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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

África

O PENSADOR

A escultura designada O Pensador é uma das mais belas estatuetas de origem tchokwe, constituindo hoje um referencial da cultura inerente a todos angolanos, visto tratar-se do símbolo da cultura nacional. Ela representa a figura de um ancião que pode ser uma mulher ou um homem. Concebida simetricamente, com a face ligeiramente inclinada para baixo, exprime um subjectivismo intencional porque, em Angola, os idosos ocupam um estatuto privilegiado. Os mais velhos representam a sabedoria, a experiência de longos anos e o conhecimento dos segredos da vida.

Conta-se que O Pensador tem a seguinte origem: No nordeste de Angola existe o cesto de adivinhação, o ngombo, e o adivinhador usa pequenas figuras, esculpidas em madeira, as quais irão determinar a sorte do consulente. Curiosamente, foram estas figurinhas que vieram a inspirar a famosa figura nacional d’ O Pensador.
Essa imagem é, hoje, uma figura emblemática de Angola, que aparece inclusive na filigrana das notas de kwanza, a moeda nacional. É considerada uma obra de arte nativa fidedignamente angolana. À semelhança de qualquer figura emblemática de um povo — como, por exemplo, o "Zé Povinho" em Portugal, o "John Bull" na Inglaterra ou o "Tio Sam" nos Estados Unidos —, o Pensador tem origem numa "tradição inventada" ou "convencionada".
As primeiras figuras d’ O Pensador foram esculpidas nas oficinas do Museu do Dundo, ao final da década de 40 do século XX. Em 1947, por iniciativa da Diamang, a então Companhia dos Diamantes da Lunda, foi criado na povoação do Dundo um museu de arte tradicional e de colecções arqueológicas e etnográficas. Funcionários da empresa, na maioria belgas e portugueses, contrataram artesãos locais e os incentivaram a esculpir na madeira, ou a modelar no barro, figuras que fossem genuinamente angolanas mas, ao mesmo tempo, que suas formas se aproximassem de uma estética que julgavam ser mais convencional no sentido ocidental.
Hoje, pode-se adquirir estatuetas d’ O Pensador em galerias, lojas e feiras de artesanato, em diferentes dimensões e materiais, como lembrança de Angola.

PALANCA NEGRA GIGANTE

A Palanca Negra Gigante (Hippotragus niger, var.) é o mais belo antílope africano. Valoriza-o, ainda mais, além da beleza das formas, o facto de só existir em Angola, e em número escasso, pois a espécie está classificada como em grave perigo de extinção (IUCN, 1996). Sua caça é rigorosamente proibida, como medida de protecção.

Estes belíssimos animais viviam em pequenas manadas de seis a doze indivíduos, frequentando as orlas e o interior de matas abertas, próximas da água e dos prados. Mas era frequente vê-los isolados ou em casais.

A palavra Hippotragus deriva da aglutinação dos termos gregos latinizadas "hippo" (que significa cavalo) e tragus (que significa bode ou antílope). Ainda que nada tenha a ver com qualquer perissodáctilo (família dos cavalos), este antílope possui uma cauda longa e cheia, uma cimeira erecta, orelhas longas e pontiagudas e um pescoço largo e quase vertical, que fazem lembrar, efectivamente, o perfil de um equídeo.
Uma manada de palancas negras, nas orlas das matas que frequentam, é dos mais belos quadros que se pode admirar em Angola, contudo, isso hoje é quase impossível, a não ser em fotografias ou pinturas. Depois de 20 anos sem ser vista, a palanca negra gigante foi redescoberta em 2005, no Kuando Kubango.
No passado, os cornos da palanca negra eram utilizados como ornamento decorativo. Extraordinariamente longos e robustos, chegam a atingir mais de um metro e meio de comprimento, formando, cada um, uma semi-circunferência pela sua curvatura.
Actualmente, os jogadores da selecção angolana de futebol são conhecidos como “os palancas negras”.

WELWITSCHIA

Welwitschia é um género de plantas suculentas, consistindo numa única espécie, a famosa Welwitschia mirabilis, só encontrada no deserto ao sul de Angola. Esta espécie foi baptizada a partir do nome do Dr. Friedrich Welwitsch, que contribuiu para o conhecimento desta e de muitas outras plantas de Angola. Devido às suas características únicas, incluindo o seu lento crescimento, a Welwitschia é considerada uma espécie ameaçada e tornou-se um símbolo da cultura nacional pela sua resistência e longevidade.

É uma planta rasteira, formada por um caule lenhoso que não cresce, uma enorme raiz aprumada e duas folhas apenas, provenientes dos cotilédones da semente. As folhas, em forma de fita larga, continuam a crescer durante toda a vida da planta, uma vez que possuem meristemas basais. Com o tempo, as folhas podem atingir mais de dois metros de comprimento e tornam-se esfarrapadas nas extremidades. É difícil avaliar a idade que estas plantas atingem, mas pensa-se que possam viver mais de 1.000 anos.
A Welwitschia mirabilis é uma planta dióica, ou seja, os cones masculinos e femininos nascem em plantas diferentes. Tradicionalmente, esta espécie foi classificada como uma gimnospérmica (como os pinheiros e plantas semelhantes), mas actualmente é classificada como uma gnetófita, uma divisão das plantas verdes que produzem sementes (espermatófitas).
Apesar do clima em que vive, a Welwitschia consegue absorver a água do orvalho, através das folhas. Esta espécie tem ainda uma característica fisiológica em comum com as crassuláceas (as plantas com folhas carnudas ou suculentas, como os cactos): o metabolismo ácido - durante o dia, as folhas mantêm os estomas fechados, para impedir a transpiração, mas à noite eles abrem-se, deixam entrar o dióxido de carbono necessário à fotossíntese e armazenam-no, na forma dos ácidos málico e isocítrico nos vacúolos das suas células; durante o dia, estes ácidos libertam o CO2 e convertem-no em glicose, através das reacções conhecidas como ciclo de Calvin.
A maior Welwitschia conhecida, apelidada de "A grande Welwitschia", mede 1.4 m de altura e mais de 4 m de diâmetro.

IMBONDEIRO (BAOBÁ)

Árvore de grande porte oriunda da floresta angolana do Mayombe. Esse colosso vegetal pode atingir trinta metros de altura e possui a capacidade de armazenar, em seu caule gigante, até 120.000 litros de água. Por tal razão, é denominada, também, de "árvore garrafa". O imbondeiro é considerado como sagrado, inspirando poesias, ritos e lendas. Segundo uma antiga lenda africana, por exemplo, uma vez que um morto seja sepultado dentro de um baobá, a sua alma irá viver enquanto a planta existir. Curiosamente, essa árvore tem uma vida muito longa - entre um e seis mil anos. Só a sequóia e o cedro japonês podem competir com a longevidade do baobá. Cabe salientar que essa planta foi amplamente divulgada no século XX, através da obra O Pequeno Príncipe, do escritor francês Antoine de Saint-Éxupery.

Seu nome científico é Adansonia digitata, mas é também conhecida como Baobá Africano. O imbondeiro possui um tronco muito espesso na base, chegando a atingir até nove metros de diâmetro. O seu tronco vai-se estreitando em forma de cone e apresenta grandes protuberâncias. As folhas brotam entre os meses de julho e janeiro mas, se a árvore conseguir ficar umedecida, elas podem se manter durante todo o ano. Em geral, o baobá floresce durante uma única noite, apenas, no período de maio a agosto. Durante as poucas horas da abertura das flores, os consumidores de néctares noturnos - particularmente os morcegos -, procuram assegurar a polinização da planta.
Tudo no imbondeiro serve para a sobrevivência do ser humano. Vale ressaltar que essa árvore também se constitui em uma fonte preciosa de medicamentos. Suas folhas são ricas em cálcio, ferro, proteínas e lipídios, para além de serem usadas como um poderoso anti-diarréico e para combater febres e inflamações. Um pó feito de folhas secas vem sendo utilizado para combater a anemia, o raquitismo, a disenteria, o reumatismo, a asma, e é usado, ainda, como um tônico.
Seu fruto é denominado múcua. A casca desse fruto, em forma de conchas, é utilizada pelas pessoas como tigelas. A polpa e a fibra de seus frutos são capazes de combater a diarréia, a disenteria, o sarampo e a catapora. O cerne da fruta combate a febre e inflamações no tubo digestivo; e suas sementes estão repletas de óleo vegetal, podendo ser assadas e consumidas. As raízes das mudas jovens do baobá, quando são devidamente cozinhadas, podem servir como alimento da mesma maneira que os aspargos.
Derrubar um imbondeiro é um sacrilégio em Angola. No que diz respeito à construção e carpintaria, ele só é utilizado quando não há um outro material mais adequado. Sua madeira serve para a construção de instrumentos musicais e o seu cerne rende uma fibra forte usada na fabricação de cordas e linhas.

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