Você encontra aqui conteúdos da disciplina História e Cultura Afro- Brasileira para estudos e pesquisas, como também, assuntos relacionados à Política, Religião, Saúde, Educação, Gênero e Sociedade.
Enfim assuntos sobre o passado e sobre nosso cotidiano relacionado à História do Brasil e do Mundo.








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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Educação Inclusiva

Direito de todos!!!


Curso Humanas!!!


Professoras de História do Colégio Estadual Padre José Vasconcelos e a Equipe do Grupo Humanas.

Consciência Pan-Africanista

A história negra contra a dominação branca em todo o mundo sempre trilhou por dois caminhos. Ou o caminho da integração do povo negro na sociedade dominante (branca), ou o caminho pela libertação do povo negro desta sociedade (autodeterminação racial). Este último caminho é o que caracteriza elementarmente a história do internacionalismo negro, ou, em outras palavras, do pan-africanismo.
No Brasil, as ações racistas da elite branca sempre foram de controlar a nossa comunidade, tanto fisicamente (através do extermínio e da miscigenação compulsória), quanto ideologicamente. Assim, é que as ideologias libertárias do povo preto, oriundas do movimento pan-africanista, sempre foram controladas pelos brancos para não permearem solo brasileiro e influenciarem diretamente a luta do povo preto, visto que aqui existe uma imensa maioria de pessoas de origem africana, podendo assim incentivar estas a uma tomada de posição ideológica e política com vistas à concretização de um estado nacional negro.A ação racista dos brancos, através do poder de controle ideológico, chegou influenciar significativamente os rumos ideológicos do movimento negro aqui no Brasil, sendo que a nossa referência de luta, em uma intensidade extraordinária, devida em parte a manipulação branca, está no movimento integracionista negro oriundo da história dos “Direitos Civis” dos irmãos e irmãs nos Estados Unidos, sendo raras as organizações e militantes que compreendem a questão racial de forma diferente. O controle ideológico por parte dos racistas não permitiu a difusão maciça, no seio afro-“brasileiro”, do outro lado ideológico da nossa luta internacionalista.

Por isso, as ideologias da autodeterminação consciente (libertação negra), da auto-gestão negra (a comunidade negra fazendo por ela mesma e criando suas instituições sociais), do internacionalismo negro (solidariedade e unidade negra mundial) e do Poder Negro, surgidas no seio do movimento negro contemporâneo, sempre foram boicotadas.Por conseqüência desse boicote ideológico patrocinado pelos racistas, e pela sua investida em direcionar ideologicamente nossa gente pelo caminho da submissão, acredito que o(s) movimento(s) negro(s) no Brasil, no geral, só trilha por um caminho: o da legitimação do Poder Branco e da consolidação do sistema branco de exploração do homem pelo homem.

A reprodução dos discursos de uma democracia anti-revolucionária, de concepção branco-dominante e burguês-exploratória, no nosso meio, é um elemento alienante das nossas lideranças e organizações, que acreditam ingenuamente que só por uma interpelação moral aos “donos do poder” iremos modificar as estruturas básicas das relações humanas da sociedade capitalista, criando uma sociedade justa e equilibrada.Esse discurso de “busca por uma democracia perfeita”, onde todos os grupos sociais teriam oportunidade na sociedade e no poder estabelecido, que se abate sobre toda comunidade, nada mais é do que uma nova ideologia de dominação para alienar e sufocar os movimentos subversivos, pois as pessoas estão cerceadas pela ideologia de que vivemos numa sociedade democrática onde as leis e o estado garantirão o bem comum.

Pan Africanismo



Pan-africanismo é o nome dado a uma ideologia que acredita que a união dos povos de todos os países do continente africano na luta contra o preconceito racial e os problemas sociais é uma alternativa para tentar resolvê-los. A partir dessa ideologia foi criada a Organização de Unidade Africana (1963), que tem sido divulgada e apoiada, majoritariamente, por afrodescendentes que vivem fora da África. Dentre as propostas da ideologia está a estruturação social do continente por meio de um remanejamento étnico na África, unindo grupos separados e separando grupos rivais, por exemplo, tendo em vista que isso aconteceu pela divisão continental imposta pelos colonizadores europeus. Além do resgate de práticas religiosas, como culto aos ancestrais e incentivo ao uso de línguas nativas, anteriormente proibidos pelos colonizadores.
Na realidade, o pan-africanismo é um movimento de caráter social, filosófico e político, que visa promover a defesa dos direitos do povo africano, constituindo um único Estado soberano para africanos que vivem ou não na África. Os principais idealizadores da teoria pan-africanista foram Edward Burghardt Du Bois e Marcus Musiah Garvey. No ano de 2002 instituiu-se de maneira oficial a União Africana em substituição à Organização da Unidade Africana. No ano seguinte, a união tomou iniciativas agressivas em relação a possíveis soluções para as crises da região, além de incentivar a integração entre os países.
O objetivo da União Africana é implantar um continente livre para a circulação de pessoas, um Parlamento continental, um tribunal pan-africano e um Banco Central, para que no futuro possa circular uma moeda única, intenções pautadas nos moldes da União Europeia. O fortalecimento da África no século XXI requer um enorme esforço, tendo em vista que o continente é assolado pela pobreza, miséria, guerras, doenças, corrupção. Portanto, erguer esse continente é um grande desafio e por isso o agrupamento dos países pode trazer resultados positivos.

domingo, 22 de agosto de 2010

DVD A cor do Racismo Grupo Humanas!

Em breve em cartaz mais um excelente documentário produzido pelo Grupo Humanas.

DVD África e Africanidades do Grupo Humanas

África e Africanidades, o dvd trata da Geografia, História, Arte Literatura e Cultura do continente de onde veio a maioria dos brasileiros. O documentário nos faz refletir sobre o que se entende por África. E o melhor: sem deixar de abordar a injustiça sofrida com a escravidão, até hoje uma vergonha no nosso país. Uma ponte entre Bahia e África, ou ‘BahiÁfrica’ é a síntese do documentário feito por professores do Grupo Humanas (Ricardo Carvalho (História), Zé Carlos Bastos (Português) e Yomar Seixas (Geografia).

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Conjuração dos Búzios


A CONJURAÇÃO BAIANA DE 1798

REVOLTA DOS BÚZIOS

LIBERDADE, FRATERNIDADE, IGUALDADE

A segunda metade do século XVIII é marcada por profundas transformações na história, que assinalam a crise do Antigo Regime europeu e de seu desdobramento na América, o Antigo Sistema Colonial. No Brasil, os princípios iluministas e a independência dos Estados Unidos, já tinham influenciado a Inconfidência Mineira em 1789. Os ideais de liberdade e igualdade se contrastavam com a precária condição de vida do povo, sendo que, a elevada carga tributária e a escassez de alimentos, tornavam ainda mais grave o quadro sócio-econômico do Brasil. Este contexto será responsável por uma série de motins e ações extremadas dos setores mais pobres da população baiana, que em 1797 promoveu vários saques em estabelecimentos comerciais por-tugueses de Salvador. Nessa conjuntura de crise, foi fundada em Salvador a “Academia dos Renascidos”, uma associação literária que discutia os ideais do iluminismo e os problemas sociais que afetavam a população. Essa associação tinha sido criada pela loja maçônica “Cavaleiros da Luz”, da qual participavam nomes ilustres da região, como o doutor Cipriano Barata e o professor Francisco Muniz Barreto, entre outros. A conspiração para o movimento, surgiu com as discussões promovidas por esta Academia e contou com a participação de pequenos comerciantes, soldados, artesãos, alfaiates, negros libertos e mulatos, caracterizando-se assim, como um dos primeiros movimentos populares da História do Brasil. As inflamadas discussões na “Academia dos Renascidos” resultarão na Conjuração Baiana em 1798. A participação popular e o objetivo de emancipar a colônia e abolir a escravidão, marcam uma diferença qualitativa desse movimento em relação à Inconfidência Mineira, que marcada por uma composição social mais elitista, não se posicionou formalmente em relação ao escravismo. O movimento revolucionário baiano de 1798, mais conhecido como a Revolta dos Alfaiates ou Revolta dos Búzios, é um dos mais amplos, do ponto de vista político, econômico e social ocorridos no Brasil-Colônia. Segundo os historiadores Tavares (1999) e István (1975), até o final do século XVIII, nenhum movimento político no Brasil possuíra um programa tão amplo, com penetração tão profunda nas classes e camadas sociais, quanto este.

A CONVOCAÇÃO PELOS REVOLUCIONÁRIOS

Com fundamental participação de escravos e seus descendentes, pretos e pardos, soldados, pequenos comerciantes, artesãos – com um grande número de alfaiates - o movimento discutia os caminhos para o Brasil livre da tutela portuguesa, tornando-se uma república democrática, na qual a cor da pele não fosse razão para discriminação. Entre as lideranças do movimento, destacaram-se os alfaiates João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino dos Santos Lira (este com apenas 18 anos de idade), além dos soldados Lucas Dantas e Luiz Gonzaga das Virgens, todos mulatos. Um outro destaque desse movimento foi a participação de mulheres negras, como as forras Ana Romana e Domingas Maria do Nascimento, Luiza Francisca de Araújo, Lucrecia Maria Gercent e Vicência.

Panfleto da revolta de 1798 Arquivo Público da Bahia

Assim, em agosto de 1798 começam a aparecer nas portas de igrejas e casas da Bahia, panfletos que pregavam um levante geral e a instalação de um governo democrático, livre e independente do poder metropolitano. Em 12 de agosto de 1798, os conspiradores colocaram nos muros da cidade papéis manuscritos chamando a população à luta e proclamando idéias de liberdade, igualdade, fraternidade e República: “está para chegar o tempo feliz da nossa liberdade: o tempo em que seremos irmãos: o tempo em que todos seremos iguais”; ...”Homens o tempo é xegado para vossa ressurreição, sim para que ressuscitareis do abismo da escravidão, para que levantareis a sagrada Bandeira da Liberdade”.

A REPRESSÃO:PRISÕES, DEGREDO E ENFORCAMENTOS

Uma terrível repressão tomou conta da Cidade do Salvador. A repressão ao movimento foi das mais violentas, com a execução de quatro revolucionários baianos, enforcados na Praça da Piedade. A violenta repressão metropolitana conseguiu deter o movimento, que apenas iniciava-se, detendo e torturando os primeiros suspeitos. Governava a Bahia nessa época (1788-1801) D. Fernando José de Portugal e Castro, que encarregou o coronel Alexandre Teotônio de Souza de surpreender os revoltosos. Com as delações, os principais líderes foram presos e o movimento, que não chegou a se concretizar, foi totalmente desarticulado. Após o processo de julgamento, os mais pobres como Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus do Nascimento e os mulatos Luiz Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas foram condenados à morte por enforcamento, sendo executados na Praça da Piedade a 8 de novembro de 1799. Outros, como Cipriano Barata, o tenente Hernógenes d’Aguilar e o professor Francisco Moniz foram absolvidos. Os pobres Inácio da Silva Pimentel, Romão Pinheiro, José Félix, Inácio Pires, Manuel José e Luiz de França Pires, foram acusados de envolvimento “grave”, recebendo pena de prisão perpétua ou degredo na África. Já os elementos pertencentes à loja maçônica “Cavaleiros da Luz” foram absolvidos deixando clara que a pena pela condenação, correspondia à condição sócio-econômica e à origem racial dos condenados. A extrema dureza na condenação aos mais pobres, que eram negros e mulatos, é atribuída ao temor de que se repetissem no Brasil as rebeliões de negros e mulatos que, na mesma época, atingiam as Antilhas. Todos os enforcados eram pardos, jovens, sendo dois soldados e dois alfaiates. Os heróis e mártires da Revolução foram: Manuel Faustino dos Santos Lira, pardo, forro, alfaiate, 18 anos; Lucas Dantas de Amorim Torres, pardo, liberto, soldado e marceneiro, 24 anos; João de Deus do Nascimento, pardo, livre, alfaiate, 27 anos; Luiz Gonzaga, pardo, livre, soldado, 36 anos. O pardo, escravo, lavrante, 32 anos, Luis Pires, escapou de ser preso. Seria enforcado.Também Pedro Leão de Aguillar Pantoja, branco, pequeno comerciante, que seria preso e degregado para a África. Muitos foram degredados para a África e Fernando de Noronha. Outros revolucionários tiveram penas de prisão e entre eles estão cinco mulheres: Luiza Francisca de Araújo, parda, 30 anos, mulher de João de Deus; Lucréia Maria Gercent, crioula, forra; Domingas Maria do Nascimento, parda, forra; Ana Romana Lopes, parda, forra; Vicência, crioula, forra. Houve 45 pessoas presas entre homens e mulheres, só nos três primeiros meses de repressão policial.

REFLEXÕES


A Revolta dos Alfaiates, como vimos, foi fortemente influenciada pela fase popular da Revolução Francesa, quando os jacobinos liderados por Robespierre conseguiram, apesar da ditadura política, importantes avanços sociais em benefício das camadas populares, como o sufrágio universal, ensino gratuito e abolição da escravidão nas colônias francesas. Essas conquistas, principalmente essa última influenciaram outros movimentos de independência na América Latina, destacando-se a luta por uma República abolicionista no Haiti e em São Domingos, acompanhada de liberdade no comércio, do fim dos privilégios políticos e sociais, da punição aos membros do clero contrário as liberdades e conquistas populares. Se a singularidade da Inconfidência de Mineira está em seu sentido pioneiro, já que apesar de todos seus limites, foi o primeiro movimento social de caráter republicano em nossa história, a Conjuração Baiana, mais ampla em sua composição social, apresenta o componente popular que irá direcioná-la para uma proposta também mais ampla, incluindo a abolição da escravatura. Eis aí a singularidade da Conjuração Baiana, que também é pioneira, por apresentar pela primeira vez em nossa história elementos das camadas populares articulados para conquista de uma república abolicionista.Contudo, completados 200 anos em 1998, é um fato completamente desconhecido do público e/ou ocultado pelas elites. Isso nos remete a Perrot (1992)(1) , quando analisa os excluídos da história francesa: os operários, as mulheres e os prisioneiros. E, no caso brasileiro, acrescentaríamos: os povos negros e indígenas, principalmente. É, pois, fundamental popularizar as lutas sociais que tanto engrandecem o povo e o inspira na luta por uma sociedade de fato igualitária como desejaram e lutaram nossos ancestrais, inclusive das rebeliões ocorridas no século 19 e posteriores.


Texto baseado em TAVARES, Luis Henrique. O Movimento Revolucionário Baiano, JANCSÓ, István. Contradições, tensões, conflito: A Inconfidência Baiana de 1798; MOURA, Clovis. Rebeliões na senzala e Anais do Arquivo Público da Bahia – Vols: XXXV e XXXVI.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

BOLETIM DA REVOLTA DOS BÚZIOS


AVISO AO POVO BAHIENSE

“BOLETIM DA REVOLTA DOS BÚZIOS”


Ó vós Homens cidadãos; ó vós Povoscurvados, e abandonados pelo Rei, pelos seus despotismos, pelos seus Ministros.
Ó vós povo que nascesteis para sereis livre e para gozares dos bons efeitos da Liberdade, ó vós Povos que viveis flagelados com o pleno poder do indigno coroado, esse mesmo rei que vós criastes; esse mesmo rei tirano é quem se firma no trono para vos deixar, para vos roubar e para vos maltratar.
Homens, o tempo é chegado para a vossa ressurreição, sim para ressuscitareis do abismo da escravidão, para levantareis a sagrada Bandeira da Liberdade.
A liberdade consiste no estado feliz, no estado livre do abatimento; a liberdade é a doçura da vida, o descanso do homem com igual paralelo de uns para outros, finalmente a liberdade é o repouso e a bem aventurança do mundo.
A França está cada vez mais exaltada, a Alemanha já lhe dobrou o joelho, Castela só aspira a sua aliança, Roma já vive anexa, o Pontífice está abandonado, e desterrado; o rei da Prússia está preso pelo seu próprio povo, as nações do mundo todas têm seus olhos fixos na França, a liberdade é agradável para todos; é tempo povo, povo o tempo é chegado para vós defendereis a vossa Liberdade; o dia da nossa revolução; da nossa Liberdade e de nossa felicidade está para chegar, animai-vos que sereis felizes.

Panfleto revolucionário que apareceu afixado em
diversas partes de Salvador, em 1/08/798