Judaísmo
Para nossa surpresa, ao iniciarmos este estudo descobrimos que as regras gerais do judaísmo e, em parte, do islamismo são bem parecidas com as normas que legalmente permitem o aborto no Brasil.
O fato nos fez ter mais certezas, do que dúvidas, sobre como as diversas questões ideológicas do patriarcado influênciam no campo das políticas dos governos, nos paradigmas da ciências e interpretações da justiça, criando pontos comuns onde teoricamente só existem disparidades. Mas, voltando ao ponto,...
em linhas gerais, tanto entre os ortodoxos quanto entre conservadores e reformistas, se o embrião ou feto por em risco a saúde mental e física da mulher, a interrupção da gravidez é permitida. Sendo que entre os reformistas, o "bem-estar" da mulher também entra em consideração (condições sociais e psicológicas) na hora da aprovação. Mas qual a explicação para isso?
Pelo judaísmo, as regras morais de sua prática religiosa se fazem com interpretações racionalizadas dos textos sagrados e as interpretações podem ser mudadas conforme as circunstâncias da realidade cultural e/ou histórica.
Fotos reais de campos de concetração |
Segundo a tradição de Maimônides, século XII, se o embrião por em risco a vida, saúde mental e física, da mulher, esta poderia interromper a gravidez, em autodefesa, já que o embrião seria considerado um “rodef” (agressor). Porém, a decisão terá de ser tomada ao lado de um líder espiritual (rabino).
Um exemplo disso é que durante o holocausto, os nazistas condenavam à morte as judias grávidas, na tentativa de impediam a ampliação populacional dos povos dominados. Em resposta, em 1942, no gueto de Kovno, na Lituânia, o rabino Ephraim Oshry permitiu as mulheres a interrupção da gravidez, provavelmente, muitas vítimas de estupros, apesar de, em geral, a comunidade não aceitar a decisão.
É válido ressaltarmos que apesar de aparentemente “progressista” quando comparada ao cristianismo, a tradicional religião do judaísmo, não permite que a interrupção da gravidez seja uma escolha exclusiva da mulher. Este impedimento religioso que, ao mesmo tempo, delega o peso da decisão também “a comunidade”, faz da mulher uma “incapaz" de tomar as rédeas de sua vida nas mãos, pois a obriga a entrar em “consenso” com a opinião masculina, lhe outorgando poderes sobre seu próprio corpo. Desta maneira, não é por vontade da mulher que a gravidez é interrompida, mas por permissão do rabino que encontra, com sua "sabedoria", uma razão moral e justa para o ato, legitimando assim o poder patriarcal.
Fotos reais de campos de concetração |
Segundo Laurie Zoloth, para o judaismo “quando surge uma nova situação histórica a aplicação diária da comunidade e a fidelidade muda de acordo com contingências políticas, cientifica e físicas, num processo de discussão de alto nível que dá forma a novos estatutos”.
Portanto, ao que parece, o Judaísmo não equipara, como crimes de mesma equivalência, a interrupção de uma gravidez a um assassinato. Para suas tradições, jamais esta deva ser uma prática indiscriminada, porém, para várias diretrizes, é necessario levar em consideração o sofrimento físico e psicológico de uma mulher diante de ter ou não que dar cabo desta situação.É válido ressaltarmos que apesar de aparentemente “progressista” quando comparada ao cristianismo, a tradicional religião do judaísmo, não permite que a interrupção da gravidez seja uma escolha exclusiva da mulher. Este impedimento religioso que, ao mesmo tempo, delega o peso da decisão também “a comunidade”, faz da mulher uma “incapaz" de tomar as rédeas de sua vida nas mãos, pois a obriga a entrar em “consenso” com a opinião masculina, lhe outorgando poderes sobre seu próprio corpo. Desta maneira, não é por vontade da mulher que a gravidez é interrompida, mas por permissão do rabino que encontra, com sua "sabedoria", uma razão moral e justa para o ato, legitimando assim o poder patriarcal.
O islamismo
Segundo as tradições do islã, o Corãocondena qualquer o ato de matar. Embora todas as vidas sejam sagradas, em caso de risco de vida para a mulher, é aconselhável salvar a vida principal, ou seja, a vida da mãe, assim como no judaísmo.
Para a fé islâmica, no dia derradeiro da humanidade, os seus filhos serão as testemunhas de acusação dos pais que os "mataram", (81:8-9). Por questões históricas, o Corão estabelece pragmatismos, digamos, “interessantes” que afirmam "Não mateis os vossos filhos por medo da pobreza (17:31)”, pois Alá te proverá.
Desta maneira, é possível se estabelecer valores econômicos para perdas humanas sagradas. Algo também comum nas leis ocidentais. Quando uma gravidez é interrompida, acidentalmente, é estipulada uma indenização que deve ser paga ao pai quando, por meio do “acidente”, a vida de um embrião se perde. Mas o valor de um embrião é diferente da vida de um feto.
Se uma gravidez foi interrompida antes do 5º mês, deve ser pago ao pai 1/10 do preço que se paga por uma pessoa, após o 5º mês a indenização é integral. Em outras palavras, até o 120º dia gestacional, a prática da interrupção da gravidez é desaprovada, mas não necessariamente proibida na escola de tradição Zaydi (na escola de tradição Hanbali, até 40 dias após a concepção, a gravidez poderia ser interrompida por drogas de via oral).
Segundo o livro O Drama do Aborto, ao que nos pareceu, para a erundição Hanafi e Shafi’i, o aborto seria permitido até 120 dias, se houver uma justificativa “aceitável”. Nas Maliki, Zahiri, Ibadiyya e Imamiyya, a interrupção da gravidez é expressamente proibida.
Se uma gravidez foi interrompida antes do 5º mês, deve ser pago ao pai 1/10 do preço que se paga por uma pessoa, após o 5º mês a indenização é integral. Em outras palavras, até o 120º dia gestacional, a prática da interrupção da gravidez é desaprovada, mas não necessariamente proibida na escola de tradição Zaydi (na escola de tradição Hanbali, até 40 dias após a concepção, a gravidez poderia ser interrompida por drogas de via oral).
Segundo o livro O Drama do Aborto, ao que nos pareceu, para a erundição Hanafi e Shafi’i, o aborto seria permitido até 120 dias, se houver uma justificativa “aceitável”. Nas Maliki, Zahiri, Ibadiyya e Imamiyya, a interrupção da gravidez é expressamente proibida.
Leila Khaled Hijacker- Guerrilheira palestina |
Parecemos lógico que, enquanto recém centralizados, os povos beduínos viram no infanticídio uma grave preocupação para o desenvolvimento econômico e crescimento populacional, algo que os levou expansão pela África, Ásia e Europa.
Toda via, isso não é especialmente condenável, já que não foi nada diferente do que aconteceu com todas as civilizações patriarcais que viram na maternidade a oportunidade de produzir soldados para suas guerras de conquista. Inclusive, a colonização de povos pelos islâmicos medievais era muito mais permissiva do que foi todo o processo europeu de exploração nas Américas.
Budismo
Em linhas gerais, o budismo trabalha com a idéia do karma que, dentro do que compreendemos, teria o significado de “continuidade”.
A questão central da filosofia budista não é o “mal” como entidade externa e etéria, mas as causas que levam ao sofrimento: "mal" (ao que nos pareceu, o "mal" como fenômeno espiritual humano).
Nesta linha de crença, um ato perpetua-se da ação até a morte da pessoa, chegando ao seu outro nascimento e nova morte.
Nesta linha de crença, um ato perpetua-se da ação até a morte da pessoa, chegando ao seu outro nascimento e nova morte.
Existe também no budismo uma relação individual “semelhante ao existencialismo”, pois as consequências das atitudes pessoais podem atingir toda uma coletividade causando-lhes as dores e angústias da infelicidade.
Entre as diretrizes comuns as práticas budistas, a rejeição a violência dá-se como um dos principais exemplos. Mas é preciso ter a ciência/conhecimento do que é ou não é violento.
A meta dos budistas é atingir o aprimoramento espiritual dos indivíduos, onirvana (o estado de libertação da infelicidade e das dores existentes no mundo, uma espiritualidade de paz e felicidade). E o principal caminho para isso se dá através do desapego ao efêmero. Segundo o budismo é necessário rejeitar “as três raízes do mal” ou “os três venenos” (à ambição, à má-intenção e à ignorância) transformando-os em generosidade, compaixão e sabedoria.
As escrituras budistas não mencionam o aborto, porém estabelecem como positivos a sexualidade e o matrimônio desde que, em nenhuma das duas práticas, nelas esteja presente qualquer uma das intenções acima descritas. É neste ponto que as coisas ficam “um pouco mais complicadas” e interferem/legitimam os fundamentos ideológicos patriarcais.
Para os budistas o matrimonio não é um ritual religioso, mas a segunda melhor instituição social depois do sacerdócio, assim, a “infidelidade”, o ato sexual com um monge ou com uma mulher sobre a proteção dos pais são considerados como atos de “má-conduta”. E, a nosso ver, é por ai que, apesar dos escritos tradicionais não citarem o aborto, a interrupção de uma gravidez pode ser dada, em geral, como algo negativo.
Como no budismo a questão é a oposição entre a sabedoria e a ignorância, mais uma vez em caso de estupro ou risco de vida para a mulher, as conseqüências do aborto são minimizadas, inclusive para o médico. Se por exemplo for feito para escolher o sexo de uma criança, a carga negativa é potencializada. Contudo, não existindo “má-intenção” da mulher e se a interrupção for feita cedo, as conseqüências negativas são minimizadas, pois a vida espiritual no budismo é uma continuidade que não conhece tempo ou espaço.
manifestação do monge budista Thích Quảng Ðức |
Assim, quando muito se fala de quais seriam os motivos para que em países de maioria budistas, como o Japão, as leis serem mais flexíveis referentes ao aborto, sem que ocorra muita resistência por parte das representações religiosas, talvez é que, diferente das religiões de base monoteísta que mais temos contato (judaísmo, cristianismo e islamismo), no budismo o ponto é a permanência ou não da humanidade na ignorância. Isso responsabiliza os indivíduos pela decisão de seus atos, sequência de sua vida espiritual e considera as particularidades da vida humana e social. Não outorgando "a mágicas fontes externas" qualquer solução ou culpa que não sejam as próprias motivações pessoais dos indivíduos.
Outro fator que contribui para o fato é que os ensinamentos budistas não são necessariamente os mesmo nos diferentes países em que é praticado. Não existe uma organização busdista que execute doutrinamentos para todos os seus praticantes, por pura má-nipulação política, diferente do cristianismo que chatagia a consciência popular com a expulsão do paraiso e a eterna uma condenação ao inferno para os que não seguirem suas “normas religiosas”, que centraliza toda a política de sua doutrina na autoridade Papal e institui dentro dos gabinetes parlamentares o doutrinamento de leis e estudos médicos, lotados de antigos interesses econômicos.
Texto Ana Clara Marques e Patrick Monteiro
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(OBS:
1-Como não somos especialistas no temas religião, mas estudiosas sobre as relações e consequências destas para as relações de gênero, neste estudo que se seguirá nas próximas duas postagens, qualquer equívoco poderá ser retificado com os comentários dos leitores;
2- O principal parâmetro para a publicação deste estudo foi abordar as principais religiões capazes de influenciar no lobby internacional anti-direito das mulheres. Por tais motivos, várias religiões de importância no Brasil não serão analisadas (como por exemplo, as de matriz africana e indígenas). Esta também é o objeto fundamental do livro "O Drama do Aborto", que nos serviu de base;
3-Nas publicações iniciais daremos mais descrições sobre como cada religião encara a questão do aborto do que necessariamente, nós MAÇÃS PODRES, vamos expor nossas opiniões, que ficaram basicamente para a conclusão)
Muito interessante. Texto esclarecedor.
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