por Abdel Latif Hasan Abdel Latif
médico palestino
Em 15 de maio último, Israel completou 63 anos.
Aparentemente, há muitos motivos para comemorar.
Nas ruínas da Palestina plural, engendrada ao longo de milhares de anos, pela mistura e encontro de povos, os sionistas criaram seu singular Estado exclusivamente judeu.
Após limpeza étnica e genocídio contra os nativos daquela Terra, sobraram poucos palestinos em Israel. São tratados como estrangeiros e cidadãos de terceira categoria dentro de sua própria pátria. Vivem ameaçados de expulsão a qualquer hora.
Os palestinos nos territórios ocupados em 1967 vivem em bantustões, guetos e campos de prisioneiros, controlados por Israel.
O resto dos palestinos, que vivem nos miseráveis campos de refugiados nos países vizinhos, são problema criado pelos judeus, mas a ser resolvido pelos árabes, conforme apologia sionista.
Após 63 anos, os palestinos não representam de fato uma ameaça real para o Estado Judeu, pelo menos a curto prazo. Por que então não há comemoração em Israel?
É verdade que o processo de paz entre árabes e israelenses está paralisado. Mas isso não deveria causar maiores preocupações para Israel, porque quando as negociações retornarem, a chamada comunidade internacional se submeteria novamente à posição israelense, resumida a seguir.
A paz na região significa a segurança absoluta do Estado judeu e rendição árabe, mesmo quando essa alegada segurança significa negar o direito básico dos palestinos e árabes em geral e violar o Direito Internacional.
A segurança de Israel é uma constante imutável da política americana e européia em geral. Todos os presidentes americanos e líderes europeus, antes de mencionar paz, justiça, Deus ou qualquer outro assunto, lembram de seu compromisso inabalável com a segurança e futuro do Estado Judeu.
É inimaginável alguém no mundo perguntar por que um Estado rico e armado até os dentes, com todo seu arsenal nuclear e potência financeira mundial, necessita de garantias internacionais para sua segurança, enquanto os palestinos, miseráveis, expulsos da sua terra, massacrados, presos em guetos e campos, não merecem ao menos o mesmo tratamento, ou pelo menos terem mencionados seus anseios em relação a sua segurança e seu futuro?
Por que tentar responder essas perguntas, se é Israel quem controla os governos americanos, independentemente de quem ocupa a Casa Branca, como declarou o então primeiro ministro Israel Sharon?
Por que então não comemorar?
Os sionistas criaram o Estado mais potente no Oriente Médio, capaz de enfrentar todos os países árabes juntos. Recebe apoio político incondicional de seu patrocinador e servo americano, além da mais do que generosa ajuda financeira, que ultrapassa os 3 bilhões de dólares anuais, fora das doações das comunidades judaicas ao redor do mundo.
Israel, apesar de tudo o que fez e está fazendo, continua sendo tratado como parte da civilização ocidental, goza de impunidade total, apesar de seus crimes contra os palestinos e vizinhos árabes e desrespeito ao Direito internacional em relação a vários países, inclusive Estados Unidos, Argentina, Itália, Rússia etc.
Os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade deixam de ser crimes, se praticados por Israel.
Nenhum país no mundo desrespeitou e viola de forma sistêmica e intencional as leis e resoluções internacionais, como faz Israel, sem ser punido sequer uma vez.
O mundo que se auto-proclama civilizado adotou novos conceitos em relação a Israel: massacrar crianças árabes é ato de auto-defesa; campos de concentração para palestinos em Gaza e Cisjordânia são Estado palestino; negar os direitos básicos dos palestinos a um Estado livre e independente é garantia de segurança para Israel; discriminação contra os não judeus em Israel é necessário para manter o caráter judaico do Estado; ter lei de retorno de dois mil anos a judeus e negar o direito dos palestinos expulsos desde 1948 a retornar é essência do Estado judeu; “democracia” que exclui uma significativa parte da população (os não judeus) é “democracia” etc
O Ocidente, hipócrita e não totalmente redimido de seu passado colonialista, não apenas aceita e defende essas distorções e anomalias, mas exigem que os palestinos e árabes devem se submeter a elas.
Após 63 anos, não há comemorações em Israel e não poderia ser diferente. Um Estado projetado, construído e mantido com princípios racistas, no século XX e nesse início do século XXI, não apenas enfrenta as sombras do passado e presente criminosos, como também as incertezas de seu futuro.
Questões como cidadania, nacionalidade, quem é judeu, relação com os palestinos “cidadãos” do Estado judeu e palestinos em geral, a relação de Israel com seus vizinhos árabes, aceitar ou não um Estado Palestino, os refugiados, as fronteiras indefinidas, Constituição inexistente e muitas outras questões não podem ser ignoradas por muito tempo.
A resposta sionista a todas essas questões é simples: construir o maior gueto de todos os tempos. A espada e a muralha de aço são as únicas respostas que os sionistas apresentam.
Os sionistas nada aprenderam dos sábios judeus não sionistas. Aquele que mata com espada, com espada morrerá.
Israel é um projeto colonialista inacabado. Suas vítimas estão vivas e determinadas a viver e corrigir a injustiça histórica cometida contra o povo palestino e sua pátria.
Os milhões massacrados, destinados a serem esquecidos, estão batendo às portas da Palestina.
As casas palestinas, historicamente, tinham janelas olhando para o céu e portas sempre abertas.
Os muros não fazem parte da paisagem palestina.
É uma questão de tempo para os verdadeiros donos do espaço e tempo palestinos devolverem à Palestina sua verdadeira essência: terra de todas as religiões e todos os profetas, terra livre para homens livres!
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