Leia o discurso: "Eu tenho um sonho" - Português
Local: Washington – Capital Federal dos Estados Unidos.
Personagem: um pastor afro-americano de apenas 34 anos de idade, discursando para uma multidão estimada em 250 mil de pessoas.
Resultado: um ano depois foi aprovada a Lei dos Direitos Civis – o primeiro passo no Combate ao Racismo dado pelo Governo Federal Norte-Americano.
Efeito Colateral: no dia 4 de abril de 1968, com apenas 39 anos, o mesmo orador foi assassinado.
O jovem pastor era Martin Luther King Junior – um dos principais lideres na luta contra a discriminação racial nos Estados Unidos. A Marcha de Washington foi um marco histórico da militância negra que mostrou sua força e organização.
Os coordenadores da passeata estimavam que conseguissem no máximo colocar 100 mil pessoas nas ruas. Igrejas e organizações não governamentais estavam auxiliando nesse transporte. A TV tinha uma visão mais tímida, falava de apenas 25 mil manifestantes.
O começo do evento estava marcado para as 13 horas e 30 minutos. O trajeto seria sair com a passeata atrás da Casa Branca, cruzar as principais vias de Washington, terminando defronte ao Lincoln Memorial. Mas uma bela surpresa animou os organizadores – antes da passeata já tinham conseguido reunir 250 mil pessoas.
Quem eram esses participantes da Marcha de Washington? Não eram só negros e militantes. O movimento de luta pelos Direitos Civis foi abraçado por fazendeiros, advogados, estudantes, operários, até brancos e estrelas de cinema.
Com alguns minutos de atraso começou o ato político, com a cantora afro-americana Camila Willians, cantou o hino nacional norte-americano, acompanhada em coro por todos os presentes. Em seguida falaram as lideranças, que tinham cada um não mais que 8 minutos.
Já eram 3 horas da tarde de um forte verão americano. O publico aguardam ansiosamente a fala do maior orador do dia. Quando o sindicalista Philip Randolph
– respeitável em seus 79 anos de idade. Ele tinha sido o maior idealizador da Marcha, há mais de 20 anos atrás. Randolph presidia a Associação dos Cabineiros de Vagões-Dormitórios. Ele anunciou a fala de Martin Luther King Junior, o publico foi ao delírio. Era o líder moral dos Estados Unidos.
Antes de falar, uma estrondosa salva de palmas recebeu Luther King. Ele iniciou sua fala explicando a realização da Marcha e o porquê do palanque estar daquele local – o Monumento em homenagem ao ex-presidente Abraham Lincoln. Ele foi o presidente que assinou a promulgação da Abolição da Escravidão e p0or isso teve que enfrentar uma Guerra Civil.
Luther King lembrou, porém que o negro ainda não era um cidadão livre. Falou da luta pela garantia dentro da Constituição dos direitos a vida, liberdade e a busca da felicidade. Respondendo as alas radicais do movimento negro representada por Malcolm X, ele disse que o povo negro não deveria matar a sede de liberdade na taça do ódio e da revolta, apesar de argumentar que não deveria ficar satisfeitos com meias-verdades dada pelas elites do país.
Emocionado o reverendo batista largou o discurso e começou a improvisar num trecho muito conhecido hoje "... eu tenho um sonho, que um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos de ex-escravos e os filhos de ex-senhores de escravos possam se sentar juntos à mesa da fraternidade". Foram minutos de silencio, acompanhado pela multidão em lagrimas, como narra o escritor negro James Balwin.
Luther King terminou seu discurso pedindo que todos desses as mãos e cantassem um velho canto religioso dos tempos da escravidão " livres finalmente! Livres finalmente! Graças a Deus Todo-Poderoso, estamos livres finalmente!".
No período da tarde, o então presidente John Kennedy recebeu uma comissão de lideranças da Marcha em seu gabinete de governo, declarando apoio à pauta de reivindicação. Mas não foi ele que colocou a proposta em aprovação pelo Congresso Americano, pois menos de 3 meses depois, ele foi assassinado numa visita oficial a Dallas, no estado do Texas.
"Has anybody here
Seen my old friend Martin
Can you tell me?
Where he has gone
'Coos he freed a lot of people
But it seems the good die young
I just looked around
And he was gone" Canção - Abraham Martin and John –
cantada por Marvin Gaye
OS BASTIDORES DA MARCHA SEGUNDO MALCOLM X
A Marcha teve uma analise acida por Malcolm X, que a apelidou de "Farsa de Washington". Ele reconhece que houve uma adesão de pessoas que antes comportavam de uma forma passiva contra o racismo. Ele critica a participação de negros burgueses ao movimento, fretando trens com ar condicionado e indo para o evento em aviões, enquanto a imensa maioria viajava para a capital federal com carros caindo aos pedaços ou de carona.
O líder do grupo Mulçumano Pretos denunciava que a NAACP – National Association for the Advancement of Colored People (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor) por angariar boa parte dos donativos causando inclusive uma divergência séria durante a preparação do evento.
A causa disso foi a doação de mais de 800 mil dólares de organização não governamentais não negras, para organização da Marcha. O dinheiro teria vindo, pois as lideranças brancas seriam as verdadeiras articuladoras da Marcha, que deveria ser de protesto e raiva.
Malcolm também criticava a ingenuidade das lideranças que serviram de instrumentos para o marketing político internacional ao deixar que Kennedy passasse a imagem de grande aprovador das reivindicações, quando na verdade , ele tinha resistência aos pedidos.
Em seu livro autobiográfico, Malcolm dizia que era inimaginável ter revolucionários numa marcha onde a única canção era We Shall Overcome (Nós Venceremos), onde os negros oprimidos davam as mãos aos seus opressores. Ele era contrario a tática de Luther King de dar a outra face – modo cristão de fazer militância negra.
Há que indique um pouco de ciúme nas palavras de Malcolm por não ser chamado a discursar. Ele cita que uma pesquisa do jornal New York Times o colocava em segundo lugar como o orador mais procurado nos meios estudantis, perdendo só para o senador Barry Goldwater.
Mas suas palavras são verdadeiras, quando a grande Marcha de Randolph imaginada para pressionar o Governo em Washington foi manipulada e transformou-se num enorme espetáculo cinematográfico e inofensivo.
Essa era a diferença entre Martin Luther King e Malcolm X – um queria uma reforma pró negros dentro do sistema americano e o outro desejava mesmo a revolução popular, destruindo o que existia. Os dois foram barbaramente mortos, onde os mandantes dos crimes são obscuros. Há quem diga que o FBI matinha vigilância ininterrupta nos dois.
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Fonte: Marco Negro
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