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sábado, 16 de julho de 2011

AXEXÊ: O MITO DA MORTE E O RESPEITO E A REVERÊNCIA AOS ANCESTRAIS


A MORTE COMO CELEBRAÇÃO DA ETERNIDADE

Na cultura africana, a morte com idade avançada e um funeral digno (com muita festa) são sinônimos de uma boa morte e uma celebração à vida eterna. Em vista disso, muitas aldeões preparam, de antemão, o seu próprio funeral, guardando dinheiro e encarregando pessoas para se ocuparem da cerimônia fúnebre.

A morte de um membro da tribo não interessa somente à sua família ou ao grupo de parentes e amigos, mas envolve todos os aldeões. Por isso, quando morre um membro na aldeia, a família não pode publicar a sua morte ou manifestar seu sentimento de desconsolo antes que a notícia seja comunicada ao chefe da aldeia. Será ele que, em seguida, dará ordens ao ogan para que convoque a população na praça pública, debaixo de uma baobá, lugar do anúncio oficial de qualquer notícia importante.

O som do "tambor-falante" (uma linguagem codificada ao som do tambor, que é ritmado com sons alternados) é entendido à distância e cada aldeão deixa imediatamente seus afazeres, mesmo estando na roça, para participar do anúncio da partida de um dos seus, para a "Aldeia dos Ancestrais". Somente depois que a notícia é dada, todos os presentes, do menor ao maior, para manifestar seus sentimentos de pesar, terão que chorar um pouco, nem que sejam "lágrimas de crocodilo". Em seguida, um ancião consola a todos e juntos vão para a casa do falecido.

Chegando lá, os anciãos tomarão as providências mais urgentes para o bom andamento do funeral: quem vai lavar o cadáver, quem vai cavar a sepultura, qual a religião que o falecido praticava, para que sua crença seja respeitada, quem vai organizar a dança fúnebre, quem vai se encarregar da festa, quem vai dar a notícia às outras aldeias vizinhas. Essa última função é reservada ao chefe e seus notáveis mensageieiros. Só eles podem dar o anúncio oficial da morte de algum membro da aldeia, dando a impressão de que o chefe é o "proprietário" de todos os aldeões.

Depois de lavado o corpo do defunto, ele é exposto para a visitação dos aldeões. Não existe uma regra única para a exposição do cadáver - isso depende do status social do falecido ou do que ele mais gostava em vida. Se ele era um chefe, será revestido de toda a sua indumentária tradicional e contará com a presença de suas serventes, que passarão o tempo todo espantando as moscas e insetos que se aventurarem a pousar sobre o corpo.

No caso de uma moça bonita, depois de bem vestida e ornamentada com bijuterias, será exposta sentada numa cadeira, com as costas apoiadas na parede, os olhos abertos e as mãos apoiadas sobre os joelhos. Dessa forma, os visitadores poderão contemplar ainda a sua beleza.

Nesta postura, acreditam - ela se alegrará com o espetáculo da dança que será feito em sua honra. Quando o falecido é um rapaz que gostava de jogar futebol, terá ao seu lado uma bola, um apito, e seus colegas lhe prestarão uma homenagem, como se estivessem jogando uma partida de futebol.

Antes do momento do enterro, muitas pessoas trazem uma peça de pano, às vezes de qualidade, para oferecer ao defunto, que será embrulhado nele. Serão estes panos, conforme a crença, que ele apresentará aos seus antepassados que estão em outra vida, dizendo-lhes: "Veja o que meus parentes e amigos me ofereceram; eles foram generosos para comigo". Desta forma, os antepassados continuarão a abençoar e proteger aquela aldeia e todos os seus habitantes.

As pessoas oferecem também animais domésticos (galo, cabrito, carneiro...), para serem sacrificados em sua honra ou servidos como alimento para os visitantes. Nada daquilo que foi doado poderá ser guardado, tudo deve ser oferecido em sacrifício ou utilizado nos dias que sucederão a cerimônia fúnebre. O termômetro para determinar o quanto uma pessoa foi amada em sua vida terrena é medido pelos dons e pela solenidade da cerimônia fúnebre (dança, música, comida, bebida, visitantes ... ). A duração da cerimônia é de três dias para as mulheres e de quatro dias para os homens. Naturalmente, devido ao intenso calor que reina no solo africano, o sepultamento é feito num espaço de 24 horas.


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