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terça-feira, 5 de abril de 2011

A vitória de Maria do BBB11 e o Pós Feminismo da Rede Globo

Achei super interessante o texto da galera do Blog Maças Podres, resolvi postar mais um texto acessem: http://nucleogenerosb.blogspot.com

Decidimos interromper a publicação do estudo “Educação Sexual Feminista” para falarmos do mais banal dos temas: o resultado do Big Brother Brasil 11.
Teve feminista declarando sua torcida por ela. Mulheres comentaram que “a vitória da ‘Maria’ representou o fim do paradigma da ‘Santa vs. Puta’ dentro do tal programa”. Que seu “sucesso era um chute no machismo brasileiro”. Que aquela personagem, sim personagem, era “a amiga íntima das mulheres”. Entre outras manifestações de apoio e comemoração que nem vamos "linkar".
Passada uma semana de furdunço midiático, não há uma pessoa, com o mínino de “inclusão social”, que não saiba que foi uma Mulher a vencedora do reality show global de 2011.
Todas estas colocações acima poderiam ser verdade, e são quando analisadas como representações parciais do engodo, toda via um detalhe nos intrigou: onde se esconde a realidade quando sabemos que por trás desta proclamada “revolução da ‘periguete'" está a poderosa Rede Globo de Televisão?

A Rede Globo,
Uma arma de Manipulação social
A Rede Globo de TV jamais pode ser considerada, como não é, “um veículo de comunicação autônomo e dissonante como a grande ordem mundial”. A realidade é que a organização é o principal gatilho publicitário de massa a representar os interesses das grandes corporações mundiais na América Latina, consagrando-a como a 3ª maior emissora de televisão mundial, assistida por cerca de 140 milhões de pessoas no mundo, com média de 12 mil funcionários e um faturamento com publicidade que varia entre7,5 a 10 bilhões de reais.
Paira sobre sua história uma densa penumbra de polêmicas e acusações que vão de acordos com a mais reacionária corja da dirigência política do Brasil (dos governos militares, passando por ACM a Fernando Collor de Mello) as mais descaradas manipulações jornalísticas quando seus interesses comerciais são maculados, o caso do vídeo ao lado mostra dois "jornalistas" se manifestando durante a copa, quando o monopólio futebolístico da Globo foi questionado pelo então técnico da seleção Dunga.
A soma lógica de interesses destas duas esferas (controle econômico e político) é facilmente identificada em episódios de manipulação midiática que facilmente circulam no Youtube, mas que, desconectadas dos interesses da história política mundial e brasileira, passam despercebidas em seu real significado.
Sabemos que muitas pessoas adoram levantar teorias de conspiração e utilizar os argumentos da “coincidência” ou do “consciente coletivo”, mas a real é que as forças globais do grande capital se encontram articuladas aos interesses de domesticação das mentes populares.
Vejam algumas “coincidências”que identificamos:

2008 - Obama, Estatuto da Igualdade Racial e Éder Coimbra:
A fraude do Programa Soletrando
Este é um ano de forte relevância para a maior potência capitalista mundial, exaltado como um ano de “justiça social”. Em 24 de novembro de 2008 Barack Obama é eleito presidente dos EUA, proferindo em seu discurso a emblemática frase: “Se existe alguém que ainda duvide que os Estados Unidos seja o lugar onde todas as coisas são possíveis,que ainda questione a força de nossa democracia, a resposta está aqui esta noite”. 
Por "coincidência" , também nesta mesma época, se constituía a “Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 6.264, de 2005, do Senado Federal, que institui o Estatuto da Igualdade Racial" (PL626405). O que gerou um cem número de artigos racistas anti-institucionalização das leis afirmativas raciais e uma fortíssima articulação dos movimentos negros, ou seja, um pré processo de convulsão social.
http://caldeiraodohuck.globo.com/platb/vidadecampeao
 Seria apenas um reacionarismo das elites brancas ou um simples acaso que, depois de dez anos parado no congresso brasileiro, o projeto de lei da igualdade racial entro em regime de urgência? A resposta não podemos afirmar, mas os fatos são que dez dias após Dep. Dr. Rosinha "requer a realização de audiência de autoridades do Governo, representantes do Ministério Público Centrais Sindicais, de empresas de rádio e televisão, entidades do movimento negro para debater por temas e capítulos do PL nº 6264/05" e cinco dias antes do Barack Obama se autoproclamar o candidato oficial do Partido Democrata a Presidência da Casa Branca (31/05/08), em consonância com o sopro de euforia e esperança que se alardeava pelo mundo, devido a crescente popularidade mundial do ainda pré-eleitoral, a Rede Globo forja sua própria "justiça racial brasileira", usando a imagem de um pobre garoto negro capaz de refletir no povo um conforto similar ao da provável vitória do futuro presidente Obama.
Eis que o Brasil teria um campeão negro, fora dos gramados e das linhas do esporte, para se orgulhar por míseros poucos meses, seu nome é Éder Coimbra, o campeão do Soletrando. Entretanto, não sem antes fraudar o resultado do programa/concurso, manipulando (ou melhor alienando) seus telespectadores, como vocês poderão ver no vídeo ao lado.
No fim das contas, nem o racismo acabou nos EUA, Obama é hoje um dos mais impopulares presidentes do da recente história estadunidense, os negros ainda representam números altíssimos em termos de desigualdade e vulnerabilidade, nem o Estatuto da Igualdade Racial foi aprovado pelo governo como deveria e nem Jair Bolsonaro (pasmem, membro da Comissão de Direitos Humanos e Minorias ) teve pudores em fazer as declarações que fez em cadeia nacional. E nem a Globo reparou o "errinho" exposto no vídeo acima.

2005 - Manipulação Midiática e Preconceito Homofóbico:
A polêmica do "beijo Gay" e a Globo como educadora social
Do BBB5 a Dep. Jean Wyllys
Hoje ele é o principal representante
parlamentar a apresentar representações
contra as declarações de Jair Bonsonaro
No dia 29 março de 2005, Jean Wyllys, se consagra como o primeiro “campeão gay” do programa BBB. Seu perfil era completamente diferente dos antigos vencedores ou participantes, ele era um professor e ativista político. Ainda no início do programa, a rede Globo de TV levantava uma questão: “como se comportaria dentro da casa o primeiro ‘intelectual’ do Big Brother Brasil?”
Senador Cristovam Buarque
Depois de Estandarte da Educação,
é criticado sobre projeto que obriga
os políticos a matricularem seus
filhos em escolas públicas (VEJA)
Na época,crescia politicamente na mídia a imagem política do ex-ministro Cristovam Buarque, e sua defesa por investimentos na área da Educação. A alta exposição de Buarque gerou nos anos de 2005/06 diversas campanhas sobre a importância dos professores/educação para sociedade brasileira e uma badalada candidatura a presidência da República, algo muito similar ao que representou Marina Silva e o tema ecologia na última eleição presidencial. 
Outro aspecto interessante é que 15 dias antes da final do BBB5, estreava a novela América de Glória Perez. Nas capas das revistas mais populares estavam as imagens de Bruno Galliasso que começava a fazer o “polêmico” papel de um jovem gay incompreendido por sua família. E diferente das outras vezes, que o tema foi abordado na TV, a personagem caiu nas graças do público, mas não sem que “um detalhe” homofóbico percorresse toda a novela e sua consequência durasse até os dias de hoje: o famoso beijo gay que não ocorreu. 
o ator Bruno Galliasso,
6 anos após interpretar um gay que
teve um beijo proibido no fim da novela,
protagoniza um permitido final polígamo

Articulado e muito crítico, Jean quase não cometeu deslizes dentro do programa, a única atitude “controversa” foi que, num momento crucial do jogo, ele preferiu imunizar (dando o colar do anjo) um homem negro (o modelo Alan), que o havia perseguido dentro da casa, ao invés de dar para sua parceira de programa, e também favorita na época, Tati Pink. Sua “contestada ação” foi explicada mais ou menos deste modo: “não posso eu lutar contra a descriminação e exclusão social e reproduzir isso em alguém perseguido”. O fato acarretou a eliminação dela.
Seis anos depois, a história mostra que a vitória de Jean Wyllys, no BBB5, não mudou em nada os comportamentos homofóbicos em um país, que além de evitar debater e votar a lei de criminalização da homofobia, se mostra cada vez mais agressivo contra os homossexuais, como são os exemplos dos ataques da avenida paulista. Outro detalhe é que pouco ou nada de satisfatório se fez sobre a educação pública no Brasil, do modo como se debatia na época.
No final das contas, a premiação dada a Jean serviu como uma espécie de “justiça social” aos professores mal pagos do Brasil e contra os homossexuais de classe média, e o BBB5 acabou por ajudar a determinar o que podia e o que não podia ser visto na TV, pois os temas gays até poderiam ser apresentados em novelas, sem caricaturas, contudo, no limite do (in)tolerável, sem jamais apresentarem demonstrações afetivas que possam ir em oposição as regras heteronormativas patriarcais.
Tudo isso deu a rede Globo de Televisão a justificativa de que “não é a empresa quem é preconceituosa, mas é o público quem não está preparado para ver um beijo gay”, ou seja, a Globo se autoproferiu o papel de “real educadora” da população brasileira, que, por sinal, é um papel que ela é muito bem paga pra exercer.

O Big Brother Brasil e a Personagem Maria
1984 é uma metáfora do futuro da
humanidade dominada pelo totalitarismo,
disfarçado de democracia.Para garantir a
manutenção do Partido, os setores mais
importantes da sociedade eram controlados
pelas Teletelas, sempre sob a onipresença
do Grande Irmão.Ao clicarem na imagem para
ampiá-lapoderão ler o termo"BIG BROTHER"
Não se enganem Maçãs Podres, o BBB é um dos programas mais ideologicamente elaborados da TV mundial.
Baseado no livro 1984, ao mesmo tempo ele integra em sua dinâmica ideias religiosas, capitalistas e projetos de supercontrole governamental (Panópitco) com câmeras que serão espalhadas em escolas, esquinas ou qualquer lugar público, e que eliminará a privacidades individual, em nome da defesa do "bem-estar comum e do Estado democrático" (entendam a frase como patriarcado).
Seu mestre de cerimônias, Pedro Bial, é um homem reconhecidamente hábil em sua capacidade intelectual que faz intervenções capazes de expressarem a voz do povo. E o que dizem ser “a voz do povo”? Seus comentários tecem valores morais sobre os comportamentos dos participantes, estimulando-os a competirem e representarem o senso comum da “lei da seleção natural”, em outras palavras, “só os mais forte sobrevivem”.
Cida ao vencer o BBB4
 As pessoas são divididas em dois grupos, no programa, e acabam sempre por representarem as lutas de classe. Nesta edição foi a "Casa grande" contra "acampamento/xepa". Contudo, isso só ocorreu objetivamente após as vitórias das mulheres que antecederam Maria, Cida e Mara. Aqui precisamos fazer uma pausa, pois como vocês podem lembrar (ou ler, num dos primeiros links do texto), as justificativas para a vitória delas foi o “sentimento de pena” que o publico teve por elas. 
Mara ao vencer o BBB6
Na real, a vitória de Cida e Mara, foi um momento muito perigoso para o programa, pois refletia o fato do povo se reconhecer nas duas. Elas haviam sido sorteadas para entrar na casa e não escolhidas, como os demais participantes. Elas poderiam ser qualquer uma de nós, eram pessoas comuns, mulheres negras, fora do padrão de beleza e pobres. Colocadas em uma situação extraordinária, souberam viver a experiência dentro da casa sem deslumbres. Tanto que dos principais vencedores Kléber, Dhomini, Diego Alemão, estas foram as únicas que, vez por outra, não são reapresentadas na mídia.
Qualquer explicação piedosa sobre suas “vitórias”, se é que não há alguma manipulação nas votações, é de um elitismo atroz que não apenas subjuga as duas mulheres como lança sobre o público uma carga de preconceito repugnante.
Voltando ao tema, depois do BBB6, da Mara, a net foi inundada por vídeos que mostravam a alteração nas regras:
No BBB7
O Diogo Alemão admitiu ter sido “escolhido” fora do modo ortodoxo
No BBB8
A finalista Gyselle admite receber um salário para participar do programa
E na final o Rafinha ganhou um minuto para "desempatar" a votação contra a mesma Gyselle
No BBB10
O Marcelo Dourado admite também ser pago mensalmente e semanalmente para participar do programa:
O que nos chama atenção neste incrível conjunto de "falhas técnicas" é a também incrível "coincidência" de todos os envolvidos se tornarem campeões, ou finalistas, caso de Gyselle.

Big Brother e o significado da Personagem "Maria BBB11"
Além de diversos vídeos em que os participantes admitem atuar no programa ou nunca mandaram vídeo de inscrição, como é o caso do Wesley, o finalista e parceiro da Maria, ficamos nos perguntando qual seria a real função da atriz Maria do BBB11?
Não ficaremos aqui levantando ataques a mulher Maria, nem comentando os boatos levantados sobre o passado dela ou o fato dela negar que fez vídeos que são amplamente divulgados na net, o que nos interessa aqui é analisar a personagem “Maria do BBB11” e o que esta personagem representa ideologicamente, num ano de posse da Presidente Dilma e de lançamento do filme Bruna Surfistinha.
A vitória da personagem "Maria BBB11" poderia ter todos os aspectos que iniciam o texto. Representar a libertação sexual das mulheres, que uma mulher poderá ficar com mais de um homem sem se preocupar com que os outros acham ou que esta edição do programa pode ser um chute no machismo, restringindo a questão da luta das mulheres ao debate: "homens que ficam com varias é garanhão e mulheres que ficam com vários é galinha". Duvidamos muito disso, porque toda representação ideológica não passa de uma representação da realidade e não é uma força social ativa capaz de transforma a realidade.
A ideologia de sua vitória apenas reafirma os valores dominantes, por mais que ela venha a público negar, continuarão (como já continuam) dizendo que ela não é uma "mulher séria ou feita pra casar" e não importa o montante de dinheiro ganho por ela. Provavelmente a Maria receberá ainda mais dinheiro para satisfazer a vontade sexual de homens com pouco dinheiro, posando para revistas de nudez. Desta maneira, o que a vitória da personagem "Maria BBB11" (criada pela produção da Globo) representa é a confirmação dos signos do pretenso poder das Power Girls (neste texto abordamos as ligações entre prostituição simbólica e o falso poder "Girl Power"), muito mais do qualquer expressão da libertação sexual das mulheres.
Maria BBB11 reflete uma imagem redentora das
Girls Power pós feministas, assim como os novos contos
de fadas, refletiam a antiga delicadeza feminina
Ela é uma personagem que não abraça o feminismo, mas que, com muito esforço, lê livros de auto-ajuda de como “deixar os homens aos seus pés”. Livro que ensina “como se relacionar com homens” dentro do machismo e não como superar as condições sociais que diferenciam e dificultam os relacionamentos entre os gêneros. Livro que graças a "Maria BBB11" está entre os mais lidos do Brasil na atualidade (só isso já poderia explicar muita coisa).
Diferente da personagem Diana, articulada, aparentemente bissexual, inteligente e, dizem ter se declarado, feminista, mas que teve 75% de rejeição, a personagem "Maria BBB11" foi mostrada como uma mulher abobalhada que “sem querer” chama a atenção por seus deslizes e decotes. Alguém que atinge o sucesso que o machismo oferece as mulheres, ou seja, aceitando o que a natureza lhe deu, sem se esforçar para atingir uma consciência crítica e questionar qualquer fato para além do machismo de botequim.
Ela é a representação da vitória feminina, e não feminista, individual, assim como foi o caso de Eder Coimbra, que representou a vitória educacional de um menino negro, e não a superação dos meninos negros e pobres do Brasil, ao similar ao caso do Jean Wyllys. E quais são os mais importantes movimentos sociais de minorias no mundo dos últimos 50 anos?
Vejam acima a abertura de “Morde & Assopra” e como, disfarçadas de “passado e futuro”, as representações do masculino e do feminino (força x fragilidade; brutalidade x delicadeza; “rua x cozinha”) continuam sendo bem expostas para os olhos de crianças e adultos, reafirmando os velhos papeis sociais destinados a homens e mulheres, novela esta que conta a história de uma mulher/robô feita por um homem (será que seria “a Maria e o Boninho”?).
É exatamente com esta visão aguçada que devemos entender a vitória da personagem "Maria BBB11", igual aos outros casos mostrados neste texto, pois nada mais são que o próprio título “Morde & Assopra”. A Rede Globo (e todas grande mídias) mordem nossa consciência e bolsos, com manipulações ideológicas, e logo depois assopram nas feridas da modida, a fim de evitar convulsões sociais.
Não houve nenhum ataque ao machismo, mesmo que a Globo tenha até escrito sobre isso (num texto chamado: Vitória de Maria no 'BBB 11' dá fim à supremacia dos 'shreks'), o que deve aumentar ainda mais nossa descofiança. O que houve na vitória da personagem foi uma reafirmação do que se é chamado pós feminismo. E não importa a maquiagem politicamente correta ou a apurada elaboração tecnológica, enquanto o machismo existir, nada relativo ao feminismo virá do acaso ou da inocência dos produtores, pois as grandes emissoras de TVsão instrumentos ideológicos de manipulação de massa que só existem para reafirmar os valores do atual patriarcado econômico. Até porque este foi o mesmo BBB que eliminou, já na primeira semana, a transsexual negra e ex-garota de programa, não foi ?(tem uma matéria sobre o BBB11, no final do texto deste link) Esta é que é a Big realidade do BBB da Maria, mesmo que dentro dela possam existir outras verdades.
Ficam assim as perguntas:
Será que a população é verdadeiramente tão susceptível as manipulações midiáticas ou, na realidade, ela está a espreita de condições concretas de mudança? Seriam suas respostas positivas ao condicionamentos de Skinner, e aos BBB da vida, uma completa ausência de visão crítica ou significam apenas que a população está jogando o jogo com as peças e as regras que dispõem, a espera de uma real virada de mesa? Será que só nós consiguimos ver isso ou as pessoas se comprometem a ver o que lhes interessa (e esta sim é uma realidade que interessa ao feminismo)? No próximo texto, voltamos a nossa programação normal.
Viva o Movimento Feminista!
Texto: Ana Clara Marques e Patrick Monteiro

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