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sábado, 14 de maio de 2011

13 de Maio - Comemorar o quê?

13 de Maio Primeiro o ferro marca a violências nas costas. Depois o ferro alisa a vergonha nos cabelos. Na verdade o que se precisa é jogar o ferro fora, É quebrar todos os elos dessa corrente de desesperos.” (Cuti)

A abolição inacabada e as expectativas de futuro

Treze de maio traição/liberdade sem asas

Treze de maio – já dia 14/ O Y da encruzilhada: seguir, banzar, voltar?

o que temos nós lutamos para sobreviver

e também somos esta pátria

em nós ela está plantada

nela crispamos raízes de enxerto

mas sentimos e mutuamente arraigamos

quem sabe só com isto:

que ela é nossa também, sem favor e sem pedir respiramos seu ar

tapamos-destapamos horizontes.

e então vamos rasgar a máscara do treze, para arrancar a dívida real com nossas próprias mãos.

“Banzo – saudade negra”, energias para mudanças de um destino que os negros não traçaram, por outro lado, construiu-se a resistência. Por isso, no Centenário da Abolição,

como uma revisão histórica, Abdias do Nascimento argumentou: como esquecer que a República, logo após a abolição, cassou ao ex-escravo seu

direito de votar, inscrevendo na Constituição que só aos alfabetizados se concedia a prerrogativa desse direito cívico? Como esquecer que, após nosso banimento do trabalho livre e assalariado, o código penal de 1890 veio definir o delito de vadiagem para

aqueles que não tinham trabalho, como mais uma forma de manter o negro à mercê do arbítrio e da violência policiais? Ainda mais, definiram como crime a capoeira, a própria expressão cultural africana. Reprimiram com toda a violência do estado policial

as religiões afro-brasileiras, cujos terreiros se viram duramente invadidos, os fiéis e os sacerdotes presos, pelo crime de praticar sua fé religiosa. Temos vivido num estado de terror: desde 1890, o negro vem sendo o preso político mais ignorado desse País.

No que diz respeito aos 123 anos de abolição da escravidão, embora a onda comemorativa tenha sido bem menor do que no Centenário da Abolição, permanecem as críticas:

É engraçado que um silêncio gritante se fez presente nesses 123 anos. Tem gente que não gosta desse assunto. Tem gente que não quer que falemos que ainda há muita discriminação, que há muito preconceito. Sem dúvida nós avançamos, mas algo está errado. A maioria do nosso povo negro permanece morando em favelas, trabalhando

nas casas como domésticos, fora das universidades, do Parlamento, do Executivo, e, dos

primeiros escalões das áreas públicas e privada, a não ser como raras exceções. É esse preconceito velado que queremos eliminar.

A tensão na sociedade brasileira era algo constante nas fazendas, nas casas-grande, mas também nas senzalas e nos quilombos, nas irmandades, nas cidades do império [na época da escravidão]. [...] Não podemos nos esquivar de um fato a liberdade foi

conquistada formalmente à 123 anos, mas agora o próximo passo dos descendentes daqueles que tanto lutaram tem que ser levado a frente, seja para a implementação de políticas públicas, seja para a aquisição de seu sonho à época, ou seja, a conquista da terra.

Matilde Ribeiro

Três especialistas sobre escravidão e abolição falam sobre o 13 de Maio e de como esta data ainda carece de análise e compreensão da sociedade brasileira

por Amilton Pinheiro fotos Divulgação
O que nos espanta é que a história, pós-abolição, quase nada falou a respeito da luta dos escravos libertos e livres no processo que deflagrou no 13 de Maio. "Desde o final da década de 80, especialmente na esteira das comemorações dos 100 anos da abolição, a historiografia brasileira vem reconsiderando os significados e implicações da Lei de 13 de Maio, que aboliu em definitivo a escravidão no Brasil. Depois de mais de cem anos daquele evento muita coisa se perdeu ou foi esquecida e a abolição terminou se transformando numa concessão da Princesa Isabel. Os últimos estudos promoveram uma revisão profunda, que permitiu recolocar a abolição como um momento crucial da história do Brasil e marco fundamental para se pensar as tensões sociais e raciais que se seguiram ao fim do cativeiro. Uma das consequências dessa revisão foi avaliar com mais profundidade a participação de escravos, libertos e livres no processo que culminou na abolição. A escravidão chegou ao fim não apenas porque os escravos fugiram, mas também porque suas ações tiveram efeito político capaz de influenciar debates dos parlamentares e atitudes das próprias camadas senhoriais".

Três livros dos pesquisadores entrevistados que retratam o flagelo da escravidão e de como a abolição da escravatura moldou a sociedade brasileira no tocante a inserção do negro
Princesa Isabel, conselheiro Rodrigo Augusto da Silva (que enviou o projeto de lei à Câmara dos Deputados), conselheiro Antônio da Silva Prado e demais membros do gabinete de 10 de março, 1888

Os olhares também se voltaram para a participação dos livres e libertos, negros e mestiços, no movimento popular que derrotou um sistema de mais de trezentos anos. O movimento antiescravista estava articulado a uma luta por cidadania, que terminou impulsionando a abolição", esclarece Walter Fraga Filho, um dos mais importantes especialistas sobre a vida dos ex-escravos, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), e autor do livro Encruzilhadas da Liberdade: história de escravos e libertos na Bahia (1870-1910), pela editora da UNICAMP, numa entrevista dada à Revista de História, em 2009. Atualmente ele estende sua pesquisa sobre ex-escravos e seus descendentes, estudando essas famílias até 1930. "Havia uma grande expectativa em relação ao fim do cativeiro e não apenas o fim da escravidão que estava na pauta. Escravos e libertos esperavam que a abolição tivesse como desfecho o acesso à terra, à escola ou como se dizia na época à `instrução pública`, à liberdade de movimento e maior inserção como cidadãos. Foram estas expectativas que movimentaram os populares contra o cativeiro e esquentaram as comemorações do 13 de maio. Interessante observar que passada a festa, as autoridades buscaram esvaziar o 13 de maio de sua feição reivindicatória, transformando-o apenas numa data solene e oficial. Nesse quesito, até agora as autoridades republicanas estão vencendo o jogo, pois os 120 anos da abolição passaram praticamente despercebidos", conclui Walter.

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