13 de Maio Primeiro o ferro marca a violências nas costas. Depois o ferro alisa a vergonha nos cabelos. Na verdade o que se precisa é jogar o ferro fora, É quebrar todos os elos dessa corrente de desesperos.” (Cuti)
A abolição inacabada e as expectativas de futuro
Treze de maio traição/liberdade sem asas
Treze de maio – já dia 14/ O Y da encruzilhada: seguir, banzar, voltar?
o que temos nós lutamos para sobreviver
e também somos esta pátria
em nós ela está plantada
nela crispamos raízes de enxerto
mas sentimos e mutuamente arraigamos
quem sabe só com isto:
que ela é nossa também, sem favor e sem pedir respiramos seu ar
tapamos-destapamos horizontes.
e então vamos rasgar a máscara do treze, para arrancar a dívida real com nossas próprias mãos.
“Banzo – saudade negra”, energias para mudanças de um destino que os negros não traçaram, por outro lado, construiu-se a resistência. Por isso, no Centenário da Abolição,
como uma revisão histórica, Abdias do Nascimento argumentou: como esquecer que a República, logo após a abolição, cassou ao ex-escravo seu
direito de votar, inscrevendo na Constituição que só aos alfabetizados se concedia a prerrogativa desse direito cívico? Como esquecer que, após nosso banimento do trabalho livre e assalariado, o código penal de 1890 veio definir o delito de vadiagem para
aqueles que não tinham trabalho, como mais uma forma de manter o negro à mercê do arbítrio e da violência policiais? Ainda mais, definiram como crime a capoeira, a própria expressão cultural africana. Reprimiram com toda a violência do estado policial
as religiões afro-brasileiras, cujos terreiros se viram duramente invadidos, os fiéis e os sacerdotes presos, pelo crime de praticar sua fé religiosa. Temos vivido num estado de terror: desde 1890, o negro vem sendo o preso político mais ignorado desse País.
No que diz respeito aos 123 anos de abolição da escravidão, embora a onda comemorativa tenha sido bem menor do que no Centenário da Abolição, permanecem as críticas:
É engraçado que um silêncio gritante se fez presente nesses 123 anos. Tem gente que não gosta desse assunto. Tem gente que não quer que falemos que ainda há muita discriminação, que há muito preconceito. Sem dúvida nós avançamos, mas algo está errado. A maioria do nosso povo negro permanece morando em favelas, trabalhando
nas casas como domésticos, fora das universidades, do Parlamento, do Executivo, e, dos
primeiros escalões das áreas públicas e privada, a não ser como raras exceções. É esse preconceito velado que queremos eliminar.
A tensão na sociedade brasileira era algo constante nas fazendas, nas casas-grande, mas também nas senzalas e nos quilombos, nas irmandades, nas cidades do império [na época da escravidão]. [...] Não podemos nos esquivar de um fato a liberdade foi
conquistada formalmente à 123 anos, mas agora o próximo passo dos descendentes daqueles que tanto lutaram tem que ser levado a frente, seja para a implementação de políticas públicas, seja para a aquisição de seu sonho à época, ou seja, a conquista da terra.
Matilde Ribeiro
Três livros dos pesquisadores entrevistados que retratam o flagelo da escravidão e de como a abolição da escravatura moldou a sociedade brasileira no tocante a inserção do negro |
Princesa Isabel, conselheiro Rodrigo Augusto da Silva (que enviou o projeto de lei à Câmara dos Deputados), conselheiro Antônio da Silva Prado e demais membros do gabinete de 10 de março, 1888 |
Os olhares também se voltaram para a participação dos livres e libertos, negros e mestiços, no movimento popular que derrotou um sistema de mais de trezentos anos. O movimento antiescravista estava articulado a uma luta por cidadania, que terminou impulsionando a abolição", esclarece Walter Fraga Filho, um dos mais importantes especialistas sobre a vida dos ex-escravos, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), e autor do livro Encruzilhadas da Liberdade: história de escravos e libertos na Bahia (1870-1910), pela editora da UNICAMP, numa entrevista dada à Revista de História, em 2009. Atualmente ele estende sua pesquisa sobre ex-escravos e seus descendentes, estudando essas famílias até 1930. "Havia uma grande expectativa em relação ao fim do cativeiro e não apenas o fim da escravidão que estava na pauta. Escravos e libertos esperavam que a abolição tivesse como desfecho o acesso à terra, à escola ou como se dizia na época à `instrução pública`, à liberdade de movimento e maior inserção como cidadãos. Foram estas expectativas que movimentaram os populares contra o cativeiro e esquentaram as comemorações do 13 de maio. Interessante observar que passada a festa, as autoridades buscaram esvaziar o 13 de maio de sua feição reivindicatória, transformando-o apenas numa data solene e oficial. Nesse quesito, até agora as autoridades republicanas estão vencendo o jogo, pois os 120 anos da abolição passaram praticamente despercebidos", conclui Walter.
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