Na Bahia de Todos Os Deuses, com seus trajes pomposos, turbantes (torços), panos da costa, batas (blusa comprida e solta), saias rodadas (brancas ou de estamparia colorida) com muitas anáguas rendadas e engomadas, pulseiras e colares na cor do seu orixá, as negras de ganho criaram um tipo físico que se tornou tradicional. O traje que costumamos chamar de baiano reflete a influência da cultura africana no Brasil aliado ao rebolado e a ginga do corpo. O turbante e os balangandãs indicam elementos da cultura islâmica predominante no Norte da África (Sudão).
As pencas de balangandãs integraram as roupas tradicionais das negras mucamas dos séculos XVIII e XIX. Balangandã é o ornamento de contas coloridas ou amuleto, em forma de figa, fruta, medalha, moeda, chave ou dente de animal; pendente de argola, broche, brincos ou pulseira de prata, usado pelas baianas em dias festivos. Figas, dentes e guias são usados como amuletos para proteção, louvação ou combater o mau-olhado. A figa, particularmente, é um amuleto em forma de mão fechada, com o polegar entre o indicador e o dedo grande, usado como ornamento pessoal, da casa ou estabelecimento comercial.
Na África, o pano da costa era apenas um complemento da vestimenta das mulheres negras, e não tinha conotações religiosas. A partir do século XIX, no Brasil, é que começou a ter ligação com as celebrações do Candomblé. Na África, é denominado alaká ou pano de alaká. No Brasil, ficou conhecido como pano da costa porque vinha da Costa do Marfim (África) e também por ser usado nas costas. Os primeiros panos da costa vieram no corpo das escravas, que não tinham roupa e eram vendidas enroladas no pano. Depois, os panos foram tecidos aqui mesmo por escravos ou por seus descendentes, em teares manuais e rústicos vindos para o Brasil no século XVIII. Tecido em tear manual, o pano da costa é formado por tiras de dois metros de comprimento cada uma, com largura variando entre 10 a 15 centímetros. As tiras são depois costuradas uma a uma. Branco não é a cor predominante no pano da costa que, geralmente, é listrado ou bordado em alto-relevo e colorido com padronagens variadas dependendo do orixá de cada nação. Os filhos de santo usam o alaká enrolado no tronco. As mães escravas traziam durante as horas de trabalho seus bebês escanchados (com as pernas em volta da cintura) às costas e presos por um alaká.
As “baianas” atuais descendentes de africanos (das tribos ioruba, nagô, mina, fula, haussá) são as que mais se esmeram no trajar.
As nagô, cuja presença maior se nota nos candomblés, são baixas e gordas. Usam cores vivas, berrantes. Saia ampla toda estampada.
A baiana-mulçumana (do Sudão da África), alta e esguia, usa o traje branco imaculado. Às vezes, no ombro um “pano da Costa” rústico.
E, hoje, como traje e figura típica da Bahia, tão cantada por Dorival Caymmi, podemos ver a baiana pregoeira com seus coloridos tabuleiros de comidas típicas e doces, nas ruas, ladeiras e praias de Salvador, ou em ritos de Candomblé e Umbanda e festas religiosas, como a Lavagem do Bonfim.
Em Salvador, no dia 25 de novembro, quando se comemora o Dia da Baiana, é celebrada uma missa na Igeja de N. Sra. do Rosário dos Pretos e manifestações culturais como: Samba de Roda, Capoeira, Olodum e Afoxé, no Memorial das Baianas.
A baiana é uma figura que traz consigo os elos da herança ancestral africana - a oralidade, a culinária, a crença, o misticismo, a dança, a ginga e, sobretudo, a cor. É preciso ter sangue ancestral pra saber o que é que a baiana tem.
Por Prof. Nilton
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