É um conjunto de políticas que compreendem que, na prática, as pessoas
não são tratadas igualmente e, consequentemente, não possuem as mesmas
oportunidades, o que impede o acesso destas a locais de produção de
conhecimento e de negociação de poder. Este processo discriminatório
atinge de forma negativa pessoas que são marcadas por estereótipos que
as consolidam socialmente como inferiores, incapazes, degeneradas, etc.,
alocando-as em situações de sub-cidadania e precariedade civil. Dito de
outra forma, o racismo, o machismo, a xenofobia, a homofobia, entre
outras ideologias discriminatórias, vincularam e vinculam determinadas
pessoas à características coletivas e pejorativas que as impedem de
receber prestígio, respeito e valoração social como um indivíduo
qualquer, por meio de discriminações, que na maioria das vezes, são
executadas indiretamente, ou seja,“por baixo dos panos”, nos bastidores,
sem testemunhas e alarde. Imagine, por exemplo, uma executiva
competente que não é promovida na empresa em que trabalha porque o fato
de ser mulher atrapalharia o “clima” masculino já estabelecido entre os
diretores. Ou um ótimo professor que é demitido porque descobriram ou
desconfiam que ele tenha um namorado. Ou um jovem negro que não foi
admitido na seleção de emprego porque consideraram que ele não tem a
“boa aparência” desejada. O que estas situações têm em comum? Além de
retratarem os processos discriminatórios citados acima, são ocorrências
que dificilmente serão comprovadas e penalizadas, pois os responsáveis
por elas contornarão o machismo, a homofobia, o racismo que as
fundamentam e darão diversas explicações supostamente neutras e
naturalizadas para suas decisões. Entretanto, todos sabem que estas
situações ocorrem diariamente e prejudicam a vida de inúmeras pessoas
que não correspondem ao padrão eurocentrado (masculino, branco, cristão,
heterossexual, fisicamente capaz, etc.) estipulado socialmente como
normal e superior. Diante disso, o que fazer para transformar esta
realidade? Foi exatamente com intuito de responder esta pergunta que a
Ação Afirmativa surgiu. A Ação Afirmativa é um conjunto de políticas que
tem como objetivo combater práticas discriminatórias e equacionar suas
conseqüências na medida em que possibilita que pessoas marcadas por
estereótipos coletivos e negativos acessem posições de poder, que
historicamente lhes foram cerceadas. Sendo assim, são medidas especiais,
porque agem focadas nos grupos marginalizados. E temporárias, pois
possuem objetivos determinados que quando alcançados tornam-nas
desnecessárias. E podem ser elaboradas e executadas pelo Estado e/ou
pela iniciativa privada de maneira compulsória ou espontânea. Há
inúmeras experiências de políticas afirmativas em todo mundo (Índia,
Malásia , África do Sul, Gana, Guiné, Argentina, Paraguai, Bolívia,
Peru, Equador, México, Brasil, entre outros) com critérios variados
como, por exemplo, casta, deficiência física, descendência, etnia,
gênero, nacionalidade, raça, etc. O próprio Brasil possui um histórico
de políticas de cunho afirmativo: a Lei dos Dois Terços (5.452/1943) do
governo Getúlio Vargas, a Lei do Boi (5465/1968) que reservou vagas nas
instituições de ensino - médio e superior - agrícolas para agricultores e
filhos destes, a Lei 8.112/1990 que prescreve cotas para portadores de
deficiências físicas no serviço público civil da União, a Lei 9.504/1997
que preconiza cotas para mulheres nas candidaturas partidárias, entre
outras. Entretanto a medida mais polemizada é o sistema de cotas para
negros e negras em instituições de ensino superior (IES). Que desde 2003
já possibilitou dezenas de milhares de vagas em mais de cinqüenta IES
em todo país. Outra medida afirmativa em vigor em nosso país é a Lei
11.639/03, que modificou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional obrigando o ensino da história e da cultura africana e
afro-brasileira em todo sistema educacional brasileiro, seja público ou
privado. Por fim, ficam as palavras do Ministro do Supremo Tribunal
Federal, Joaquim Benedito Barbosa Gomes, sobre o potencial transformador
da Ação Afirmativa. “Entre os objetivos almejados com as políticas
afirmativas está o de induzir transformações de ordem cultural,
pedagógica e psicológica aptas a subtrair do imaginário coletivo a idéia
de supremacia e subordinação de uma raça em relação a outra.”
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