Filósofa, que está lançando o livro “Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil”, analisa também a discriminação racial e a política para mulheres
Por: Virginia Toledo, Rede Brasil Atual
São Paulo – “As ações de preconceito que são praticadas atualmente, todas elas são extremamente deletérias; elas acabam construindo um caldo de cultura violento, em que as pessoas não se sentem mais seguras ou protegidas. Isso produz, como consequência, um ambiente social deteriorado”.
A crítica é de Sueli Carneiro, filósofa e doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e fundadora do Geledés Instituto da Mulher Negra. A ativista e feminista está lançando o livro “Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil”, que analisa criticamente a sociedade brasileira e a forma com que o preconceito racial e o sexismo estão estruturados, o que, na visão da autora, explica o crescimento da intolerância.
Em entrevista à Rede Brasil Atual, Sueli analisa os possíveis motivos do aumento das manifestações de preconceito e atos de intolerância. Assim como, a polêmica levantada após as declarações consideradas preconceituosas feitas pelo deputado Jair Bolsonaro (PP/RJ), e a situação impunidade que pode contribuir para novos atos de discriminação e violência. Ribeiro aborda também a questão da política de direitos humanos aplicada no Brasil. “Ela (a política) busca tentar atender toda a população e cobrar o respeito, mas ela ainda é bastante insuficiente para enfrentar a magnitude do problema”, explica.
Mesmo com as discussões sobre raça, gênero e opção sexual serem mais comuns nos dias de hoje. Ainda podemos dizer que vivemos em uma sociedade intolerante?
Sim, acho que nós temos tido muitas manifestações de intolerância de toda ordem, motivadas por racismo, por sexismo – que resulta em violência contra as mulheres -, homofobia, lesbofobia, e toda a intolerância religiosa. Todas elas são extremamente deletérias, elas acabam construindo um caldo de cultura extremamente violento, em que as pessoas não se sentem seguras ou protegidas. Sua identidade, seja de raça, de gênero, de orientação sexual ou religiosa, não é respeitada. Isso produz, como consequência, um ambiente social extremamente deteriorado.
Esse livro que estou lançando trata de vários temas e situações relacionadas a casos de intolerância. Ele está aí para contribuir, para sensibilizar a sociedade contra todas essas formas de preconceito e discriminação
A política de direitos humanos, atualmente, contemplam as questões do racismo e sexismo no Brasil? Ou ainda é muito deficiente?
As organizações de mulheres, de negros, são organizações que vêm entrando na sociedade para conquistar respeito e direitos. Nós temos uma política de direitos humanos que busca tentar atender a essa demanda, mas ela ainda é bastante insuficiente para enfrentar a magnitude do problema.
Acho que, além de uma política de direitos humanos, falta uma ação mais efetiva, mais consistente do Poder Judiciário na punição desses atos – de violência contra mulheres, negros e outras minorias. O Poder Judiciário poderia ser mais proativo no sentido de coibir com mais rigor essas práticas. Os casos de violência contra as mulheres produziram um jargão nos movimentos feministas, que a impunidade é cúmplice da violência.
Então a impunidade em relação a esses casos de racismo, sexismo e homofobia, muitas vezes contribui para que racistas, machistas e homofóbicos se sintam confortáveis para praticar mais atos de violência.
Como a senhora vê as declarações feitas por uma pessoa pública, o deputado Jair Bolsonaro, em que levantou-se ainda mais as discussões sobre preconceito racial, tanto posições contra como a favor?
O caso do deputado Bolsonaro é exemplar do tipo de sentimento de uma boa parcela da sociedade brasileira que não percebe o quão danoso é esse sentimento de rejeição de grupos humanos, que o racismo motiva para a sociedade. As pessoas que participam desse tipo de ideologia, de discriminação, se esquecem de todos os males que o racismo produziu na história da humanidade.
Esquecem que o racismo é o tipo de ideologia que provocou a morte de milhões de pessoas, a escravização de pessoas, ou seja, ele só faz, como resultado, sofrimento e morte. O racismo é uma ideologia que não penaliza apenas sua vítima, ela faz com que o racista também seja um ser humano menor, não seja um ser humano completo, por ser incapaz de aceitar a alteridade, a diversidade. Toda pessoa com essa incapacidade é um ser humano incompleto, um ser
humano menor.
A instituição do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, lançou, de fato, alguma luz em relação ao preconceito racial?
É muito importante que a história dos grupos humanos que compõem a sociedade brasileira seja valorizada. As celebrações em torno da memória de Zumbi dos Palmares têm essa importância de resgatar, de tirar do silêncio sobre esses heróis escondidos pela historiografia por um longo tempo. Então é muito importante que o dia da consciência negra seja um dia de celebração, da contribuição dos negros à formação da sociedade brasileira e, sobretudo, à resistência heroica contra a escravidão.
Acho que Zumbi se torna cada dia mais forte e se enraíza na sociedade brasileira; o que começou como o dia da consciência negra se espalhou para um mês. As ações que envolvem o tema se ampliam na sociedade, por isso acredito ser algo importante e que fortalece a implantação da Lei 10.639 que é a lei que busca introduzir, nas escolas, a história da África e da cultura afrobrasileira. São formas de resgate e valorização da presença negra na sociedade brasileira, ainda tão pouco reconhecida.
Como você vê a eleição da primeira mulher presidenta do Brasil? Está otimista em relação às políticas públicas voltadas para as mulheres?
Em relação ao governo da presidenta Dilma Rousseff, nós mulheres, feministas, estamos bastante esperançosas e confiantes de que vamos encontrar na nova presidenta, além da sensibilidade social, que ela traz como herança do governo anterior, acreditamos que vai se ampliar a atenção à problemática das mulheres na sociedade brasileira.
Ela já ensaia alguns gestos que vão nessa direção, de valorização das mulheres e, sobretudo, de implementação de políticas públicas que possam dar mais cidadania àsbrasileiras. E vir a conter a violência contra mulher tãorecorrente em nosso país. Então há da parte das mulheres uma expectativa extremamente positiva em relação ao que a presidenta Dilma possa fazer nos quatro anos de governo.
Fonte:
http://africas.com.br/site/index.php/archives/11631?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+com/ZLVz+(AFRICAS.com.br)
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