russo já pensava nas questões sociais e políticas do nosso país. Neste 1° trabalho vamos ver o vídeo e escrever algumas linhas sobre a importância de estudar Sociologia.



Encontros marcam lançamento da Coleção da UNESCO História Geral da África na Bahia


A Bahia foi escolhida para sediar uma série de eventos que marcam o debate e o lançamento da edição em português da Coleção da UNESCO História Geral da África no Brasil. Entre os dias 1 e 4 de abril, especialistas africanos e brasileiros e autoridades locais e nacionais se reunirão em Salvador e Cachoeira para debater assuntos relacionados à questão, especialmente os referentes à interculturalidade e à diversidade religiosa, aspectos tão presentes na cultura baiana. O lançamento estadual acontece na segunda-feira, dia 4/04, a partir das 9h, na Reitoria da Universidade Federal da Bahia, em Salvador.
A coleção em português, editada pela UNESCO em parceria com o Ministério da Educação e lançada nacionalmente em dezembro do ano passado, contribui para a disseminação da história e da cultura africana na educação brasileira, e também para a transformação das relações étnico-raciais no país. Além de apresentar uma história desconhecida da maior parte da população brasileira, a obra refuta ideias preconcebidas a respeito da África, como a de que o continente africano era formado por tribos e não por uma sociedade organizada, por exemplo.
Entre os especialistas africanos que estarão presentes nos debates, destacam-se Jean-Michel Tali, professor da Universidade de Michigan e membro do Comitê científico da UNESCO para a elaboração do Material Pedagógico a partir da Coleção História Geral da África e Elikia Mbokolo, historiador e diretor de estudos na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris. Também estarão presentes Ali Moussa Iye, diretor do Departamento de Diversidade Cultural da UNESCO e especialistas brasileiros como Valdemir Zamparoni, da Universidade Federal da Bahia e Valter Roberto Silvério, da Universidade Federal de São Carlos, coordenador técnico da edição em português da Coleção.
O objetivo da série de encontros é promover e debater junto à sociedade o reconhecimento da importância da interseção da história africana com a brasileira, contribuindo para a construção e afirmação da identidade da sua população.
- O dia 1º/4 está reservado para a interação com grupos culturais fortemente baseados na cultura africana. Ao meio-dia, a coleção será apresentada pela UNESCO e pelos especialistas convidados para professores e estudantes do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO/Ufba). À tarde, às 15h, haverá uma visita aos estudantes e dirigentes da Escola Criativa Olodum, no Pelourinho.
- O sábado, dia 2/4, está destinado a atividades na histórica cidade de Cachoeira, berço do samba de roda, Patrimônio Imaterial da Humanidade, onde será realizada uma mesa-redonda no auditório do Centro de Artes e Humanidades da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), a partir de 9h. À tarde, serão realizadas visitas culturais, incluindo à sede da Irmandade da Boa Morte e comunidades remanescentes de quilombo.
- Na segunda, dia 4/4, o lançamento oficial da Coleção da UNESCO História Geral da África na Bahia será feito no auditório da reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em um seminário de 9h às 18h. Está sendo esperada a presença de autoridades como o governador do Estado, Jaques Wagner, o Ministro da Educação, Fernando Haddad, e a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, além dos pesquisadores brasileiros e africanos.
Os debates irão relacionar o novo olhar para o continente africano apresentado pela Coleção com as questões atuais das relações étnico-raciais brasileiras, como a herança cultural que permeia a religiosidade do país e a construção de um novo significado para a história africana. O evento é realizado pela representação da UNESCO no Brasil em parceria com o Ministério da Educação, com a Fundação Pedro Calmon da Secretaria de Cultura da Bahia e com o Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia. Conheça a programação completa e todos os participantes: www.fpc.ba.gov.br

Sobre a Coleção
A Coleção da UNESCO da História Geral da África, com quase 10 mil páginas, foi construída ao longo de 30 anos por 350 pesquisadores, coordenados por um comitê científico composto por 39 especialistas, dois terços deles africanos.
A obra conta a história da África a partir de uma visão de dentro do continente, usando uma metodologia interdisciplinar que envolve especialistas de áreas como história, antropologia, arqueologia, linguística, botânica, física, jornalismo, entre outros. Seu conteúdo permite novas perspectivas para os estudos e pesquisas a respeito da África e também para a disseminação das relações étnico-raciais no sistema de ensino brasileiro.
Os oito volumes que integram a coleção abordam o continente desde a pré-história até a década de 1980, passando pelo Egito Antigo, por diversas civilizações e dinastias, pelo tráfico de escravos, pela colonização europeia e pela independência dos diversos países. A África é destacada como berço da humanidade e de contribuição fundamental para a cultura e a produção do conhecimento científico mundial.

Informações UNESCO / Brasil
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(61) 2106-3544
aline.falco@unesco.org.br
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Assessoria de Comunicação
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