Nos meados do século XIX a cidade do Rio de Janeiro se tornou a maior metrópole africana do hemisfério ocidental. Uma grande comunidade negra que revelou como as identidades étnicas de "Nação", criadas pelo tráfico negreiro, eram capazes de ser recriadas pelos africanos a partir da correlação de forças e conquistas dentro deste próprio quilombo urbano.
Este era o tempo em que viveu Cândido da Fonseca Galvão, ou melhor, Dom Obá II D'África, um líder popular afro-brasileiro das ruas do Rio, pioneiro do movimento da negritude e da luta pela igualdade racial no Brasil, que atuou no período de transição da escravidão para a Abolição.
Filho de africanos forros, brasileiro de primeira geração, era, ao mesmo tempo, por direito de sangue, príncipe africano, neto, ao que tudo indica, do poderoso Aláàfin Abiodun, o último soberano a manter unido o grande império de Oyó na segunda metade do século XVIII.
Dom Obá (que quer dizer "rei" em iorubá) nasceu na Vila dos Lençóis, no sertão da Bahia, por volta de 1845.
D. Obá se alistou e lutou na Guerra do Paraguai (1865-70), de onde saiu oficial honorário do Exército brasileiro, por bravura. De volta ao país, fixou residência no Rio, onde era tido pela sociedade de bem como um homem meio amalucado, uma figura folclórica e era, ao mesmo tempo, respeitado e reverenciado como um príncipe real por escravos, esfarrapados, libertos e homens livres de cor que viviam nesta África carioca.
Amigo pessoal do Imperador D. Pedro II, assumiu papel histórico importante no processo de Abolição, pois era o elo entre as elites do poder monárquico e a massas populares.
Dom Obá desenvolveu um pensamento alternativo da sociedade e do próprio processo histórico brasileiro. Talvez pelo conteúdo mesmo de suas idéias, talvez por sua linguagem crioula, dosada com alguns toques de iorubá e mesmo latim. Apesar de seu discurso ter parecido opaco, incompreensível para a elite letrada da época, abolicionistas e a camada popular compartilhavam de suas idéias, que brotavam de dentro das quitandas.
O Príncipe Dom Obá, independentemente de sua linhagem monárquica, tinha posições política bem definidas em prol da igualdade e da justiça social. Contrariou as filosofias evolucionistas e etnocêntricas da ciência com relação ao processo de miscigenação brasileira.
O príncipe ensinou ao negro a orgulhar-se de sua cor e, por não acreditar em superioridades, era "amigo dos” brancos “ e de todos aqueles que tinham a sensatez de compreender que o valor não está na cor.
Na verdade, para Dom Obá, não parece existir exatamente uma "questão racial", mas uma questão de cultura, de informação, de desconhecimento. Portanto, o seu desconsolo com esta nova África, onde ainda há quem cultive as tolices do preconceito e da desigualdade.
"Sou conservador para conservar o que for bom e liberal para reprimir o preconceito e a injustiça social", disse Dom Obá, um Cidadão Negro Brasileiro.
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