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Enfim assuntos sobre o passado e sobre nosso cotidiano relacionado à História do Brasil e do Mundo.








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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Eu Não Quero Voltar Sozinho

Excelente curta para trabalhar a questão da Homoafetividade nas salas de aula.

Ubiratan Castro

O diretor-geral da Fundação Pedro Calmon, Ubiratan Castro, doutor em história e integrante da Academia de Letras da Bahia, faz um apelo pela conservação da história da Bahia. Em entrevista ao Bahia Notícias pede que a sociedade se mobilize para que o governo do Estado eleja como prioridade para a gestão corrente a construção de uma nova sede para o Arquivo Público. Castro revela que a atual sede, da Quinta do Tanque, além dos problemas estruturais, já está saturada: lá não cabe mais nada e o que está pode ser perdido. O gestor torna público ainda que uma verba para a prevenção de incêndios foi captada no BNDES, mas a obra ainda não foi realizada devido à burocracia do Estado.

Por Rafael Rodrigues

Bahia Notícias: As informações que chegam ao Bahia Notícias são de que o arquivo público baiano precisa de ajuda. Infiltrações nas paredes, umidade e falta de estrutura colocariam em risco os arquivos históricos da Bahia, e fala-se até na necessidade da construção de uma nova sede. Qual o raio-X do arquivo público baiano hoje?

Ubiratan Castro: Atualmente, trabalhamos o planejamento do arquivo público baiano em duas vertentes: a primeira é a preservação da atual sede, o da Quinta do Tanque, que é um prédio tombado, mas que não tem as condições ideais para a preservação deste acervo. Estamos realizando reparos. Trabalhamos para março e abril, para evitar que os arquivos sejam atingidos pelo período de fortes chuvas. Estamos realizando serviços de tapar as pingueiras, cuidar do assoalho, mas há muita umidade naquele prédio. Os padres jesuítas que fundaram aquele local o fizeram ali, porque sabiam que lá não faltaria água, pois naquela localidade há duas fontes de água. Agora, justamente aquele local é onde se guarda o arquivo público do estado. A outra vertente, é de que precisamos do apoio e mobilização da imprensa e de toda a sociedade para a construção de uma nova sede, em um terreno a ser definido. Assim como é muito importante a obra da Nova Fonte Nova, a população tem que entender a importância de também construir um arquivo público, para preservar a nossa história e a nossa cidadania. Conversamos com o Instituto de Arquitetos da Bahia (IAB), lançaremos um concurso para que arquitetos nos ajudem a construir essa sede. Nosso arquivo público é o segundo mais importante do país, já que Salvador foi sede da colônia por três séculos. Está atrás apenas do arquivo público nacional, que fica no Rio de Janeiro.

BN: O que esse arquivo público novo significaria na preservação da memória do Estado?

UC: Nas grades bibliotecas do mundo, há documentos que estão em ótimo estado de conservação com mais de 3 mil, 4 mil anos. De acordo com especialistas, não é colocar apenas no ar condicionado gelado. Não adianta fazer isso, pois na verdade você tem que manter mais em uma temperatura estável. E se você manter uma temperatura estável a 28°, isso é melhor que um ar condicionado que liga e desliga, que esquenta e esfria. Há toda uma arquitetura especializada hoje na construção de arquivos. Há todo um recurso hoje de microfilmagem, de digitalização, que permitem que qualquer pessoa consulte os dados do arquivo sem precisar pegar no papel. Hoje você pode guardar esse papel original com o maior cuidado, e abrir o acesso às informações na mídia eletrônica. Em computadores, ou mesmo colocar isso na rede, na internet.

BN: Atualmente, como se dá essa consulta ao arquivo público baiano?

UC: Temos uma sala de consulta dos impressos, que é o carro-chefe, que cotidianamente pesquisadores, não só de Salvador, de outros estados e de outros países se dirigem; e temos uma sala de consultas de microfilmes. Paralelo à essa pesquisa, que é mais de interesse científico, existem as demandas do cidadão, que nós prestamos também atendimento quando eles buscam a comprovação de diretos, de posse de terras, de escolaridade. Por exemplo, temos muita demanda por conta da comunidade européia, de pessoas que tem interesse de identificar parentes de outras origens para pleitear cidadanias de outros países. Isso tem aumentado cada vez mais. Mas também prestamos um atendimento à distância, porque no momento a base que o arquivo tem ainda não está disponibilizada na internet. Nesses quatro anos voltamos a alimentar a base e procedemos também a revisão, para agora, neste momento, a gente se preparar para, em um futuro próximo, disponibilizar esses arquivos na internet e esse pesquisador já saber do que nós dispomos. Hoje existe um atendimento à distância, em que nós recebemos um e-mail com as demandas de consulta, e verificamos se temos, e se tivermos informamos. Temos também uma biblioteca especializada em história da Bahia, e prestamos, além do cidadão, atendimento a alguns órgãos da administração pública: a Procuradoria-Geral do Estado (PGE), a Secretaria de Administração, a Secretaria de Segurança Pública, e outros. Foram cerca de 30 mil consultas ao arquivo em 2010. Apesar disso, a maioria das pessoas não conhece o arquivo público ou sabe sua utilidade.

BN: Qual a urgência da criação, então, desse novo arquivo público? Quanto tempo o atual arquivo ainda suporta?

UC: A demanda pela construção de um novo arquivo é pra já. O arquivo na Quinta do Tanque está congelado. Ele não agüenta mais, não tem mais espaço, não tem mais condições físicas de acompanhar o crescimento da documentação baiana, tanto pública quanto privada. Então já está no momento em que nós estamos deixando de recolher a memória do estado, por conta da falta de espaço. Corremos o risco, pelas más condições de temperatura, de umidade, de perder a memória que nós já temos guardadas. É uma coisa que para nós é prioridade é resolver neste segundo mandato do governador Jaques Wagner (PT) resolver a questão do arquivo público. A gente sabe que temos um mandato para resolver isso, são quatro anos, parece que é muito, mas não é. A gente tem que ter toda uma tarefa técnica, de definir prioridades, temos uma tarefa de buscar os recursos e temos a tarefa da construção. A construção de um prédio complexo, porque o arquivo é uma coisa complexa, além de todas as dificuldades burocráticas.

BN: O que seriam essas dificuldades burocráticas?

UC: Por exemplo: nosso arquivo conseguiu recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, para a instalação de todo um sistema anti-fogo, de prevenção de incêndio, que é fundamental, o prédio do arquivo público é muito antigo e tem deficiências. Mas a legislação exige que a gente tenha um parecer favorável do corpo de bombeiros. Há quase dois anos que esse processo está no corpo de bombeiros sem que seja dado um parecer, pra dizer que ta bom, ou que não. Na verdade, a gente vem lutando para não perder esse recurso, e você veja que devido a um procedimento burocrático, algo que é tão urgente como proteger o arquivo público, um prédio velho, do fogo, é adiado por anos. A gente tem uma burocracia muito lenta. A gente precisa hoje urgentemente deste parecer. Infelizmente boa parte das pessoas tem uma visão extremamente errada de arquivo. Acha que arquivo é papel velho, e papel velho está lá só ocupando espaço. Nos papeis velhos é que estão nossos direitos, nossa memória. Direitos inclusive financeiros. Quando você compra uma terra, você tem que levantar uma cadeia sucessória para saber quem foi que comprou aquela terra, de onde é que ela veio, se é grilado ou não, se quem ta lhe vendendo é um oportunista. Porque se não, você compra e não leva. Então, tudo isso depende do arquivo.

BN: Qual era o estado do arquivo público quando assumiu o governo, em 2007?

UC: Não havia esse hábito de preservar, da pratica de higienização dos depósitos e de intensificar essa limpeza, porque a higienização é necessária para que a gente não precise fazer a restauração. Se você estiver limpo, com a ventilação e luminosidade devida, você está favorecendo a sobrevida daquele documento. Mas se você nunca limpar, inevitavelmente acabar perdendo parte do arquivo.

BN: Foi encontrado algum tipo de arquivo que já não tinha mais como ser recuperado, em alto estágio de decomposição?

UC: Não, nós não encontramos uma situação dessa. O que encontramos foi poeira, que a gente tem aperfeiçoado a limpeza, e microrganismos. Mas agora, se você for ao arquivo, não vai mais encontrar nenhum documento no chão. Todos estão nas estantes, em caixas, classificados, acondicionados. Agora claro que existem documentos mais fragilizados.

BN: Mudando um pouco de assunto, quanto à iniciativa do atual secretário de Comunicação, Albino Rubim, de manter o corte do financiamento de projetos de órgãos ligados à Secult pelo Fundo de Cultura, atrapalha sua gestão? O senhor considera essa atitude correta?

UC: Eu considero injusto que o poder público dispute a mesma verba com os produtores culturais do Fundo de Cultura, então a decisão é correta. Mas nós continuamos buscando financiamento para os nossos projetos via Ministério da Cultura e as dezenas de editais pelo país.

BN: O senhor foi, por quatro anos, presidente da Fundação Palmares, quando pôde ajudar a formulação da política internacional de aproximação do Brasil com países da África. Integrou, inclusive, a comitiva presidencial em visitas oficiais. Agora, o presidente Lula está sendo criticado por ter afirmado que o ditador da Líbia, Muamar Kadhafi, era seu “irmão” e “amigo”. Lula chegou a dizer que era um "preconceito premeditado" da imprensa a crítica à sua proximidade com ditadores da região. Agora, acredita que essa aproximação foi prejudicial ao Brasil?

UC: É o papel do Brasil se relacionar com estes países e respeitar o poder constituído. Claro que em uma situação extrema, como a que se vive agora, com o exército em jatos atirando contra a população, o presidente Lula condenaria, como o governo brasileiro, agora com a presidente Dilma Rousseff, o faz. Mas a política do presidente Lula de aproximação com a África foi extremamente positiva. Nos quatro anos que estive na Fundação Palmares pude participar de ao menos dez viagens à África, seja com o ministro Gilberto Gil (Cultural), seja com o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), seja na comitiva do presidente Lula. É uma política sem nenhuma pretensão hegemônica, de negociações em condição de igualdade. Lula foi o primeiro presidente brasileiro que visitou oficialmente um país africano. Tanto que o presidente do Senegal disse que Lula foi o presidente negro do Brasil.

* Tereza Matos, diretora do Arquivo Público, também participou da entrevista com informações sobre o arquivo.

Curso de Introdução ao Marxismo

Cronograma

BLOCO TEMÁTICODATATEMAREFERÊNCIA
ABERTURA26/3A vigência do marxismo na atualidade
INTRODUÇÃO AO MARXISMO02/4MARX E ENGELS: Vida e obra
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ENGELS, F. ENGELS, F.Sobre Karl Marx.Discurso no funeral de Karl Marx
16/4A concepção materialista da história
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ENGELS, F. O papel do trabalho na transformação do macaco em homem.
MARX, Karl. Prefácio.Para a Crítica da Economia Política
ECONOMIA30/4A crítica do capital e as contradições da sociedade burguesa
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MARX. Karl. Trabalho assalariado e capital.
ORGANIZAÇÃO POLÍTICA14/5Estado, luta de classes e aestratégia socialistaENGELS, F; MARX. Karl.Mensagem a liga dos comunistas.
HISTÓRIA28/5O lugar do marxismo na história
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ENGELS. F. Do socialismo utópico ao socialismo científico
LUTA DE CLASSES E MOV. SOCIAIS11/6Luta de classes e movimentos sociais
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PEREIRA, F; MARINHO, S. Condições materiais, Luta de Classes e Socialismo
MARXISMO NO BRASIL18/06Marxismo e lutas sociais no Brasil
ver apresentação

PEREIRA, F; MARINHO, S. Marxismo e Lutas Sociais no Brasil
Clique nos textos destacados para fazer o download.
Todas as apresentações utilizadas nos cursos das turmas anteriores, bem como nas demais atividades do LEMARX, estão disponíveis neste site, no link Arquivo/Apresentações do Grupo de Estudos e Cursos.

Bibliografia Suplementar
(sugestões de leituras de apoio)

LÊNIN, Vladimir. As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo.São Paulo: Expressão Popular, 2006.
________. O Estado e a Revolução.São Paulo: Global, 1987.
________. Que fazer?São Paulo: Hucitec, 1988.
LESSA, Sérgio; TONET, Ivo. Introdução à Filosofia de Marx. São Paulo: Expressão Popular, 2008.
MANDEL, Ernest. O lugar do marxismo na história. 2 ed. São Paulo: Xamã, 2001.
MANDEL, Ernst. Introdução ao marxismo.Porto Alegre: Movimento, 1982.
Carga Horária: 32h (8 encontros de 4 horas cada).

A inscrição é aberta a toda a comunidade e é gratuita (não há cobrança de mensalidades). A ficha de inscrição deve ser preenchida e enviada para lemarx_ufba@yahoo.com.br com o assunto “CIM5 - Ficha de Inscrição”. A emissão de certificado está condicionada à participação mínima de 75% dos encontros.

O curso se realizará aos sábados, às 14:00h, de março a junho de 2011, na Faculdade de Educação da UFBA (confira programação na página: www.lemarx.faced.ufba.br/cursointmarx11_1.html).


Mais informações:

Os privilégios de ser uma mulher branca

Nestes dois anos de muita pesquisa, nunca tivemos tanta dificuldade em achar artigos que fundamentassem nossos textos. Não pela ausência de material sobre a condição da mulher negra, mas pela inexistência de textos representativos capazes de sentenciar os privilégios sociais de ser uma mulher branca. Toda via, a partir das sementes plantadas por Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, Ângela Davis e Eldridge Claever, e muitas outras, além de uma entrevista da escritoraCONCEIÇÃO EVARISTO, nós Maçãs Podres conseguirmos construir uma dialética que nos forneceu as primeiras respostas sobre este tema ainda tão pouco explorado dentro do feminismo.
"Ser uma mulher negra não é simplesmente ser uma mulher"
CONCEIÇÃO EVARISTO
Muito lúcida, a escritora CONCEIÇÃO EVARISTO explica que há diferentes implicações feministas entre ser mulher negra e ser simplesmente uma mulher:
É muito diferente (ser mulher negra e simplesmente mulher). A questão étnica pode ter um peso bem grande, mas vai depender muito da situação em que se está. Na questão do feminismo, por exemplo, enquanto as mulheres brancas precisaram sair às ruas para ficar livres da tutela do pai, do marido ou do irmão, esse não foi o nosso caso. Não precisamos lutar pra ficar livre da dominação e querer trabalhar. A gente sempre precisou trabalhar. O nosso feminismo vem para a gente se afirmar como pessoa. Eu acho que a nossa primeira luta feminista não foi contra o homem negro, mas contra os nossos patrões e patroas. Enquanto a primeira luta da mulher branca e da mulher de classe média foi contra os homens de sua própria família - e eu não estou dizendo que o homem negro não seja machista -, nós nos posicionamos primeiro contra o sistema representado, principalmente, pelo homem branco e pela mulher branca”.
Ser uma mulher branca significa ter miseráveis privilégios
Se nunca te perguntaram se a “patroa” estava em casa, quando você foi atender alguém no portão da residência onde mora; se você nunca reparou que foi vigiada por seguranças ao entrar em um Shopping Center; se você nunca se preocupou com o fato de um porteiro ou inquilino te mandar entrar pela área de serviço do condomínio privado em que mora uma amiga; se provavelmente você jamais buscou saber dos estudos que comprovam que os professores tendem a tratar melhor e dar maiores notas aos alunos e alunas brancas; ou se jamais notou que, a medida que sua escolaridade aumentava, existia cada vez menos meninas negras sentadas ao seu lado, sinta-se uma miserável privilegiada, pois provavelmente você deve ser branca.
Agora, se você já se perguntou por que te chama a atenção o fato de que a maioria das doutoras da faculdade tinha a pele clara? Ou por que sua ginecologista, dentista e psicóloga nunca eram negras? É porque você provavelmente já se incomodou ou ousou questionar os privilégios miseráveis de ser uma mulher branca. Provavelmente não foi fácil sentir que para “superar as desigualdades geradas pela histórica hegemonia masculina, você terá também que superar as ideologias complementares desse sistema de opressão, como é o caso do racismo”, como bem entendemos, ao lermos a SUELI CARNEIRO. Não é fácil, mas é necessário.
ANGELA DAVIS
Ser mulher negra significa lutar dentro dos movimentos
negro e feminista para não ser invisibilizada
ANGELA DAVIS, provavelmente a maior intelectual do movimento negro do séc. XX, sentenciou que (existe) “...uma síndrome infeliz entre alguns ativistas masculinos Pretos – que confundem sua atividade política com uma afirmação da sua masculinidade. ...Eles viram - e alguns continuam vendo – a masculinidade Preta como algo que se separa do estado de mulher Preta. Esses homens examinam mulheres Pretas como ameaça à sua obtenção da masculinidade – especialmente aquelas mulheres Pretas que tomam a iniciativa e trabalham para serem líderes no seu próprio direito.”, ou seja, é provavelmente muito comum que mulheres negras (que ainda não desenvolveram uma forte consciência feminista, ao buscarem sua afirmação pessoal quando saem de algum movimento formado predominantemente por mulheres brancas, como citou CONCEIÇÃO EVARISTO) acabem tendo seu potencial de atuação limitado pelo machismo que se estruturou na cabeça dos homens negros, filhos das diásporas africanas.
Ser uma mulher branca significa
ter o privilégio miserável de se destacar nas estatísticas
A conjugação de lutas (contra o machismo e o racismo) é tão importante e direta para o feminismo que, só com a fusão das duas práxis e teorias, é que nos foi possível sair das frias estatísticas que semopre divulgamos.
Indignadas com os atos de violência contra a mulher, nós percebemos que dos casos recentemente expostos na grande mídia, apenas duas das vítimas mostradas eram negras (Janaína Brito Conceição, de 16 anos, e Gabriela Alves Nunes, de 13 anos), e isso só ocorreu pela barbaridade do crime e logo foi esquecido, e que nenhuma das delegadas responsáveis para solucionar qualquer um estes crimes eram negras.
Ou seja, apesar de todas as estatísticas que já denunciamos aqui e todos os estudos que divulgamos, do projeto em que estampamos os nomes de vítimas fatais e dos textos em que afirmamos serem as mulheres negras as maiores vítimas da violência patriarcal, nunca havíamos ido além das impessoais estatísticas, nunca mostramos seus rostos e assim também as transformamos em números, invisibilizando o machismo racista do Brasil. 
ELDRIDGE CLAEVER
 Ser mulher negra significa "representar no imaginário popular a escravidão"
O ex-pantera negra, ELDRIDGE CLAEVER autor de “Alma no Exílio”, um dos mais contundentes e honestos relatos sobre a masculinidade, escreveu que: “não sei exatamente como a coisa funciona, quero dizer, não consigo analisar, mas sei que o homem branco fez da mulher negra o símbolo da escravidão e da mulher branca o símbolo da liberdade. Todas as vezes que abraço uma mulher negra estou abraçando a escravidão, e quando envolvo em meus braços uma mulher branca, bem, estou apertando a liberdade”.
Não existe imaginário que se mantenha no conciente coletivo se também não existirem estruturas materiais e limitações institucionais capazes de sustentar tais mitos. Ainda pesa sobre as mulheres negras todo um conjuto de impedimentos sociais que faz com que a realidade se projete na mente das pessoas, como se "naturaliza" nas novelas.
Se o feminismo é a nossa principal teoria de libertação das mentes e dos corpo, eis que então temos muita responsabilidade nisso, não?
Ser mulher branca significa
ter o privilégio miserável de representar a felicidade
Imagens o corpo das mulheres brancas
usados para expressar a liberdade, a revolução e a justiça
É difícil pra qualquer mulher consciente se ver incluída no mundo machista, mas, ao menos, nas fotos das revistas do sonho burguês ou nas belíssimas pinturas renascentistas, existem imagens que justificam o que disse Stendhal: “a beleza é a promessa da felicidade”.
Dada a simbologia machista, o corpo das mulheres brancas também é a principal representação da justiça, da liberdade e da revolução. O pior é que as meninas negras também cressem vendo e sendo influenciadas por estes signos.
Lógico que como já disse Marx: "tudo esta impregnado do seu contrário" e assim como as mulheres negras não são a "escravidão", estas representações da liberdade, da justiça e da revolução são imóveis e petrificadas, normalmente não nos atingem ao ponto de podermos nos apoiar nelas. Porém, queiramos ou não, num contexto geral, seus significados “facilitam” nossa vida, pois todas as características fisicas tidas como boas ou “apresentáveis” (cabelo, nariz, etc) estão presentes em nosso corpo, o que facilita nossa aceitação conosco e com o mundo. Gisele Bündchen que diga.
Mas, como recitou Vinicius de Morais: “o destino dos homens é a liberdade”. Não sendo somente um símbolo sexual, mas um objeto de liberdade, este patrimônio físico que naturalizara em nós, nos coisifica. Seja para o homem branco (que nos utiliza como troféu) ou, como disse Cleaver, para o homem negro, que encontra nas mulheres brancas “o equilíbrio e a igualdade" que lhe negaram (cada um com seu privilegio miserável, eles como homens e nós como brancas, eles oprimidos como negros e nós como mulheres), como todo objeto, nossa função é garantir parte da satisfação e da liberdade do “proprietário”, executando trabalhos degradantes ou gerenciando a degradação de outrem, assim como ocorria com os escravos e seus feitores.
Outros privilégios de ser uma branca
Não sou a voz das mulheres negras, sei que os espaços negros são uma forma de resistência e enfrentamento frente ao racismo. Por respeito, sei onde posso entrar e onde não posso invadir. Lembro-me de uma baile black que tinha aqui na cidade, onde entrava somente negros e negras, e os brancos ficavam indignados. Não me indignava, pois sabia que todos os espaços eram espaços de brancos. Por tanto, peço licença para expor a parte que me cabe.
Como menina branca, percebi muito cedo minha vantagem em relação as meninas negras. Só não sabia que esta vantagem se estenderia por toda minha vida. E que vinha de tantos séculos.
Foi nas “brincadeiras de meninas brancas” que vi como era difícil, para elas, sonharem os mesmo sonhos que eu. Um sonho de criança só é sonho quando você consegue prolongar sua sensação de olhos abertos. Mas se cada imagem que te cerca, te lembra que aquele sonho não pode ser possível, a realidade fica marcada na sua cabeça, invertendo a lógica do desenvolvimento humano. Para duas amigas de infância, ao abrirem os olhos, elas viam que a verdade delas estava na cor da pele, na quantidade de melanina. E isso limitou o desenvolvimento lúdico delas.
Como tantas outras meninas dos anos de 1980, imitávamos os passos das paquitas, mexendo e remexendo longos e lisos cabelos. Na hora de dançarmos com as madeixas, eu não pensava duas vezes, mas para elas isso era como se rasgasse a pele. A solução elaborada foi amarrarem um pano na cabeça. E lá estava eu, lúdica, de cabelo solto e as duas precisando superar as barreiras e disfarçar suas características físicas com panos na cabeça. É em momentos como este que fico indignada com as frases do tipo: “a dificuldade estimula a criatividade”. Sim, eu sei que é verdade, porém a que custo?
Este era somente um dos grandes problemas enfrentados por minhas amigas negras, outro eram as bonecas. As cruéis imitações da Barbie. Nós olhávamos e víamos a brancura, o olho azul tão desejável, o cabelo amarelo, as roupas, tudo que as meninas deveriam sonhar e desejar e isso era o que minhas amigas nunca iriam ter. E por mais que soubessem, elas ainda tentavam aproximar-se desta figura.
O cabelo é parte considerável na auto estima das mulheres. As duas alisavam os cabelos, e isso é um ritual de embranquecimento. Não havia nenhuma menina negra na vila onde eu morava que não tivesse o cabelo alisado. Era quase uma regra de “limpeza”. Mesmo sabendo da artificialidade e de como era difícil e doloroso, todas se embranqueciam. Tinha de fazer. Poderia até faltar comida, mas o alisante estava lá todo final do mês. Eu não precisava me preocupar com isso, afinal “Deus foi bom comigo” – foi o que uma vizinha de mamãe falou.
Realmente eu não me preocupava. Até que um dia vi uma de minhas amigas sem cabelo. O cabelo havia caído e a química queimado o couro cabeludo. Ela chorava e eu não sabia o que falar. Disse pra ela que ela não precisava fazer mais aquilo. E ela disse que não poderia sair na rua com “o cabelo ruim”. Ela queria “um cabelo bom”. Ou melhor, um cabelo de branco como o meu! Ao vê-la sofrer tanto, percebi um dos meus primeiros privilégios.
Lembro da gente saindo para festas e como era mais fácil me arrumar. Não tinha muito que pensar nestas horas. E olha que eu nem era tão “feminina” assim. Uma delas ficava muito insegura, arrumando o cabelo o dia todo, tentando deixá-lo o mais liso possível. O mais próximo do “desejável”. Nesta época, as meninas molhavam o cabelo para deixar menos crespo, molhavam o cabelo toda hora no banheiro. Os meninos as chamavam de “as molhadinhas”. Em locais de “caça”, eu e as outras meninas brancas ficávamos despreocupadas. Sabíamos que pelo menos dois meninos iam nos tirar pra dançar. Com elas, nem isso.
Hoje sei tal realidade é definidora da saúde mental de uma pessoa. Influencia em sua identidade, na ausência ou não de autoconfiança e no decorrer de seu futuro e visão de mundo. Eis outro privilégio.
Não precisar agradar tanto um menino, evita um cem número de violências de gênero. Poder dizer não, se ele quisesse transar sem camisinha, era a possibilidade de “negociar” o uso do preservativo, sem medo de perder o cara. O que me dava coragem de dizer “não” era o fato de ele me aceitar como eu sou: branca.

Quantas pessoas já repararam, por exemplo,
que ao pesquisarem a palavra “negra” no Google
imagens, os termos que aparecem relacionados
são “negra safada”, “mulher negra” e “negra feia”
ouse fizermos a mesma pesquisa com a palavra
“branca”...

Para as meninas negras era contrário. A “insegurança” nascida do racismo fazia que elas se submetessem a “tudo” que o cara quisesse, pois não tinham a certeza que outro poderia querê-las. Transar sem camisinha é comum nas periferias nascidas com o fim da escravidão. O racismo faz com que meninas negras façam coisas que não querem fazer. Na descoberta do corpo e da sexualidade, as meninas negras se encontram muito mais vulneráveis a uma gravidez do que meninas brancas. Era como se esta “ficada” fosse a única chance de uma noite ou de uma vida toda.
O tratamento que uma de nós recebe é diferente, mas a menina com mais melanina e que tinha o fenótipo negro mais marcado, nos disse o quanto o cara havia invadido o corpo dela. Numa dessas invasões, ela acabou engravidando. Mesmo ainda não sendo feminista fui a única que dei a opção do aborto. Mas para elas, que sentiam que pouco tinha a conquistar, “perder” um filho é inimaginável.
Mesmo sabendo que várias mulheres havia realizado o aborto, ela teve o filho. Um lindo menino de fenótipo negro. Mas de olhos verdes, pele branca e “cabelo amarelado”. Ele era o orgulho da casa. Outro privilégio: uma criança não-negra no meio de seis crianças negras se destaca. Eu via como esta criança era tratada e como as outras eram apagadas da existência.
...os termos relacionados são
“branca de neve” e “folha branca".
Sabendo que a plataforma Google
oferece-nos os resultados mais pesquisados,
esta informação deve refletir algo, não é?

Hoje enquanto mulher branca reconheço outros vários privilégios. Sei como é dolorido abrir mão de privilégios, mas quis abrir mão deles. Sei que reconhecer meu privilégio é fundamental para o fim do racismo e sei que em alguns espaços é importante me posicionar, pois vivendo o politicamente correto, os brancos construíram sua identidade em cima do racismo, se somos o que somos, se temos esta auto estima é porque outros tiveram rasgadas sua identidade e reconhecer estes privilégios é um dos poucos papéis que os brancos tem para a eliminação do racismo.
Para as minhas amigas os objetivos, os sonhos que elas conseguiram alcançar, as vontades e os limites eram totalmente diferentes dos que a sociedade me ofereceram. Hoje uma delas trabalha como vendedora e outra de doméstica, enquanto eu sou uma "cientista social". Eis mais um privilégio que não me envaidesse, mas comprova a lógica expostas neste texto.

Conclusão:
Por que é preciso enegrecer o feminismo?
No capitalismo a liberdade é medida por um bom cargo, por uma alta remuneração, pelo acúmulo de propriedades e dinheiro e principalmente pelo número de pessoas excluídas. Este é o principal indicativo que comprova como a sociedade das desigualdades sexuais se estruturou em oferecer privilégios miseráveis, para algumas mulheres, que garantam a manutenção do que se originou com o primeiro patriracado: a exclusão social/sexual.
O sistema econômico patriarcal não quebrará mesmo se todas as mulheres assumirem todos postos de chefia da política, dos bancos e das industrias, pois isso significará queos homens da alta burguesia, donos de 99% das grandes propriedades privadas¹, estarão apenas nos colocando pra gerenciar a exploração dos homens pobres e de outras mulheres. E nem mesmo se este bolo for dividido entre os gêneros, ainda assim, existirá mulheres aliendas, com seus corpos excluidos, das riquezas materiais e humanas.
No capitalismo, nem todas as atividades são transformadoras ou geram mais-valia e bem sabemos que, numa sociedade hieraquizada, jamais existirão cargos de chefia para todas as pessoas, o que garante a hierarquia da desigualdade economia, ou seja, no atual sistema econômico patriarcal, assim como em sua origem, a tal liberdade não é para tod@s. Se hoje existe alguma “liberdade para as mulheres” no Brasil, não é por que nós somos mulheres, mas por nós seremos brancas ou burguesas. Assim como há espaço para algumas mulheres gerenciarem a exploração alheia, também existe (em menor escala) os mesmo cargos de gerência para algumas pessoas da comunidade negra (lógico que mais para os homens, do que mulheres, já que a economia responde as lógicas do machismo). Introduzir uma pequena parte dos excluidos dentro dos sistemas patriarcais é uma tática de manutenção que existe desde os tempos da Roma Antiga.
Se quase 50 anos após a comercialização das pílulas contraceptivas, ainda precisamos urgentemente da construção de creches, em parte, isso nos revela o quanto as conquistas do movimento de mulheres burguesas, responderam as necessidades imediatas impostas pelo próprio capitalismo. A filhas dos grandes burgueses brancos e da classe média urbana, na maioria, foram as que mais colheram os frutos de tais conquistas. Conquistas estas que converteram as antigas operárias das fábricas, em vendedoras de magazines e funcionárias de fraldários.
LÉLIA GONZALEZ
Se as mulheres negras, em sua maioria, continuam em condições tão próximas da imediata anulação do escravismo, conclui-se que as "melhoras tão midiáticas" não ocorram para a grande massa de mulheres brasileiras. Se as mulheres, que hoje trabalham em atividades de grande status, precisam de outras mulheres para cuidarem de seus lares e filhos, perguntamos quem são estas cuidadoras e onde estão os filhos destas mulheres?
É fundamental para a construção de uma consciência feminista mais ampla, que nós não venhamos a nos referir a questões raciais como um “altruísmo humanista”, comum aos filósofos brancos, mas como uma questão fundamental para uma nova elevação das práxis feministas.
Isso fica fácil de reconhecer e comprovar quando usamos as mesmas letras da grandeLÉLIA GONZALEZ:
“Em pesquisa que realizamos com mulheres negras de baixa renda (1983), muito poucas, dentre nossas entrevistadas, começaram a trabalhar já adultas. Migrantes na grande maioria (principalmente vindas de Minas Gerais, do Nordeste ou do interior do Estado do Rio de Janeiro), e muitas vezes já tendo “trabalhado na roça”, entravam na força de trabalho por volta dos 8-9 anos de idade para “ajudar em casa”. Desnecessário dizer que, nos centros urbanos, começavam a trabalhar “em casa de família”, além de tentarem freqüentar alguma escola. Pouquíssimas conseguiram “fazer o primário”. Um dos depoimentos mais significativos para nós, o de Maria, fala-nos das dificuldades da menina negra e pobre, filha de pai desconhecido, em face de um ensino unidirecionado, voltado para valores que não os dela. E, contando seus problemas de aprendizagem, ela não deixava de criticar o comportamento de professores (autoritariamente colonialistas) que, na verdade, só fazem reproduzir práticas que induzem nossas crianças a deixar de lado uma escola onde os privilégios de raça, classe e sexo constituem o grande ideal a ser atingido, através do saber ‘por excelência’, emanado da cultura ‘por excelência’: a ocidental burguesa.”
Observem as características sócioculturais das pessoas a quem estes números "antigos" (1983) se referem, são os mesmo perfis da pesquisa que a Organização Internacional do Trabalho revelou em seu último relatório. Se certa vez “sua mente já desejou a insurreição e suas mãos trabalharam para a revolução”, te perguntamos o que é revolução (feminista)?
Com certeza, ela não é a mínima igualdade salarial, ou a conquista de espaços economicamente planejados no mercado de trabalho, que produzem ainda mais mais-valia, ou a exigência de representação nos altos cargos políticos de um Estado estruturado para violentar mulheres e exterminar pessoas pobres e negras.
Muito sabiamente, Maquiavel disse: “dividir para dominar”, e nós feministas (brancas) certamente, ao de não denunciarmos os privilégios miseráveis que o patriarcado nos oferece como mulheres brancas (para nos manter dentro de nossa condição de mulher), contribuimos para confirmar as maquiavélicas estruturas do “príncipado burguês”. Ainda bem, mas a custo de muito sofrimento, que sempre existe uma feminista (negra) que levanta a mão e coloca, nas pautas de nossas reuniões, a ferida aberta da opressão racista patriarcal. Até o dia que ela se cansa de falar e, assim como também fizeram (fizemos com) as meninas negras da escola, que se sentavam ao nosso lado na carteira) ela sae de nosso lado e vai buscar sozinha (com as demais companheiras) seu lugar ao sol. Que esta realidade mude, antes da nova primavera dos povos (feministas).

Viva o movimento Feminista!
Texto: Ana Clara Marques e Patrick Monteiro
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1-De acordo com Humphrey Institute of Public Affairs, da universidade estado de Minnesota (WOLF, Naomi: O mito da beleza), apesar de mais de sermos 50% da população e ocuparmos dois terços das horas trabalhadas, somos donas de menos de 1% das grandes propriedades capitalistas. Em seu primeiro encontro com as militantes do Movimento de Libertação das Mulheres, Simone de Beauvoir levantou uma questão da qual ela mesma afirmou não saber a resposta (“Como, segundo vocês, se articulam exatamente a opressão patriarcal e capitalista?”); uma afirmação, conseqüente desta mesma questão, foi sentenciava por Beauvoir : “toda a tática que as mulheres devem seguir, depende disso (desta resposta)”. Sua preocupação mostrou-se legitima, pois segundo ela, para não se estagnar, o feminismo após as conquistas da década de 1960, deveria estudar o papel das mulheres dentro das relações de exploração capitalistas. Contudo, dentro da realidade brasileira, não nos basta articular só as questões de classe, precisamos atingir o cerne das questões raciais/étnicas, pois o abismo social brasileiro se concentra, em grande parte, nos resquícios da exploração escravista.

* Este texto é uma continuação de "PARA ALÉM DA COR DA PELE: A DIALÉTICA DOS FEMINISMOS BRASILEIROS".
**- para escrever este texto também tivemos como referência os linques abaixo:

http://www.fundaj.gov.br/geral/observanordeste/valdenice.pdf
http://aqueladeborah.wordpress.com/2010/04/09/os-privilegios-em-ser-branca/
http://asppir.wordpress.com/artigos/a-opiniao-de-uma-mulher-branca-acerca-da-mulher-negra-e-a-resposta-de-um-homem-negro/
http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2011/02/17/brasileiros-sao-mais-europeus-do-que-se-imaginava-923828390.asp
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Tm6wln6iSCsJ:portaldovoluntario.org.br/blogs/54329/posts/228+o+racismo+das+mulheres+brancas&cd=8&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&source=www.google.com.br
http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST69/Silvana_Verissimo_69.pdf
http://www.ueangola.com/index.php/criticas-e-ensaios/item/190-o-corpo-feminino-da-na%C3%A7%C3%A3o.html

Fonte: Blog Maças Podres