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sexta-feira, 27 de abril de 2012

A Flecha de Zumbi Chegou ao Supremo Tribunal Federal

Por Elias Sampaio
Secretário de Promoção da Igualdade Racial do Governo do Estado da Bahia
www.sepromi.ba.gov.br

A Flecha de Zumbi Chegou ao Supremo Tribunal Federal

 

Por Elias Sampaio

Secretário de Promoção da Igualdade Racial


O ano de 2012 será um divisor de águas nos debates sobre as relações raciais no Brasil. A recente decisão do Supremo Tribunal Federal em considerar constitucional, por unanimidade, a adoção de reservas de vagas por critérios raciais, nos vestibulares das universidades  públicas brasileiras destrói todo e quaisquer resquícios do mito da democracia racial que outrora norteou a sociedade brasileira e que de há muito o movimento social negro já havia sepultado.

Surpreendentemente, a nossa mais alta corte, exterioriza para o Brasil e para o mundo, com uma simples decisão, o elemento chave para se decifrar, de uma vez por todas, o verdadeiro enigma brasileiro. Isto é, como um país com tantas possibilidades materiais e imateriais nunca conseguiu dar um salto qualitativo rumo ao seu pleno desenvolvimento e que sempre que possível se autoproclamou um “país do futuro”?
Ao assumir a constitucionalidade das políticas de ação afirmativa para tornar equitativo o acesso as universidades públicas, o STF revela, de uma vez por todas, qual foi a principal estratégia implementada pelas elites brasileiras para, mesmo após abolição da escravatura, manter subjugados a maioria do povo brasileiro: retirar o direito e a igualdade de oportunidade da ampla maioria da parcela da população do país do mais importante bem público numa sociedade democrática que é a educação de qualidade e o acesso ao conhecimento.  Essa trama foi realizada em dois atos, com direito a algumas perversas manifestações racistas entre eles.

O primeiro foi o sucateamento material e qualitativo das escolas públicas de primeiro e segundo graus que em algum momento, no país, foram espaços de oportunidade para educação dos pobres e da classe trabalhadora como um todo. Como consequência, o segundo ato foi restringir, ao máximo, e por meio de critérios muito pouco equitativos a entrada dos alunos pobres e pretos oriundos das escolas públicas nas próprias universidades públicas. Esse processo, além de nocivo por si, ainda motivou manifestações de racistas quando da implementação de ações afirmativas no acesso as universidades. Aqui na Bahia, por exemplo, foi amplamente divulgada a manifestação racista de um docente da faculdade de medicina da UFBA que usou de uma comparação estúpida para desqualificar os estudantes cotistas, utilizando-se, para isso, de uma referência pejorativa as pessoas que tocavam berimbau, por ser, segundo ele, um instrumento de apenas uma corda, portanto algo medíocre (sic).

Compreender a importância desses episódios extremamente complexos e politicamente bem delimitados, é condição necessária para darmos um salto qualitativo em todos os debates no país, não apenas relacionadas ao conteúdo e a forma das nossas relações sociais e raciais, mas fundamentalmente, sobre as possibilidades reais do Brasil se consolidar como uma das maiores democracias desenvolvidas do planeta.
 

Ministro Joaquim Barbosa: "As medidas visam a combater a discriminação de fato, de fundo cultural, como é a brasileira" (Foto: Carlos Humberto/Agência BG Press)


Com efeito, essa histórica decisão do STF ratifica o aviso dado pelo movimento negro há muito tempo de que o racismo estruturou as relações sociais no nosso país e o preço desse modelo de sociedade, foi o retardamento do nosso desenvolvimento econômico e social.  Todos os brasileiros, daqui por diante, devem começar a refletir, e muito, sobre o fato de que o outro lado da moeda do mito da democracia racial brasileira, outrora propalado, foi o impedimento do desenvolvimento pleno da nossa sociedade como um todo. Mais do que isso: todas as manifestações e estratégias realizadas pela maioria de pretos e pardos no país em busca de igualdade de oportunidades, advindas tanto nos movimentos das ruas, quanto da militância através das instituições políticas formais e informais, não foram pautadas para solucionar apenas os problemas específicos de cada uma dessas organizações e pessoas, mas sim, manifestações legitimas e com um profundo conteúdo de transformação no sentido de dar ao país as suas mais amplas possibilidades de desenvolvimento enquanto nação.

Na verdade, foi a capacidade política de representantes desses movimentos, de parcela da sociedade civil e dos gestores comprometidos com essa agenda que possibilitou a criação de um ambiente favorável a essa decisão do STF uma vez que, o movimento negro vem pautando as diversas esferas de poder sobre a necessidade do estabelecimento de mecanismos de institucionalização de demandas históricas do povo negro do Brasil há muito tempo.  A rigor, essa pauta politica foi sendo introduzida, paulatinamente, nos diversos espaços de poder na sociedade, desde os espaços simbólicos de poder através das manifestações artísticas e culturais, até no tecido governamental, através de mecanismos  voltados não apenas para atender as demandas dos grupos sociais que historicamente estiveram fora de qualquer possibilidade instrumental e formal para dar consequência burocrática e de gestão as suas demandas coletivas, mais também, através da construção de um verdadeiro processo de reformatação estrutural no campo das políticas públicas.

Na verdade, todos os arranjos institucionais criados a partir dessa perspectiva vem exercendo um importantíssimo papel pedagógico, formador de opinião e de capacitação institucional, através da criação de um campo de forças gerados a partir de um movimento de baixo para cima,  cujo desdobramentos tem sido decisões e ações relacionadas a ampliação da compreensão dessa questões de forma bastante significativa. Assim, mesmo considerando apenas o período pós abolição, é extremamente difícil precisar um ponto especifico, numa linha de tempo, que pudesse ser considerado o ponto de partida para esse processo de transformação, uma vez que, várias foram as contribuições, os movimentos, as iniciativas,  as lutas e, até mesmo, o sangue que compuseram o cenário que possibilitou a decisão do STF, no entanto, não podemos negar que essa decisão histórica faz parte de um contexto que só está sendo possível num ambiente que vem se desenvolvendo no Brasil após a ditadura militar do período 1964 - 1985 e aprofundado a partir de 2003 quando o conteúdo popular e democrático nas instituições públicas tem crescido enormemente.

De fato, nunca houve um período tão longo na história do Brasil em que houvesse uma estabilidade política e monetária, com crescimento econômico e melhoria na distribuição de renda como estamos vendo nos últimos dez anos, capitaneado por um governo orientado por um projeto político de esquerda que introduziu nos mecanismos de gestão mais tradicionais da administração pública outros elementos da Política que estavam historicamente alijados do processo, pela ação pura e simples de indivíduos e grupos com perspectivas ideológicas ilegítimas, tais como: o racismo, o sexismo, o machismo, o preconceito, a discriminação, a homofobia, dentre outras formas intolerância.

A rigor, o modelo político inaugurado no Brasil há dez anos atrás vem dando maior  concretude, em termos de efetividade da política pública, a um conjunto de elementos que sempre foram tratados como, apenas, categorias sociológicas ou níveis de abstração elevados, tais como a questão da mulher, dos negros, dos indígenas, dos quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais. Ou seja, decisão do STF é, além de histórica, profundamente emblemática por diversas razões, mas algumas delas devem ser citadas preferencialmente. A primeira é que ela se tratou de um julgamento de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN), proposta pelo atual Partido Democratas, antigo Partido da Frente Liberal que por sua vez foi o filho legitimo da ARENA, o braço político partidário que sustentou a ditadura militar por vinte anos e as perspectivas das elites brasileiras conservadoras que foram responsáveis pelo modelo de (sub) desenvolvimento do país implementado nos quarenta anos anteriores, pelo menos.

Ou seja, além de estarem sendo, paulatinamente, derrotados democraticamente por via de eleições majoritárias e proporcionais (executivo e legislativo), a elite conservadora representada por esses partidos estão começando a serem derrotadas, também, em uma arena que, via-de-regra, eles ainda possuíam alguma “vantagem” pelo fato de que no âmbito da justiça, o senso comum sugere que seja um ambiente impermeável a Política, portanto, menos suscetível a interferências vindas de outros campos que não seja o da norma e da técnica jurídica, elementos por excelência mais conservadores e menos dinâmicos do que aqueles intrínsecos as instituições políticas stricto senso.

Sessão Histórica. Foto: http://mariafro.com

Uma segunda razão tão importante quanto a primeira, é que a decisão do STF representa, ao fim e ao cabo, uma das mais importantes vitórias do movimento negro brasileiro que, incansável e historicamente, vem apontando problemas e sugerindo soluções para transformar o Brasil num país mais justo e mais igual partindo de uma única e simples perspectiva estratégica que é o estabelecimento de igualdade de oportunidade e garantia de direitos para todos, considerando as particularidades do processo de desenvolvimento histórico do nosso povo. Tem sido o movimento social como um todo, e o movimento negro em particular, os primeiros a demonstrar, de maneira inequívoca, que a perpetuação das desigualdades sociais, raciais e todas as formas de intolerância, os elementos que tem impedido o Brasil de se constituir numa democracia republicana com desenvolvimento econômico pleno.

Significa dizer que, mais do que um possível representante dos grandes países em vias de desenvolvimento, na rede internacional de produção de riqueza material e econômica, como está sendo desenhado nos últimos anos, o modelo brasileiro pode passar a ser  uma referência global para todos os países com população multiétnicas e multiculturais do mundo. Uma vez que, as características do nosso processo histórico fez do país um espaço único e bastante particular que pode, a partir da mudança de paradigma de seu processo de desenvolvimento e de relações sociais, fazer de nossa nação o lócus privilegiado de uma síntese social que tem por base parte significativa da cultura africana, mas também, de muitas outras culturas do mundo moderno, constituindo-se, assim, como uma referência para o mundo contemporâneo, hoje desprovido de um horizonte político e econômico de longo prazo com uma nitidez suficiente para a superação de seus problemas.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

A Mulher Negra


A situação da mulher negra no Brasil de hoje manifesta um prolongamento da sua realidade vivida no período de escravidão com poucas mudanças, pois ela continua em último lugar na escala social e é aquela que mais carrega as desvantagens do sistema injusto e racista do país. Inúmeras pesquisas realizadas nos últimos anos mostram que a mulher negra apresenta menor nível de escolaridade, trabalha mais, porém com rendimento menor, e as poucas que conseguem romper as barreiras do preconceito e da discriminação racial e ascender socialmente têm menos possibilidade de encontrar companheiros no mercado matrimonial.

A mulher negra ao longo de sua história foi a “espinha dorsal” de sua família, que muitas vezes constitui-se dela mesma e dos filhos. Quando a mulher negra teve companheiro, especialmente na pós-abolição, significou alguém a mais para ser sustentado. O Brasil, que se favoreceu do trabalho escravo ao longo de mais de quatro séculos, colocou à margem o seu principal agente construtor, o negro, que passou a viver na miséria, sem trabalho, sem possibilidade de sobrevivência em condições dignas. Com o incentivo do governo brasileiro à imigração estrangeira e à tentativa de extirpar o negro da sociedade brasileira, houve maciça tentativa de embranquecer o Brasil.

Provavelmente o mais cruel de todos os males foi retirar da população negra a sua dignidade enquanto raça remetendo a questão da negritude aos porões da sociedade. O próprio negro, em alguns casos, não se reconhece, e uma das principais lutas do movimento negro e de estudiosos comprometidos com a defesa da dignidade humana é contribuir para o resgate da cidadania do negro.

A pobreza e a marginalidade a que é submetida a mulher negra reforça o preconceito e a interiorização da condição de inferioridade, que em muitos casos inibe a reação e luta contra a discriminação sofrida. O ingresso no mercado de trabalho do negro ainda criança e a submissão a salários baixíssimos reforçam o estigma da inferioridade em que muitos negros vivem. Contudo, não podemos deixar de considerar que esse horizonte não é absoluto e mesmo com toda a barbárie do racismo há uma parcela de mulheres negras que conseguiram vencer as adversidades e chegar à universidade, utilizando-a como ponte para o sucesso profissional.

Embora o contexto adverso, algumas mulheres negras vivem a experiência da mobilidade social processada em “ritmo lento”, pois além da origem escrava, ser negra no Brasil constitui um real empecilho na trajetória da busca da cidadania e da ascensão social. Bernardo (1998), em seu trabalho sobre a memória de velhas negras na cidade de São Paulo, mostra como é difícil a mobilidade ascensional da negra - especialmente na conquista de um emprego melhor, pois a maioria das negras trabalhava na informalidade, ou como empregadas domésticas.

As mulheres negras que conquistam melhores cargos no mercado de trabalho despendem uma força muito maior que outros setores da sociedade, sendo que algumas provavelmente pagam um preço alto pela conquista, muitas vezes, abdicando do lazer, da realização da maternidade, do namoro ou casamento. Pois, além da necessidade de comprovar a competência profissional, têm de lidar com o preconceito e a discriminação racial que lhes exigem maiores esforços para a conquista do ideal pretendido. A questão de gênero é, em si, um complicador, mas, quando somada à da raça, significa as maiores dificuldades para os seus agentes.

Paul Singer (1998) afirma que, à medida que a mulher negra ascende, aumentam as dificuldades especialmente devido à concorrência Em serviços domésticos que não representam prestígio não há concorrência e conseqüentemente as mulheres negras têm livre acesso e é nesse campo que se encontra o maior número delas. A população negra trabalha, geralmente, em posições menos qualificadas e recebe os mais baixos salários.

A mulher negra, portanto, tem que dispor de uma grande energia para superar as dificuldades que se impõe na busca da sua cidadania. Poucas mulheres negras conseguem ascender socialmente. Contudo, é possível constatar que está ocorrendo um aumento do número de mulheres negras nas universidades nos últimos anos. Talvez a partir desse contexto se possa vislumbrar uma realidade menos opressora para os negros, especialmente para a mulher negra.

Contudo, cabe ressaltar a experiência de mulheres negras na luta pela superação do preconceito e discriminação racial no ingresso no mercado de trabalho. Algumas mulheres atribuem a “façanha” da conquista do emprego do sucesso profissional a um espírito de luta e coragem, fruto de muito esforço pessoal, e outras ainda, ao apoio de entidades do movimento negro.

Na atualidade não se pode tratar a questão racial como elemento secundário, destacando apenas a problemática econômica. A posição social do negro não se baseia apenas na possibilidade de aquisição ou consumo de bens. Ainda há uma grande dificuldade da sociedade brasileira em assumir a questão racial como um problema que necessita ser enfrentado. Enquanto esse processo de enfrentamento não ocorrer, as desigualdades sociais baseadas na discriminação racial continuarão, e, com tendência ao acirramento, ainda mais quando se trata de igualdade de oportunidades em todos os aspectos da sociedade.

A discriminação racial na vida das mulheres negras é constante; apesar disso, muitas constituíram estratégias próprias para superar as dificuldades decorrentes dessa problemática.

Ações Afirmativas?


É um conjunto de políticas que compreendem que, na prática, as pessoas não são tratadas igualmente e, consequentemente, não possuem as mesmas oportunidades, o que impede o acesso destas a locais de produção de conhecimento e de negociação de poder. Este processo discriminatório atinge de forma negativa pessoas que são marcadas por estereótipos que as consolidam socialmente como inferiores, incapazes, degeneradas, etc., alocando-as em situações de sub-cidadania e precariedade civil. Dito de outra forma, o racismo, o machismo, a xenofobia, a homofobia, entre outras ideologias discriminatórias, vincularam e vinculam determinadas pessoas à características coletivas e pejorativas que as impedem de receber prestígio, respeito e valoração social como um indivíduo qualquer, por meio de discriminações, que na maioria das vezes, são executadas indiretamente, ou seja,“por baixo dos panos”, nos bastidores, sem testemunhas e alarde. Imagine, por exemplo, uma executiva competente que não é promovida na empresa em que trabalha porque o fato de ser mulher atrapalharia o “clima” masculino já estabelecido entre os diretores. Ou um ótimo professor que é demitido porque descobriram ou desconfiam que ele tenha um namorado. Ou um jovem negro que não foi admitido na seleção de emprego porque consideraram que ele não tem a “boa aparência” desejada. O que estas situações têm em comum? Além de retratarem os processos discriminatórios citados acima, são ocorrências que dificilmente serão comprovadas e penalizadas, pois os responsáveis por elas contornarão o machismo, a homofobia, o racismo que as fundamentam e darão diversas explicações supostamente neutras e naturalizadas para suas decisões. Entretanto, todos sabem que estas situações ocorrem diariamente e prejudicam a vida de inúmeras pessoas que não correspondem ao padrão eurocentrado (masculino, branco, cristão, heterossexual, fisicamente capaz, etc.) estipulado socialmente como normal e superior. Diante disso, o que fazer para transformar esta realidade? Foi exatamente com intuito de responder esta pergunta que a Ação Afirmativa surgiu. A Ação Afirmativa é um conjunto de políticas que tem como objetivo combater práticas discriminatórias e equacionar suas conseqüências na medida em que possibilita que pessoas marcadas por estereótipos coletivos e negativos acessem posições de poder, que historicamente lhes foram cerceadas. Sendo assim, são medidas especiais, porque agem focadas nos grupos marginalizados. E temporárias, pois possuem objetivos determinados que quando alcançados tornam-nas desnecessárias. E podem ser elaboradas e executadas pelo Estado e/ou pela iniciativa privada de maneira compulsória ou espontânea. Há inúmeras experiências de políticas afirmativas em todo mundo (Índia, Malásia , África do Sul, Gana, Guiné, Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru, Equador, México, Brasil, entre outros) com critérios variados como, por exemplo, casta, deficiência física, descendência, etnia, gênero, nacionalidade, raça, etc. O próprio Brasil possui um histórico de políticas de cunho afirmativo: a Lei dos Dois Terços (5.452/1943) do governo Getúlio Vargas, a Lei do Boi (5465/1968) que reservou vagas nas instituições de ensino - médio e superior - agrícolas para agricultores e filhos destes, a Lei 8.112/1990 que prescreve cotas para portadores de deficiências físicas no serviço público civil da União, a Lei 9.504/1997 que preconiza cotas para mulheres nas candidaturas partidárias, entre outras. Entretanto a medida mais polemizada é o sistema de cotas para negros e negras em instituições de ensino superior (IES). Que desde 2003 já possibilitou dezenas de milhares de vagas em mais de cinqüenta IES em todo país. Outra medida afirmativa em vigor em nosso país é a Lei 11.639/03, que modificou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional obrigando o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira em todo sistema educacional brasileiro, seja público ou privado. Por fim, ficam as palavras do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Benedito Barbosa Gomes, sobre o potencial transformador da Ação Afirmativa. “Entre os objetivos almejados com as políticas afirmativas está o de induzir transformações de ordem cultural, pedagógica e psicológica aptas a subtrair do imaginário coletivo a idéia de supremacia e subordinação de uma raça em relação a outra.”

sexta-feira, 20 de abril de 2012

GAP (Grupo Alerta Pernambués) convida VOCÊ MULHER para Oficina Mulheres Itinerantes


Com o objetivo de fomentar ações educativas, culturais, autonomia e empregabilidade das mulheres negras, o GAP (Grupo Alerta Pernambués) convida VOCÊ MULHER, para participar da Oficina Mulheres Itinerantes.

Iremos abordar:

* Educação e Racismo com Profª Historiadora Diana Costa e Profª Dayse Sacramento.

* Empregabilidade (ética profissional, direitos trabalhistas (FGTs, Férias, PST, Assédio moral, Saúde preventiva (doenças transmitidas no ambiente de trabalho) com a Jornalista e Gestora Social Patrícia Bernardes.

* Culinária Africana (Mini-curso Cozinha Didática) com Chef Rogério Britto e a baiana de acarajé Rita Brasil.

* Violência (Lei Maria da Penha: Direitos da mulher violentada, O que fazer?, Quem procurar?), Machismo e Lesbofobia com a Pedagoga Sandra Munõz.

* Autonomia (Oficinas artesanais) com a Profª Ana Paula Alencar e a Jornalista Patrícia Bernardes.

Data: 06/05/2012 (domingo)

Horário: Das 09hs ás 19hs

Local: Sociedade Beneficente e Recreativa Unidos de Pernambués (Rua Escritor Edson Carneiro nº 35). Em frente a Cesta do Povo.

Valor: 1Kg de alimento não-perecível (Doaremos a IBCM (Instituto Beneficente Conceição Macêdo/ Atua com crianças com HIV).

Serviremos café da manhã, almoço e lanche.

No final das atividades, teremos um show com a Banda Samba Mix.
Será um dia recheado de atividades!

Contamos com sua presença!

Informações:
GAP 3389-4760
Profª Diana Costa 8733-3715 ou 9296-5424

Inscrições pelo telefone: GAP 3389-4760 e e-mail: mulheresitinerantes@gmail.com ou gap.grupoalertapernambuesssaba@hotmail.com

quarta-feira, 18 de abril de 2012

"Feminismo Negro" é discutido em Salvador



Por Jaqueline Lima Santos

O movimento de mulheres negras no Brasil tem início no período colonial, quando as mesmas criavam estratégias de sobrevivência ao regime escravocrata e lideravam diversos movimentos de libertação do povo negro, como as rebeliões nas senzalas, os cuidados espirituais, as fugas, a formação dos quilombos, a compra de alforrias, o trabalho na cidade e a estruturação de suas famílias.
Na segunda metade do século XX, com a intensificação dos movimentos feministas pela ampliação e reconhecimento dos direitos das mulheres, as mulheres negras encontravam dificuldades de incluir sua pauta política nestes espaços que, liderado pelas brancas que tinham como referência o feminismo europeu e realizavam práticas racistas, se negavam a reconhecer as diferenças intra-gênero e tratavam a categoria mulher como homogênea e universal. Esta prática de anular a existência da mulher negra como grupo social com identidade e necessidades peculiares se estende até os dias de hoje, porém com menor impacto, pois desde o final dos anos 90 as organizações feministas tem avançado nessas discussões e assumido as reivindicações desses segmentos.
Na década de 70 surgem novos movimentos sociais negros, como o Movimento Negro Unificado (MNU), dentro dos quais as mulheres negras também tinham dificuldades em discutir as relações de gênero e realizavam enfrentamento constante contra as ações machistas. Porém, foi no seio do movimento negro que os movimentos de mulheres negras do século XX tiveram possibilidade de se articular e incluir sua pauta política. Lélia Gonzales em seu texto “ Por um Feminismo Afro-Latino-Americano” afirma que a conscientização das mulheres negras em relação as opressões sociais ocorre antes de qualquer coisa pela via racial, e que as raízes e experiência histórico e cultural comum entre nós e os homens negros acabam por fortalecer nosso laços políticos, “(...) foi dentro da comunidade escravizada que se desenvolveram formas político-culturais de resistência que hoje nos permitem continuar uma luta plurissecular de libertação”.
Nesse contexto, começam a aparecer algumas organizações negras femininas com o objetivo de dar voz e articular politicamente as mulheres negras. As organizações de mulheres negras surgem em todo o mundo, e são responsáveis por criar aquilo que chamamos de feminismo negro.
O feminismo negro traz para o centro do debate a articulação das categorias raça, gênero e classe que atuam como operadores ideológicos na configuração da realidade da mulher negra. Além disso ele cria um elo de solidariedade internacional entre as mulheres negras, que embora estejam inseridas em diferentes lugares e contextos sociais no mundo, são atingidas por formas de opressões comuns: raça, gênero e classe, e se encontram na base da pirâmide social.
As mulheres negras, através da perspectiva do feminismo negro, conquistaram alguns espaços e direitos. Mesmo com os avanços, o cenário atual ainda não nos é favorável e encontramos muitos desafios para superar o racismo, machismo, sexismo e desigualdades sociais. Além disso, estamos encontrando problemas de organização dentro do próprio movimento negro.
O debate em torno do feminismo negro nos permitiu fazer uma discussão qualificada no que se refere a realidade da população negra, a estratificação social e as relações de gênero. Para fazer essas discussões passamos por um processo de formação com o objetivo de entender a economia, organização do Estado, relações de poder, ideologia, opressões simbólicas, entre outros temas fundamentais. A mulher negra teve e tem um papel fundamental nas intervenções políticas e produção de conteúdo no campo das relações raciais e de gênero, mas a realidade social a qual esta submetida acaba por tira-la de diversos campos de atuação.
A responsabilidade com a chefia do lar, com os filhos e filhas, e com o trabalho faz com que muitas dessas mulheres se ausentem da atuação nos movimentos sociais, o que gera um movimento de indas e vindas, de saída e de retorno. Esse movimento dificilmente acontece com os homens, o que nos mostra como raça e gênero como categorias articuladas criam um campo de exclusão até mesmo dentro dos próprias organizações.
Essa realidade enfrentada pelas mulheres negras atingiu a maior parte das organizações existentes, e acredito que, mesmo que muitas dessas organizações tenham avançado nos utimos anos, a nossa retirada dos momentos da articulação política dificultou nosso constante processo de formação e logo a compreensão dos homens sobre as relações de gênero.
Nosso afastamento desqualificou a discussão articulada entre raça, gênero e classe dentro de organizações tradicionais do movimento negro. O movimento de retorno de nós mulheres negras que acontece constantemente é atingido pelo mal do machismo e sexismo que muitas vezes nos faz cair em um erro estratégico. E qual seria este erro? Quando nos deparamos com as ações machistas de nossos companheiros acabamos por dispor todas as nossas energias para discutir as relações de gênero por si só, sem articulá-la transversalmente com todas as questões que nos atingem cotidianamente, o que as vezes torna nossas discussões limitadas e sem grande impacto político.
Um exemplo disso é quando passamos horas em discussões reivindicando espaços para nós mulheres, e essas discussões são tão desgastantes que acabamos não tendo tempo para nos preparar para ocupar esses espaços. E porque não nos preparamos? Porque dedicamos muito tempo para discutir as relações de gênero em si e pouco ou nenhum tempo para discutir gênero transversalmente.
E o que seria discutir gênero transversalmente? Se gênero e raça são categorias estruturantes e nos condicionam a tal realidade de exclusão, vamos manipular essas categorias em nosso favor nas discussões sobre economia, reparações, políticas públicas, Estado, poder, ideologia, representação simbólica e etc, e começar a desmantelar essas estruturas. Assim, construímos uma discussão qualificada como nos ensinou o feminismo negro e retomamos os espaços de liderança como já fazemos desde o Brasil colonial.
Se assim fizermos, não precisaremos reivindicar nosso espaço pelo grito, mas pelo impacto político de nossas discussões, para os quais estamos bem preparadas. Somente nós poderemos fazer nossos companheiros enxergar as dimensões das relações de gênero dentro do movimento negro, mas para isso precisamos discutir essas categoria como estruturante assim como fazemos com o racismo.

A formação nesse momento seria a nossa principal ferramenta.

África

Grupo musical Palavra é uma boa dica para trabalhar a Cultura África.
Inserção do assunto de forma divertida e encantadora.