Racismo um fenômeno sexual dentro dos movimentos de esquerda Com propriedade podemos falar um pouco de masculinidade negra, por nossa base teórica e principalmente por nossa vivência!
“(...) a identidade masculina está enraizada na identificação com “aquilo que funciona”, seja o pênis ou o Estado. Atualmente tornou-se necessário ao homem subordinar “aquilo que funciona” –vale dizer, as conquistas tecnológicas e político-militares- à mera preservação da espécie humana.”(Hendrik M. Ruitenbeek)
Édipo Negro nasceu órfão numa sociedade branca. A situação que lhe foi imposta fez surgir dois desejos, o de conquistar todo o poder que lhe foi negado, destronando o Senhor do engenho e o desejo de desposar o seu maior troféu: a esposa. Após matar a figura do Sr. Branco e consumar a Sra. Branca, Édipo Negro fura seus próprios olhos, pois vê no espelho que ambos projetaram nele o seu reflexo.
No conceito psicanalítico do Complexo de Édipo (o filho tem uma preferência velada pela mãe, acompanhada de uma aversão pelo pai) podem ser encontradas partes das raízes para se compreender os fenômenos psicossociais do racismo/sexismo dentro dos movimentos sociais. Para Shulamith Firestone no livro Dialética do Sexo, o fenômeno do racismo se observa como um “machismo potencializado”, ou seja, o racismo se fundamenta como derivado dos fenômenos psicossexuais do patriarcado.
Para compreender a tese dela é necessário utilizar o modelo explicativo de Freud, adaptando-o. Firestone afirma que na hierarquia patriarcal da sociedade ocidental, o homem branco representa o pai, a mulher branca representa a mãe-esposa e o homem negro representa o filho bastardo.
Como no Complexo de Édipo, o desejo dos homens negros é destronar os homens brancos, sobrando pouco espaço para as mulheres. Assim como as crianças e as mulheres, numa sociedade racista, os negros foram estigmatizados pelos seus fenótipos para justificar as estruturas desiguais de poder.
Diante dessa “organização” nuclear da sociedade, os homens negros não tem o lugar mais privilegiado e seu lugar, nesta sociedade, está vinculado a sua sexualidade de forma agressiva, fazendo com que ele se subordine a avaliação do opressor (homem branco), como exemplifica Firestone:
“ o jovem médio do gueto atua como cafetão, ou então se prostitui como de rotina, sendo seu valor como” homem” avaliado pelo modo como ele é capaz de comandar suas putas – e por quantas ele pode comandar ao mesmo tempo. Ele se torna um mestre da lábia, do papo de segundas intenções. Se é capaz de agarrar uma “gatinha” branca, esse é um ponto a mais no seu crédito – pois é um golpe direto ao homem branco (Pai).”
Infelizmente a lógica de opressão sexual, não está à parte dos movimentos sociais de raça e classe. O homem branco de esquerda e o homem negro – infelizmente para as mulheres negras – não estão preocupados com igualdade e sim com poder MASCULINO. A retórica bem estabelecida sobre justiça e igualdade é a forma camuflada de expressar esse desejo de poder masculino.
“Ser reverenciada não é ter liberdade, pois o culto se passa na cabeça do outro e essa cabeça é do homem”
É evidente que os militantes negros estão exercendo sua sexualidade conforme o modelo existente (patriarcal). A mulher negra converte o seu papel dentro da sociedade sexista do capital, de prostituta para “Adorada-Rainha-Negra-Mãe-de-Meus- Filhos”. Com a exaltação da instituição familiar patriarcal, o homem negro muitas vezes passa a atuar dentro do espaço de luta e da comunidade como opressor. Almejando colocar esse poder (de pai) para além desses espaços, atingindo uma instância maior (Estado). Pois diferente do que os homens pensam:
“Ser reverenciada não é ter liberdade, pois o culto se passa na cabeça do outro e essa cabeça é do homem”
TEXTO: Patrick Monteiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário