A violência protagonizada pelos jovens nas escolas é uma realidade inegável. A sociedade terá que se organizar e insurgir-se activamente contra este fenómeno. De igual modo, a escola terá que ajustar os seus conteúdos programáticos e acercar-se mais às crianças. Devido às exigências, as famílias muitas vezes destituem-se da sua função educativa, delegando-a à escola. No meio de toda esta confusão, estão as crianças, que, actuam conforme aquilo que observam e agem consoante os estímulos do meio. Meio esse que por vezes oferece modelos de conduta e referências positivas questionáveis.
O conceito de família nem sempre foi o mesmo, sofreu alterações de acordo com o evoluir dos tempos.A educação da criança não era assegurada pela família. Cedo as crianças se envolviam com os adultos em actos sociais tradicionais, de ajuda aos pais, nos labores habitacionais no caso das meninas e nos meninos na conservação dos bens e negócios familiares. Era deste modo que adquiriam conhecimentos evalores essenciais à sua formação.A família não demonstrava afectividade, embora oamor fosse um sentimento presente. A afectuosidade registava-se nas pessoas próximas às crianças tais como as amas, os serventes, os vizinhos, etc.
Hoje, em família abordam-se temas que eram impensáveis no passado. Os pais já não são os senhores absolutos da lei e da ordem, nem os únicos cuidadores dos bens da família. Por seu turno, as mães não são unicamente as protectoras do lar e zeladoras da educação e formação dos filhos.
O Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI (1996:95) reforça que:
"a família constitui o primeiro lugar de toda e qualquer educação e assegura, por isso, a ligação entre o afectivo e o cognitivo, assim como a transmissão dos valores enormas".
Todavia, devido às exigências actuais, os pais cedo colocam os filhos em amas, creches ou infantários. Chegam a casa exaustos de um dia de trabalho, têm ainda as lides domésticas ou trazem trabalho para casa. A criança é colocada sozinha a ver televisão ou a brincar sem um adulto que lhe dê atenção. A relação familiar centra-se prioritariamente nas necessidades físicas da criança, ou seja, na alimentação, nahigiene, no descanso, …
Num qualquer dicionário de português, o termo violência é descrito como uma "qualidade ou estado do que é violento; força empregada contra o direito natural de outrem; acção que se faz com o uso da força bruta; crueldade; força; tirania; coacção". Neste sentido, a violência significa obrigar a fazer algo, utilizando a força, a coagir alguém.
Desde sempre o Homem exerceu e foi alvo de violência. Recorde-se a bíblia que retrata uma série de crueldades das quais Jesus Cristo foi vitima; enforcamentos em praça pública; homens que lutavam até à morte nos coliseus para deleite da assistência; a Santa Inquisição que vitimou inúmeras pessoas, o nazismo e as excessivas guerras que povoam a história da humanidade.
Vários autores têm tentado explicar as causas deste fenómeno. Freud é da opinião que o Homem tem uma predisposição inata para a violência, nasce e cresce numambiente violento, porque também a sociedade é violenta.
As crianças assistem a desenhos animados televisivos nas quais as personagens utilizam a violência para conseguir os seus intentos, por vezes são actos nobres tais como salvar um amigo em perigo ou para salvar o planeta. O poder de sedução da televisão e a capacidade de imitação das crianças formam uma cumplicidade que pode actuar perigosamente na formação cognitiva destas. Neste sentido, Pino Juste (1998: 133) é da opinião que para estas crianças a violência é "algo normal", utilizam-na como "arma quando consideram que ela é eficaz para conseguir os seus propósitos".
Qualquer indivíduo é passível de exercer actos de violência, uma vez registada uma ruptura com a normalidade. No entanto, num indivíduo que não tenha patologias associadas, após a ruptura, retorna ao estado de acalmia e é reposta a sua normalidade interior.
A violência pode ser revestida de diversas formas, mas num sentido restrito, pode ser definida como uma ruptura brusca da harmonia num determinado contexto, podendo ser sob a forma de utilização da força física, psíquica, moral, ameaçando ou atemorizando os outros.
A violência pode igualmente ser considerada de âmbito público ou de âmbito privado. A primeira é mais visível, influi e distorce a imagem da sociedade. É a que mais preocupa o Estado, pois é geradora de polémica. A segunda é mais recôndita, como é o caso da violência familiar, com o cônjuge ou com os descendentes.
A violência pode ainda ser de génese estrutural ou de génese conjuntural, sendo que a primeira afecta uma parte significativa da população e várias instituições. A violência estrutural é congénere a uma doença crónica, pois é instalada numa parte da sociedade e vai criando metástases por toda a sociedade. A sua cura reside numa planificação eficaz, coordenada entre as instituições para solucionar a problemática em questão. A violência conjuntural regista-se em momentos ocasionais e mesmo que não se vislumbre uma solução, com o passar do tempo é esmorecida. Os motins de população descontentes com as portagens ou traçados de auto-estradas são exemplos de violência conjuntural.
No fundo, os actos violentos estão sustentados por valores, crenças, sobre o bom e o mau de uma acção que força o indivíduo a operar de acordo com essa convicção.
A violência é na sua maior parte protagonizada pelos jovens, que se agrupam, formando sub-culturas, habitualmente no seio do tecido urbano, adquirindo formas de vestir, agir ou pensar muito características. Os hippies, os rockers, os skinheades, entre outros são exemplos bem conhecidos de grupos inadaptados aos padrões da sociedade.
Na cultura juvenil podem-se observar características muito comuns, tais como (Arregi Goenaga, 1998:58-59):
Para combater a violência, a escola tem de analisar a forma como é exercido o seu controlo, tem que se organizar pedagogicamente, para conseguir deter a violência não só interior mas também exterior.
O senso comum mostra-nos que a relação entre aluno e escola apresenta múltiplas fases ao longo do caminho do indivíduo. Nos primeiros anos, nomeadamente creche e infantário, ou mesmo ensino básico, as crianças ficam ansiosas por ir para a escola: é lá que estão os seus colegas de brincadeiras, os educadores/professores são durante alguns anos os mesmos, pelo que as relações afectivas são intensificadas e todos os conceitos são apreendidos de forma agradável e lúdica.
A desvalorização do lado afectivo, a introdução de maior formalidade no relacionamento e a constante troca de professores consoante as disciplinas, faz com que se registe um esmorecimento nesta relação entre alunos e escola.
A sociedade tem vindo a sofrer significativas transformações. A família, núcleo primordial de educação, tem vindo dissimuladamente a delegar esse papel para a escola, dado que é no contexto educativo que as crianças passam a maior parte do dia. Todavia, nenhuma outra instituição poderá jamais substituir as condições educativas da família, nem parece ser razoável que seja unicamente a escola a ensinar valores tão necessários para o normal desenvolvimento da criança tais como: a democracia, as regras para a sã convivência, o respeito pelo outro, a solidariedade, a tolerância, o esforço pessoal, etc. À escola não se pode pedir que além de ensinar os conteúdos programáticos exigidos pelo Ministério da Educação, tenha também que ter a função educativa que compete aos pais.
No meio de tudo isto, a verdade é que a violência continua a existir e a registar-se cada vez mais na população jovem. A escola não pode ignorar que os conflitos e problemas sociais existem, e por isso tem vindo a adaptar-se como pode. E é precisamente na escola que as crianças imitem comportamentos que diariamente observam. Meios onde proliferam os maus tratos físicos e psicológicos, onde as privações, a promiscuidade, a baixa escolarização, a pobreza andam de mãos dadas. Neste campo, urge uma intervenção conjunta realmente eficaz, fornecendo à população em risco modelos de conduta adequados ao desenvolvimento afectivo, intelectual e moral de todos os implicados. Nós, sociedade democrática, somos responsáveis pelas consequências educativas das nossas acções.
Terá que haver um esforço financeiro governamental, não só económico mas também a nível de recursos humanos para que programas de combate à violência e exclusão social sejam realmente concretizados e obtenham bons resultados. Não podemos deixar que as crianças se transformem em futuros inadaptados ou futuros marginais, só porque não tiveram referências positivas na infância e porque as diversas entidades educativas se foram «esquecendo» que essas crianças também necessitam de carinho, de afecto, que também são seres humanos como todas as outras crianças.
Consciente de que este trabalho é insuficiente na abordagem desta temática, pois muito mais haveria a dizer, dado que o fenómeno da violência é muito amplo e surge em variadíssimos contextos, resta então cogitar que toda a sociedade se deveria mobilizar para proteger os cidadãos de amanhã, para que não tenham um futuro sombrio, enredados em sofrimento, privações e sem projectos de vida.
escrito por Sónia Carla Aroso Azevedo
Universidade de Granada
Universidade Portucalense
Granada/OPorto 2004. Portugal
Link: http://br.monografias.com/trabalhos/violencia-nas-escolas/violencia-nas-escolas.shtml
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