Para Reginaldo Santos (1996), os processos de entendimentos sobre a concepção de patrimônio não são somente um reflexo das ações somadas de diversos agentes no processo de transformação de idéias, e sim o resultado de invenções discursivas previamente formuladas e com o propósito de formar uma consciência histórico-cultural definida.
Tomando a diferenciação de Riegl, ressalta Choay que a diferença fundamental entre o monumento e o monumento histórico é que o primeiro foi criado deliberadamente para relacionar a memória e o presente dos indivíduos, ao que o último é criado posteriormente à construção de determinada estrutura, no momento em que esta é preservada entre várias edificações existentes (POSSAMAI, 2000:15)
Para dialogar sobre essa diferenciação é necessário citar neste texto a obra “Documento e Monumento”, de Jacques Le Goff, em contraponto à obra Alegoria do Patrimônio, de Françoise Choay. Segundo Le Goff, monumento é aquilo que pode ser evocado do passado, e documento é algo que é selecionado pelo historiador. Choay deda a mesma definição para monumento, porém o primeiro faz a evocação do passado, e o segundo o considera como lembrança. Em termos históricos, Le Goff quer demonstrar que o monumento é um vestígio humano de uma Memória, e Choay considera o monumento como uma simples lembrança de uma determinada característica da sociedade.
Tais matérias da memória podem apresentar-se sob duas formas principais: os monumentos, herança do passado, e os documentos, escolha do historiador (LE GOFF, 2000:103)
A veracidade da representação do monumento é o que se questiona até os dias de hoje. Segundo o próprio Jacques Le Goff, o monumento é como um utensílio de pesquisa, tornando-se um documento. Porém a verdade conduz o pesquisador a questionar o documento inúmeras vezes, considerando a vida de seu autor, e, principalmente, o contexto em que viveu. Na carta de Pero Vaz de Caminha, por exemplo, sabe-se que ele descreve os silvícolas como indígenas, como pode ser observado neste trecho: “Dali avistaram índios que andavam pela praia. Uns sete ou oito [...] A feição deles é serem pardos, quase avermelhados, de rostos regulares e narizes bem feito; andam nus, sem nenhuma cobertura; nem de cobrir nenhuma coisa, nem de mostrar suas vergonhas. E sobre isto são tão inocentes” Neste trecho, a verdade deste documento é colocada em questão. Sabe-se que Pero Vaz Caminha era um homem honrado, com extrema fé na doutrina católica. Necessariamente, os índios estavam preocupados em mostrar suas “vergonhas” ou simplesmente eram inocentes? O questionamento que se faz a um documento facilita os estudos diante de um monumento que se tornará um patrimônio e que conduzirá a estudos sobre uma identidade nacional específica.
Iniciada na Idade Média, consolidada no início do Renascimento, enunciada pelos grandes eruditos do século XIX, a crítica documental tradicional foi essencialmente uma procura de autenticidade. Ela persegue os falsos e, por conseqüência, atribuí uma importância fundamental à datação (LE GOFF, 2000:110).
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