A fortaleza de São Jorge da Mina foi construída com o objetivo de escoar e defender o ouro que das ricas regiões auríferas do interior era enviado para o litoral. Posteriormente, torna-se o primeiro entreposto de escravos da era moderna.
Castelo de São Jorge da Mina, também designado por Castelo da Mina, Feitoria da Mina, e posteriormente por Fortaleza de São Jorge da Mina, Fortaleza da Mina, ou simplesmente "Mina", localiza-se na atual cidade de Elmina, no Gana, no litoral da África Ocidental. Após a sua ocupação pelos Holandeses em 1637, o seu nome passou a figurar na cartografia apenas como Elmina.
Erguida em 1482, foi a primeira grande construção européia na África tropical. Para várias tribos e numerosos reinos, Elmina simboliza o holocausto provocado pelo tráfico negreiro. Para as nações européias que exploraram a costa africana, como Portugal, Holanda, Inglaterra, Dinamarca, Suécia e Alemanha, o lugar foi fonte de riquezas durante 400 anos. De lá saiu o ouro que financiou as navegações portuguesas no século XVI. E os escravos que fizeram prosperar as usinas de açúcar do Brasil.
A Costa do Ouro
Apesar de desconhecida pelos europeus até o século XV, a Costa do Ouro figura em textos árabes desde o século VII. A descrição mais detalhada do local foi feita em 1068, por um geógrafo cordobês chamado Abu Ubaid Abdala ibn Abd el-Aziz ibn Mohammed ibn Ayyub al-Bakri. Os árabes negociavam com os africanos muito antes dos portugueses.
Por volta de 1460, a exploração da costa africana principiou a render frutos. Nas décadas seguintes, a Coroa portuguesa empreendeu a construção de feitorias, entrepostos comerciais fortificados, de modo a intensificar o comércio de produtos europeus por gêneros como o ouro, especiarias e escravos. Adicionalmente, estas estruturas proporcionavam segurança e apoio às atividades de navegação e descobrimentos na costa ocidental africana.
Em 1469, Afonso V de Portugal (1438-1481), arrendou a exploração da costa da Guiné, na forma de monopólio comercial, por cinco anos (mais um ao fim do contrato). O primeiro arrematante foi um comerciante de Lisboa, Fernão Gomes, que, além da renda, ficava obrigado à descoberta anual de 100 léguas da costa, a partir da Serra Leoa. Foi durante a vigência desse contrato, que se alcançou a região da Mina. Por essa razão, aquele trecho do litoral passou a ser designado como Costa do Ouro nos mapas da época.
Um negócio lucrativo e arriscado
Imagine o oeste da África no final do século XV: um grande ajuntamento de tribos primitivas numerosas, que agregavam nativos facilmente aprisionáveis por inimigos tecnologicamente muito superiores. O sonho de um escravagista europeu. Pois é. Só que os portugueses não encontraram nada disso na Costa do Ouro. O que havia ali eram reinos organizados, com grandes populações e agricultura desenvolvida, acostumados ao comércio, pois negociavam sal e ouro com árabes desde o século VII.
Comprar barato e vender caro. Essa era a cartada dos europeus para obter ouro, a única mercadoria que lhes interessava na África até o século XVI. Um negócio da China — quer dizer, da África. Cientes dos gostos dos nativos, os portugueses levavam ouro e davam escravos, roupas árabes e artigos de cobre e latão, como colares, panelas e "bacias de urinar". Os penicos eram um sucesso absoluto no escambo. Só em Elmina mais de 270 000 foram trocados por ouro entre 1504 e 1582.
Esses povos, como os ashantis, os fantis e os akans, viviam em pé de guerra uns com os outros. É que, para eles, a riqueza se media principalmente pelo número de súditos do reino. A maneira mais prática de conseguir gente era atacar uma outra tribo e escravizar seus habitantes. Da noite para o dia, viajantes, nômades e populações inteiras de aldeias próximas às fronteiras de reinos e tribos viravam escravos.
Os lusos não tinham concorrentes europeus, mas, em compensação, dependiam de humores políticos instáveis para poder negociar o ouro com sossego — além de abastecer seus fortes. Diplomáticos, em 1480 conseguiram aliar-se a um desses reinos, o dos akans, da bacia do Rio Volta, que lhes cedeu o terreno para a construção de Elmina.
Mas a população recebeu-os com um pé atrás. Era a primeira vez que estrangeiros se instalavam na terra. Os akans temiam que os forasteiros se intrometessem em seus assuntos internos. Por isso deixaram bem claro que a cabeça-de-praia era alugada, não vendida. Nos anos seguintes, muitas vezes os europeus foram ameaçados e tiveram que pagar tributos extras quando um reino do interior conquistava um da costa.
A perda da confiança dos reis poderia representar o fim de um forte e quilos de ouro a menos para a Coroa. A necessidade de preservar a política de boa vizinhança era tanta que fazia parte do regulamento de Elmina "manter a paz com os negros". O que, é claro, incluía distribuir presentes. Em 1520, por exemplo, o monarca do reino de Wassa recebeu dos portugueses uma túnica árabe, um gorro vermelho e um penico. Apesar do esforço, motins e ataques aconteceram várias vezes.
O Castelo de São Jorge da Mina
Com a subida ao trono de João II de Portugal (1481-1495), este soberano determinou a construção de um novo entreposto, visando proteger o comércio do ouro naquele litoral. Para esse fim, nos primeiros meses de 1482 uma expedição de onze navios partiu de Lisboa, sob o comando de Diogo de Azambuja, transportando uma tropa de 600 homens - apoiados por uma centena de pedreiros e carpinteiros - e material de construção como lastro nos navios - pedra lavrada e numerada, gesso e cal. Outras fontes apontam a data de partida como 12 de Dezembro de 1481, com a chegada um mês depois. A sua missão era erguer uma fortificação com funções de feitoria, o chamado Castelo de São Jorge da Mina, posteriormente denominado como Castelo Velho da Mina, na foz do Rio Benya.
Ali passaram a ser trocados trigo, tecidos, cavalos e conchas ("zimbo"), por ouro (até 400 kg/ano) e escravos, estes com intensidade crescente a partir do século XVI. Em cerca de vinte dias foram erguidas as paredes da torre, uma cerca e algumas casas. Ao abrigo da fortificação-feitoria desenvolveu-se um núcleo urbano geminado, informalmente denominado como "Duas Partes", um habitado por europeus, outro por nativos. A povoação de São Jorge da Mina recebeu Carta de Foral em 1486.
O primeiro comandante do forte-feitoria foi o próprio Diogo de Azambuja, entre 1482 e 1484. Entre os seus comandados, na ocasião, encontrava-se o marinheiro genovês Cristóvão Colombo. Posteriormente o comando foi ocupado por elementos ilustres no reino, nomeados por períodos de três anos. Estes oficiais tinham vastos poderes outorgados pela Coroa, ainda que sujeitos a um rígido regimento, de forma a coibir o contrabando do ouro ou a prática de outras atividades ilícitas. A sua autoridade estendia-se a outros entrepostos fundados posteriormente naquela costa, como os de Axim (Axém), Osu, Shema (Shamá), Waddan, Cantor e Benim.
Por volta de 1550, calcula-se que os portugueses tirassem de lá 310 quilos de ouro por ano. Na época, o tráfico de escravos funcionava ao contrário: os lusos levavam quinquilharias e escravos negros de outras regiões, como a costa do Benin, para os reis locais em troca do metal. Em 1500, 10% das reservas mundiais de ouro provinham da região.
Ao longo do século XVI, ataques de corsários franceses às embarcações portuguesas no regresso da Índia, da Mina e do Brasil tornaram-se freqüentes. O mesmo se registrou com relação à Inglaterra, com quem foi assinado um tratado em 1570.
O castelo vira uma senzala
A tranqüilidade dos portugueses na Costa do Ouro acabou no final do século XVI. De olho nos lucros fabulosos com o ouro africano, holandeses, ingleses e dinamarqueses começaram a construir seus próprios fortes. Para piorar, a descoberta do metal precioso pelos espanhóis no México e no Peru fez seu preço despencar na Europa.
Além disso, por volta de 1620, a Mina portuguesa começou a secar. Sem ouro, os europeus mudaram o rumo do negócio. Em vez de levar escravos negros do Benin para trocar por metal com os chefes locais, passam a exportá-los para as cada vez mais lucrativas plantações de cana-de-açúcar, algodão e tabaco das colônias americanas, como o Brasil.
O monopólio lusitano da Costa do Ouro foi quebrado em 29 de Agosto de 1637, quando uma frota holandesa tomou a Fortaleza de São Jorge da Mina, após cinco dias de resistência. As tropas holandesas eram formadas por mercenários europeus e tapuias, índios brasileiros de língua jê que haviam se aliado ao conde Maurício de Nassau durante a invasão holandesa de Pernambuco.
Os Holandeses fizeram de São Jorge da Mina a capital da Costa do Ouro Holandesa, e rebatizando o forte como Fort de Veer, Fort Java, Fort Scomarus e Fort Naglas, procedendo-lhe obras de reforço e de ampliação. A partir de então, o castelo tornou-se um pólo exportador de mão-de-obra escrava para o continente americano.
Para garantir o controle do tráfico de escravos, os holandeses também tomaram o forte português de Shama, em 1638, e outros entrepostos portugueses na África, São Tomé, Benguela e Luanda, em 1641. Era o fim de 160 anos de dominação portuguesa. Para negociar escravos em Elmina, traficantes brasileiros e lusos passaram a pagar imposto aos holandeses. Entre os séculos XVII e XVIII, o comércio de escravos atingiu o pico: a média anual de escravos embarcados na Costa do Ouro variava entre 10 000 e 35 000 indivíduos, segundo o historiador ganês Kwesi Anquandah. Só no século XVIII, a região exportou cerca de 677 000 negros para as Américas, boa parte por Elmina.
Os escravos vindos da Costa do Ouro chegaram ao Brasil em maior número entre 1700 e 1775. Apesar de pertencerem a diversas etnias, receberam todos o nome genérico de "negros da mina" ou "minas", por terem sido embarcados no porto de Elmina. Eram prisioneiros de guerra, bem pouco dispostos a suportar calados a escravidão. Os minas participaram de todas as revoltas de escravos do século XVIII e da formação de inúmeros quilombos. Eram destemidos e pouco obedientes. Também tinham aversão a trabalhos pouco higiênicos. Um povo mina, os akans — em cujo território foi construído o castelo de Elmina —, protagonizou um caso raro de final feliz. Desembarcados no Suriname, fugiram para o interior da selva, onde reconstruíram sua antiga sociedade. Hoje são chamados de maroons e ainda vivem na Amazônia surinamesa.
Do século XIX aos nossos dias
O tráfico rendeu à Europa e suas colônias lucros gordos e mão-de-obra farta até 1850, quando a Inglaterra passou a adotar medidas duras para reprimi-lo — entre elas, capturar navios negreiros.
Em 1873 o forte foi conquistado pelos britânicos. Em 1957, quando a República de Gana tornou-se independente, seu controle passou para os africanos. A estrutura da fortificação foi reconhecida pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade em 1979.
O monumento sofreu uma ampla intervenção de restauração e conservação a cargo do governo de Gana na década de 1990 e, atualmente encontra-se aberto à visitação turística. Em vez de escravos, o velho castelo hoje recebe estudantes barulhentos e meia dúzia de turistas.
Fontes: Revista Super Interessante / Wikipédia / Revista Além Mar
Texto de uma explanaçao magnifica.Triste.Sem duvida muito interessante.Mas eu acho que Elmina deveria ser destruido. Não existir nem como lembrança de um passado cheio de atrocidades ao nosso povo.
ResponderExcluirExcelente texto mesmo. Porém, discordo que deveria ser destruído Sedivaldo. A memória é importante e não deve ser destruída, que nem os campos de concentração. O que o ser humano pode fazer com outro sempre deve ficar na nossa memória como aviso para nossa e futuras gerações!!!
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